Estado laico e diálogo religioso

Todos nós sabemos que as religiões surgiram em meio a mistérios e polêmicas. Cada povo tem suas crenças que, em comum, transmitem valores e códigos sociais. Mas, por que, desde a Antiguidade, há tanta guerra envolvendo crenças religiosas?

Desde os tempos das civilizações antigas, as divindades são invocadas para proteger, ganhar guerras, alcançar conquistas e, ou, obter vitórias. Muitas mortes inocentes aconteceram e, ainda hoje, em pleno século XXI, ocorrem mal-entendidos. Como ser tolerante e buscar o respeito com a religião do outro? Embora tenhamos um pequeno avanço na humanidade em relação à tolerância religiosa, ainda existem o preconceito, a discriminação, o fanatismo.

Desde o início do cristianismo, a perseguição aos seguidores de Jesus ou simpatizantes levou muitos ao martírio, acusados de traírem o Império Romano. Este acreditava que o imperador era o filho enviado de um de seus deuses. Conforme o Estado monárquico se tornou adepto da religião cristã, toda autoridade era considerada escolhida por Deus e, por isso, vitalícia. E aí “a religião do rei passou a ser a religião do povo”. Cruzadas em nome de Deus passaram a conquistar novas terras, desvirtuando práticas evangélicas, o que ocasionou um cisma dentro da própria Igreja cristã, como historicamente aprendemos, no fim do Período Medieval, com a Reforma e a Contrarreforma.

Em busca da paz entre os povos, a tolerância religiosa passou a ser defendida por um grupo de filósofos modernos que combatia o absolutismo. Um dos representantes foi o inglês John Locke (XVII). Este propôs a necessidade de um Estado laico ou civitas.

Para uma civilização crescer e se desenvolver, é necessário o respeito para com todos. No Estado republicano ou laico, o direito positivo substitui as leis divinas, geralmente predomina apenas de uma determinada crença. O direito natural à vida, à liberdade e à segurança passa a ser garantido por uma Constituição que acolhe todas as crenças religiosas e respeita, também, os que se dizem agnósticos quanto ao Transcendente. O espaço para a diversidade em todas as dimensões, seja ela cultural, social, econômica ou política, seria para garantir a igualdade e a liberdade.

No Brasil, a Proclamação da República, que se deu em 15 de novembro de 1889, já encontrou uma nação plural, isto é, com uma diversidade imensa de culturas. As rebeliões quilombolas em defesa de povos indígenas e dos negros, dos pobres colonos rurais já alertavam para a falta de tolerância.

Depois de muitos séculos, as reivindicações dos brasileiros afrodescendentes tornaram o Dia da Consciência Negra também um grito importante para combater o desrespeito referente às religiões afro-brasileiras. Por isso, a necessidade de uma educação emancipada para todos é fundamental para construir um país consciente de seus direitos e deveres, democrático, onde a diversidade cultural, o diálogo religioso deveriam ser uma prática constante da cidadania. No Brasil, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2010, nós, brasileiros, somos de maioria cristã.

Por que a intolerância com a crença do outro? Sejamos ecumênicos! Pratiquemos o bem uns com os outros, vivamos a fraternidade, para, assim, construirmos um Estado de paz.

Maria Terezinha Corrêa

Mestra em Antropologia, especialista em Ensino de Filosofia, graduada em Filosofia e Pedagogia, cursou Teologia pelo Mater Ecclesiae, filiada à ABA, APEOESP e SBPC, atualmente é professora de Filosofia na Prefeitura de São José-SC, membro da Comissão de Prevenção e Combate à Tortura pela ALESC, voluntária na Pastoral da Pessoa Idosa, ligada à Arquidiocese de Florianópolis, e membro da diretoria da APROFFIB.

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