Estudantes debatem conflitos no Morro do Alemão

O conflito do Morro do Alemão, no Rio de Janeiro-RJ, mobilizou alunos do Colégio Sagrado Coração de Jesus e de diversas escolas de Ensino Médio e universidades de Belo Horizonte e do interior de Minas Gerais, num total de 200 estudantes que participaram da SIS – Simulação Intercolegial do Sagrado, no dia 31 de agosto.

A SIS faz parte do projeto pedagógico do colégio e, segundo a aluna Ana Luiza Araújo, “é um projeto criado e organizado pelos estudantes do Ensino Médio, no qual eles têm a oportunidade de mergulhar no excitante mundo diplomático”. Ela explica que os estudantes se organizam em comitês, criando um ambiente de simulação de organismos internacionais ou instituições nacionais, e se transformam em delegados para discutir temas relevantes da agenda nacional e internacional.

Nesse processo, os alunos debatem, pactuam, articulam, deliberam, criam consensos e propostas de resolução para os temas em questão. Por isso a Simulação Intercolegial do Sagrado é uma oportunidade para aprimorar conhecimentos e a capacidade de relacionamento, diálogo e gerência do imprevisto. 

Neste ano, a 2ª edição da SIS organizou seis comitês, cada um com um tema: questões indígenas; antirrevolucionários durante a Revolução Francesa; crime organizado; segurança marítima; crise e intervenção na imprensa e o conflito no Morro do Alemão.

Emoção no relato de moradoras

O workshop sobre o conflito no Morro do Alemão teve destaque na SIS com o depoimento da Ir. Maria de Fátima Marques, presidente da Rede de Educação Missionárias Servas do Espírito Santo, Gilmara Soledade dos Santos, coordenadora educacional do Centro de Educação Infantil Madre Josefa e Paula da Silva Alves, moradora do Morro do Alemão.

Paula e Gilmara, do Morro do Alemão (ao centro) ao lado das Irmãs Juliana de Andrade, Maria de Fátima e Ashrita Soreng (a direita)

Elas narraram a chegada das irmãs missionárias servas do Espírito Santo na Serra da Misericórdia logo após um desastre ambiental que destruiu as casas. De forma imediata e comunitária, elas procuraram ajudar os moradores a reconstruírem suas vidas. Entre as muitas dificuldades que eles enfrentavam, as irmãs assumiram a necessidade de creches para atender às mães que trabalhavam fora e deram início à creche Madre Josefa.

Os depoimentos de Irmã Fátima, Gilmara e Paula sobre o antes e o depois do conflito, “carregados de sentimento, já cativaram o coração dos diretores do comitê” conta Fernanda Ferreti, diretora assistente do comitê e estudante de veterinária da UFMG. Segundo ela “foi impossível conter o choro” durante o diálogo com os delegados.

Fernanda conta que as convidadas relataram que o sentimento de esperança, que veio junto com a intervenção de 2010, deu lugar ao abandono ao fim das comemorações da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, ambas sediadas na capital fluminense. Dessa forma, a entrada da segurança pública no Morro do Alemão, por não ter sido acompanhada de políticas públicas de inclusão social, foi descrita como midiática.

Segundo as moradoras Gilmara e Paula, as forças de polícia deram lugar novamente ao tráfico, coexistindo em uma paz armada em todo o Complexo, deixando os moradores a mercê de acordos não divulgados e ainda mais insegurança. Para Paula, significou sobretudo, um afastamento de sua família e amigos, que já não podem visitar a sua casa no morro, além de determinar seu plano de vida: ter filhos somente após a concretização do sonho da casa própria, em outro bairro, fora do Morro do Alemão, onde nasceu e cresceu.

Gilmara partilhou ainda a dificuldade de educar crianças em meio a uma guerra: “como dar a esses jovens cidadãos esperança e, principalmente, mantê-los longe do tráfico de drogas?”

Experiência e aprendizado

Participar do SIS foi uma experiência enriquecedora tanto para as convidadas como para os estudantes. Paula, feliz por contribuir para a formação de caráter dos jovens comenta: foi “muito marcante, porque sempre senti vergonha em falar onde moro, mas quando vi o interesse dos alunos sem olhares preconceituosos ou de pena, a vergonha se transformou em orgulho”.

Amanda Antunes, do Colégio Santo Agostinho – Unidade Contagem, que nunca havia simulado em gabinete antes e estava com uma “expectativa altíssima”, relatou que “a atenção do secretariado, o apoio dos diretores e o ambiente tão leve fez da SIS uma simulação maravilhosa!”

Entusiasmada com o resultado, Fernanda diz que o workshop “foi um grandioso aprendizado” num ambiente de acolhimento e que abriu novas perspectivas para o futuro. Também animada com a experiência, a estudante Ana Luiza concluiu: “o workshop foi simplesmente incrível; os relatos aproximaram os delegados ao cenário do Complexo, explorando a empatia e sensibilidade de cada um, levando a uma simulação ainda mais especial”.

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