Vivemos numa sociedade repleta de diversidade. A cultura, a educação, a religião, a família, a política, a economia… E é nessa pluralidade que o leigo cristão vive sua vocação.
O leigo comprometido com uma sociedade mais humana começa, em sua própria família, a exercer seu chamado ao seguimento de Jesus, na vivência do respeito mútuo e numa relação de justiça e fraternidade na sociedade. É também a família cristã que descobre os meios de fortalecer sua fé na partilha dos desafios encontrados ao longo do dia, no trabalho, na escola ou com os amigos e, na oração, colocar tudo nas mãos do Deus da Vida.
Especialmente neste ano de 2020, quando fomos surpreendidos pela pandemia do novo coronavírus, a qual nos levou a mudar tantos hábitos e rever tantas atitudes em nossas vidas, nós, cristãos leigos e leigas, assumimos os mais variados desafios junto à Igreja de Cristo e à sociedade. Isolamento social, igrejas fechadas, comércio com horário reduzido, desemprego, hospitais com 100% de ocupação pela covid-19 e, ao mesmo tempo, pessoas desejosas de um coração solidário que lhes ofereça conforto, cesta básica e esperança.
Em meio a tudo isso, como leiga numa paróquia no Rio de Janeiro, membro da Pastoral da Comunicação, vi a Igreja se abrir a uma nova perspectiva que poderia levar Jesus a todos os que dele necessitassem, de um jeito novo. Uma Igreja que se mostrou tão viva como nas missas de domingo, uma Igreja que fazia Jesus presente em cada casa, pela transmissão da santa missa, e misericordiosa nas confissões em drive-thru ou nas missas celebradas no pátio de um hospital aqui no bairro.
Quero compartilhar com você algumas experiências neste tempo de pandemia que marcaram meus dias e minha vida. Tenho vivo em minha memória o dia em que eu e Alessandra, cristãs leigas da Pascom, transmitimos o cortejo de Jesus Eucarístico, no dia de Corpus Christi. As ruas vazias de gente, mas as casas abençoadas por Jesus. Era ali que Ele estava… Em cada casa, em cada coração, nos hospitais por onde passamos.
Os comentários nas redes sociais por onde transmitíamos eram cheios de emoção pela dor da perda de um ente querido ou pelo conforto de Jesus estar passando na sua porta. Uma música ficou impressa em nós… “Aonde mandar, eu irei. Seu amor eu não posso ocultar. Quero anunciar, para o mundo ouvir, que Jesus é o nosso Salvador!” (“Nossa missão”, de Adriana Arydes).
Vivenciamos um tempo que precisou e precisa de divulgação, das formas mais inovadas, para pedir doações, usando a tecnologia para continuar atendendo as famílias assistidas pela Pastoral Social. Todas as semanas, continuam chegando alimentos, material de higiene e limpeza. E todo aquele que doa não somente entrega os donativos, mas ajuda os irmãos necessitados a viverem com dignidade.
Creio ser esta a vocação do cristão leigo: “Em toda a sua ação no mundo, é necessário que o cristão saiba discernir as condições em que se encontra e a busca dos meios mais coerentes e eficazes de agir. Isto é tarefa permanente que solicita a atitude profunda de fé e o aprofundamento da razão” (Cristãos Leigos e leigas na Igreja e na sociedade, CNBB, Doc. 105, n. 244).
Para o cristão leigo, a conversão ocorre diariamente. “Esta conversão comporta várias atitudes que se conjugam para ativar um cuidado generoso e cheio de ternura. Em primeiro lugar, implica gratidão e gratuidade, ou seja, um reconhecimento do mundo como dom recebido do amor do Pai, que consequentemente provoca disposições gratuitas de renúncia e gestos generosos, mesmo que ninguém os veja nem agradeça” (Laudato Si’, n. 220).
Feliz e desafiador Dia Nacional dos Cristãos Leigos e Leigas!
Nanci Regis Queiroz Afonso, educadora, membro da Pascom na Paróquia São Marcelino Champagnat, Rio de Janeiro-RJ, Missionária Leiga de Deus Uno e Tino.