“Tu és o meu Filho amado, em ti eu ponho meu bem-querer”
Mc 1,7-11
Neste domingo que comemora o batismo de Jesus, mais uma vez, encontramos a figura do Precursor, João Batista, que foi uma das principais personagens das liturgias do Advento. Mas, na leitura de hoje, a ênfase mesmo está na aceitação não somente do batismo de João, mas de quem viria depois dele: literalmente, “atrás de mim”. A expressão, que denota a dignidade, como em um cortejo, põe toda a importância na pessoa que vem, pois tirar as sandálias era serviço de um escravo. Jesus é o mais importante, pois, com a vinda dele, inaugura-se o tempo de salvação esperado por muitas pessoas e grupos (como os essênios) somente para o fim dos tempos.
Nesse texto de Marcos, o interesse volta-se menos para o batismo de Jesus como tal e mais para a revelação divina que se lhe seguiu. Sendo batizado por João, Jesus coloca-se dentro da humanidade caída e publicamente assume o compromisso com a vontade do Pai. A frase “Viu os céus rasgarem-se, e o Espírito como uma pomba descer sobre si” enfatiza que Deus intervém para realizar suas promessas (cf. Is 63,19) pelo envio do Espírito Santo. Descendo sobre Jesus, o Espírito o designa como sendo o Salvador prometido e esperado. A voz do Pai confirma que Ele reconhece Jesus, desde o início de seu ministério público, como seu Filho (cf. Sl 2,7), seu bem-amado, objeto da sua predileção.
Um dos sentidos mais importantes de nosso batismo também é nosso compromisso público com a vontade do Pai. Todos nós podemos sentir a veracidade da mesma frase usada pelo Pai diante de Jesus. Cada um, cada uma de nós também é verdadeiramente filho, filha do Pai celeste (cf. 1Jo 3,1), a quem aprouve escolher-nos. Nada pode nos separar desse amor divino, nem nossa fraqueza nem o pecado (cf. Rm 8,39). O que é importante é reconhecer que Deus nos amou primeiro, incondicionalmente, e cabe a nós responder a esse amor gratuito por uma vida digna de filhos e filhas do Pai, no seguimento de Jesus (cf. 1Jo 4,10-11).
Jesus não achou privilégio ser o amado do Pai, mas assumiu as consequências: uma vida de fidelidade, que o levaria até a Cruz e a Ressurreição (cf. Fl 2,6-11). Celebrando essa festa litúrgica, renovemos o compromisso de nosso batismo, comprometendo-nos com o seguimento do Mestre, no esforço de criação do mundo que Deus quer, um mundo onde reinam o amor, a justiça e a verdadeira paz. Nosso batismo confirma que somos parceiros de Deus no ato permanente de criação, fazendo crescer o Reino dele, que “já está no meio de nós” (cf. Mc 1,14).
Padre Tomaz Hughes, SVD, biblista e assessor da CRB e do Cebi. Dedicou-se a cursos e retiros bíblicos em todo o Brasil. Publicou diversos artigos e o livro “Paulo de Tarso: discípulo-missionário de Jesus”. Faleceu em 15 de maio de 2017. Suas reflexões bíblicas são muito atuais.