Como articular pensamento, escuta e fala na prática educativa e pastoral? Vamos tecer algumas ideias e considerações que, certamente, terão como destinatárias aquelas pessoas que orbitam os ambientes formais da educação: a escola com seus educadores e estudantes.
Iniciamos, contudo, propondo o tema do “silenciar”. Ponto de partida para o exercício do conhecimento de si mesmo, fonte de todo o conhecimento, segundo antiga tradição filosófica. Silenciar é uma autêntica sabedoria, atestada no tesouro herdado de culturas milenares e tradições religiosas: silenciar é uma via que nos permite, mesmo quando ainda é algo simples e superficial, dar-nos conta de nós mesmos. Não há oração (pessoal ou comunitária), prática espiritual ou de meditação e contemplação (e, por que não dizer, não há aula ou produção e aquisição de conhecimentos) que se iniciem sem um gesto e convite ao silêncio interior.
Pelo silenciar a si mesmo, as sensações que transitam por nosso corpo, concatenadas ao ritmo da respiração e aos numerosos pensamentos que nos habitam e passeiam pela mente são percebidos, possibilitando uma acolhida serena dessas moções e movimentações interiores, aceitando-as e mesmo as serenando. Não à toa, no espaço educativo da sala de aula, professores e estudantes sabem com clareza: a aula só começa, o conhecer só se torna viável de ser partilhado com o ambiente adequado para tal, com corações e mentes minimamente atentos, com o pensamento e a vontade situados no momento e espaço presentes, corpos relativamente confortáveis, ocupando espaços apropriados e geralmente assentados. Com essas condições preenchidas, a aula começa, os saberes são partilhados e geram-se novos pensamentos, conexões e reflexões. Caso contrário, restam os barulhos, ruídos, distrações, conversas paralelas e resultados aquém das expectativas, além de muita energia despendida sem uma direção acertada.
É útil a todo estudante começar o dia de estudos verificando sua agenda, colocando-se de modo consciente em relação às matérias, conteúdos, aulas do cronograma ou, numa linguagem mais atualizada, passando a limpo o check-in daquilo que está previsto para o dia. Isso já introduz certa sintonia com os afazeres, trazendo foco e atenção, favorecendo a presença atenciosa aos temas, conceitos, atividades propostas, predispondo a vontade e a determinação em tomar parte ativamente do momento presente, com suas informações novas e conhecimentos construídos e adquiridos no conjunto das atividades em aula.
Estudar é um ato da vontade! Criando as condições favoráveis para essa vontade autodeterminada, o pensamento se orienta melhor e adere com mais ênfase aos objetivos do conhecimento, evitando ficar à deriva de distrações diversas que sempre se apresentam ao longo das atividades escolares e são, de certo modo, algo normal e comum, com os quais lidamos diariamente.
O exercício e a prática do silêncio interior, como fonte de conhecimento de si mesmo, ampliam e favorecem, de algum modo, a capacidade de escuta do outro. Fala-se muito em “comunicação não violenta” ou comunicação empática, entendendo-se, com isso, que há modos de nos comunicarmos, utilizando palavras, expressões, tons de voz e atitudes que favorecem a comunicação entre as pessoas e salvaguardam o respeito e até mesmo a compreensão e sensibilidade necessárias entre os interlocutores.
Mais que uma técnica ou escolha de palavras, a comunicação tem empatia quando considera que as pessoas afetam umas às outras e elas estão, portanto, inseridas num círculo ético e afetuoso. Podemos dizer tudo, considerando a necessidade de compreender que aquilo que foi dito seja comunicado com responsabilidade própria (sem culpabilizar o outro), considerando o interlocutor como um agente da comunicação, transmitindo as ideias com respeito, honestidade e verdade.
Promover a escuta e a comunicação com empatia constitui prática imensamente valiosa no âmbito da educação e das ações pastorais. Aliás, pode-se afirmar que escutar e se comunicar com empatia são práticas, em si mesmas, de teor pastoral, pois se situam e seguem a inspiração de Jesus, que falava às multidões e a cada um utilizando-se de uma comunicação que fazia “arder os corações”. Suas palavras eram ditas com autoridade, reconhecidas e atestadas por sua prática e seu jeito de ser.
Jesus se colocava voluntariamente à disposição e atitude de escuta de quem se aproximava dele, quer seja para pedir por saúde e bem-estar, ou a partir de um gesto de conversão. Igualmente escutava aqueles que se aproximavam por curiosidade em vista dos chamados milagres realizados por ele, ou até mesmo quando o interrogavam apenas para testar seus conhecimentos e sua fidelidade à Lei de Moisés e aos costumes do Templo. Invariavelmente, Jesus ouvia/escutava as pessoas, dedicando-lhes tempo e atenção. Por diversas vezes, é dito sobre ele nos evangelhos: sentia compaixão dessas pessoas, alegrava-se com elas por acolherem o evangelho e as exortava, procurando e até encontrando nelas algo de melhor, alguma abertura para acolherem a si mesmas, o outro e à própria experiência de Deus por ele revelada.
Por fim, ainda vale dizer: saímos há pouco de uma pandemia global de covid-19, cujos efeitos continuam sendo estudados e compreendidos. Ela nos afetou a todos, de modos diferentes. Passamos por medos, dúvidas, perdas, restrições e muitas sensações e sentimentos contundentes e confusos. A pandemia, como fenômeno biológico, passou, mas seus efeitos ainda são sentidos nos espaços de convivência e aprendizagens (famílias, escolas, igrejas, grupos de amizades e interações sociais). Pais e mães, crianças, adolescentes e jovens, professores e demais profissionais das escolas, agentes de pastoral nas comunidades e igrejas ainda lidam com esses efeitos. Temos ansiedades e fragilidades diversas ainda atuantes nas vidas de tantas pessoas. Dificuldades econômicas, emocionais e até mesmo correlacionadas à saúde do corpo e da mente.
Um tempo que nos convida ao cuidado com a vida e com o bem-estar de si mesmo e do outro. Um tempo, portanto, de escuta redobrada das palavras que são ditas e que saem das bocas vindas diretamente dos corações, como um pedido de solidariedade, e até mesmo daquelas que não são proferidas, mas se manifestam nos sinais, comportamentos, lacunas e vazios que esperam ser preenchidos com afeto, empatia, solidariedade e compaixão. Que nossas palavras e escutas, que nossos pensamentos nos movam na mesma direção, fazendo-nos aptos a acolher os que lidam com dificuldades diversas, encorajando-os em busca da superação e de uma vida mais plena e satisfatória!
Jean Carlos de Araújo Ferreira
Professor e pastoralista no Colégio Sagrado Coração de Jesus, em Belo Horizonte-MG.