Vivemos tempos desafiantes.
Nunca antes vi nem vivi nada parecido.
De tudo, somado o assustador, o patético, o impactante, o alentador, o dolorido, o que acalma, o que assombra, misturado ao que virá, restam muitas emoções.
Um certo mal-estar que insiste em zumbir o dia todo, aliado a momentos de encantamento pela simplicidade das coisas cotidianas.
Aos que não podem estar em casa por suas ocupações essenciais, meus agradecimentos.
Aos que não podem ficar em casa porque a vida urge e as desigualdades se agigantam, nossa solidariedade e compromisso de não desistir de mudar as coisas como elas estão.
Aos que podem ficar em casa, um alento e a certeza de que estamos fazendo a coisa certa, mesmo nesse ambiente de tantas incertezas.
Certo é que nada será como antes, e vem aí um “novo normal” que nenhum de nós sabe ao certo o que será.
Certo é, também, que há coisas que são perenes e permanentes.
Mais especificamente, digo das coisas vividas e desejadas.
É com esse arsenal particular e subjetivo que vamos nos superar e fazer planos pra (quando) a pandemia passar.
Digo da memória viva dos nossos afetos, digo da memória crítica para reinventar o que foi vivido até aqui.
Não é nem o caso de escolher muita coisa para mudar.
É deixar agigantar-se o que há de bom em nós…
Que nossa generosidade nos surpreenda com atos concretos e solidários.
Que aqueles abraços não dados fiquem na ponta dos dedos, prestes a encontrar outros braços abertos.
Que nossa fé e espiritualidade nos guie para o campo fértil da crença fortuita e gratuita.
Que o volume do som quase estoure os tímpanos com sua música preferida.
Que a natureza siga nos inspirando em cada flor que nasce, em cada rebento.
Que o perdão encontre o caminho e construa pontes.
Que sejamos presença mesmo na distância.
Que a gente seja criativa para se fazer presente mesmo na distância.
Que nossa indignação nunca se apague.
Que se agigante o que há de bom em nós…
Só assim a impaciência, a desesperança, o desencantamento, a angústia e aquele mal-estar vão ganhando proporções de um componente paradoxal e essencial, e que não nos imobiliza.
Estou me guardando para (quando) a pandemia passar…
Maria José Brant (Deka), assistente social, analista de políticas públicas na Prefeitura de Belo Horizonte, mestra em Gestão Social, mosaicista nas horas vagas.