Quem nunca pediu algum tipo de ajuda a um parente? Todo brasileiro sabe que, nas horas mais difíceis, a família sempre dá aquele famoso jeitinho. Não nos referimos aqui apenas às famílias nucleares, obviamente, mas também às que não seguem o modelo tradicional. De acordo com as pesquisadoras Clarice Peixoto e Gleice M. Luz (professora e doutoranda da UERJ, respectivamente), a família desempenha um papel muito importante no Brasil, uma vez que as políticas sociais de apoio não são universais e as existentes são bastante precárias.
Situações como o desemprego, salários baixos, divórcio, viuvez, aposentadoria reduzida e renda baixa são comuns em nosso país e são fatores que afetam todo o grupo familiar. Por essa razão, tem aumentado a prática de coabitação, na qual, normalmente, pais passam a morar com filhos ou filhos retornam à casa paterna.
A coabitação é um sinal claro da solidariedade familiar, tão típica no caso brasileiro. Nas famílias em que diferentes gerações passam a dividir o mesmo teto, são feitos rearranjos para possibilitar a convivência: há partilha do espaço físico, compartilhamento da renda, cuidado das crianças, ajuda mútua nos trabalhos domésticos, transporte comum, entre tantos outros ajustes.
No entanto a coabitação também afeta os papéis familiares, cria tensões e gera certa sobrecarga para alguns membros da família. Como menciona Peixoto e Luz, é comum que as mulheres, especialmente as idosas, encarreguem-se de cuidar dos membros dependentes: crianças, velhos e doentes. Outra realidade que vem se tornando mais recorrente é a de aposentados continuarem trabalhando para ajudar os filhos que passam por dificuldades financeiras.
Apesar disso, devido à ausência do Estado, como apontamos no início deste pequeno artigo, a família tem sido a grande instituição que possibilita a vida cotidiana de milhares de brasileiros. E, sem essa atitude de reciprocidade e solidariedade entre os parentes, a subsistência seria, em muitos casos, impossível. Isso revela uma riqueza própria do nosso povo, mas também mostra a omissão do Estado, que deveria garantir o bem-estar da sociedade.
Irmã Stela Martins, SSpS – Graduanda em Ciências Sociais (PUC Rio) e Diretora Presidente da Redes – Rede de Solidariedade