Festas e pandemia

Mais um ano de pandemia e, quando se pensava que, após dois anos de guerra contra a covid-19, estaríamos de volta ao normal, ainda precisamos evitar as aglomerações e manter os cuidados sanitários. Em fevereiro de 2020, mesmo a Organização Mundial de Saúde (OMS) tendo alertado as autoridades brasileiras a respeito do novo coronavírus, os eventos carnavalescos e festas em geral “correram soltos” pelo País. Como consequência, a pandemia instalou-se no território nacional, provocando muitas internações. As unidades de terapia intensiva e os hospitais, que não estavam preparados para receber tantos pacientes, entraram em colapso.

De norte a sul do País, vimos a triste notícia da falta de materiais hospitalares, como tubos de oxigênio e equipamentos de proteção. Tanto os profissionais da saúde deram a vida, pois foram contaminados, deixando suas famílias desoladas, quanto os idosos e os jovens de serviços essenciais.

Embora a vacinação tenha começado com certo atraso no Brasil, por causa da insana conjuntura política nacional, a pandemia parecia estar acabando. Mas as festas de fim de ano novamente causaram o aumento dos casos de internação e mortes, ceifando a vida de 650 mil brasileiros.

E como ficam as festas? Festa sempre foi um momento de ação de graças, de gratidão e bênção. Marca um momento ritual para um povo. No caso do carnaval, festa da carne, seria a passagem de dias comuns para o período da Quaresma, que propõe o recolhimento e o jejum, em preparação para a Páscoa.

O sentido religioso da maioria das festas, como a do carnaval, foi invertido pela lógica capitalista. Por esta, o evento festivo, em vez de ser de partilha, comemoração, um ritual fraterno, passou a dar valor ao consumismo exacerbado. A economia tomou conta.

A festa, em seu sentido original, celebra a vida, mas, no contexto de hoje, não há o que festejar em plena pandemia. Como pular, brincar com tantas famílias enlutadas e sofrendo com entes queridos entubados, com tantos órfãos e viúvas(os)? O fato de aglomerar pessoas já deve servir de alerta, pois, com tantos indivíduos ainda não vacinados, principalmente crianças, o bom senso clama por prudência, moderação, recolhimento.

Festa significa cantar, dançar, alegrar-se, celebrar a vida. Porém, na pandemia, fazer isso é gerar morte, e morte prematura.

Pensemos em cuidar da vida, continuando a tomar todos os cuidados necessários, mantendo o uso de máscara, a higienização das mãos, evitando aglomerações. Aos poucos, voltaremos à vida coletiva. Agora, cuidemos da saúde de cada um para que, juntos, celebremos a vida em festa.

Maria Terezinha Corrêa
Mestra em Antropologia, especialista em Ensino de Filosofia, graduada em Filosofia e Pedagogia, cursou Teologia pelo Mater Ecclesiae, filiada à ABA, APEOESP e SBPC. Atualmente, professora de Filosofia na Prefeitura de São José-SC, membro da Comissão da ALESC de Prevenção e combate à tortura, voluntária na Pastoral da Pessoa Idosa, ligada à Arquidiocese de Florianópolis, membro da diretoria da Aproffib (Associação de Professores de Filosofia e de Filósofos do Brasil).

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