Já faz tempo que as tradicionais “festas juninas” escolares não estão restritas ao mês de junho. Em vários colégios de todo o Brasil, a festividade também tem sido realizada em julho, marcando o encerramento das atividades do primeiro semestre. Independentemente de quando ocorrem os festejos, o variado repertório cultural do País tem sido valorizado junto aos estudantes da Rede de Educação Missionárias Servas do Espírito Santo (SSpS).
Meu Cordel Sagrado
No caso do Colégio Sagrado Coração de Jesus, em Belo Horizonte-MG, a festa junina teve como tema “Meu Cordel Sagrado”. Para ilustrar a comemoração, os alunos foram convidados a produzir cordéis e outros gêneros textuais com o tema da cultura nordestina.
“A literatura de cordel recebeu o título de patrimônio cultural imaterial brasileiro em 2018, no entanto, ao contrário do que as pessoas pensam, o gênero não nasceu no Brasil. O estilo já existia no período dos povos greco-romanos, fenícios, cartagineses e saxões. Chegou a Portugal e Espanha por volta do século XVI. No Brasil, veio com os colonizadores, instalando-se na Bahia, mais precisamente em Salvador, à época, a capital brasileira”, explica a professora de Literatura Cintia Valéria Melo Combat Barbosa.
Inspirada em uma fala da cordelista paraibana Izabel Nascimento, que afirma que o cordel é uma ferramenta de transformação social, a professora desafiou os alunos do 9º ano a criarem o gênero lambe-lambe e exporem traços da linguagem nordestina em cartazes. “O trabalho ficou fantástico, foi possível ler frases autorais, trechos de músicas e poemas, e conhecer a variedade linguística, em uma arte que tem como objetivos a intervenção e a reflexão”, relembra Cintia.
Danças e comidas típicas
No Colégio Santos Anjos, em Porto União-SC, a festa junina é um dos eventos mais esperados não somente pela comunidade escolar, mas também por moradores do próprio Município e da vizinha União da Vitória. “Todo mundo reserva a data desta que é uma das nossas festividades mais tradicionais, para ver as danças e saborear as comidas típicas que são famosas aqui em nossa região”, conta a professora de Educação Física Uná Mariana Manfredini de Campos, destacando os principais atrativos da programação.
As coreografias do ensino fundamental II e do ensino médio são criadas pelos próprios estudantes, amparados em pesquisa, muita criatividade e consenso entre os colegas, para definir a música, os movimentos e os trajes que comporão a dança. “É algo que demanda bastante energia e que os alunos gostam bastante de participar. Tudo é feito nas aulas de Educação Física, por ser um conteúdo de dança, que está na grade curricular. O nosso terceirão faz um espetáculo à parte, com uma coreografia de dez minutos”, comenta Uná. Já as turmas da educação infantil e do ensino fundamental I contam com o auxílio das professoras para a organização das danças.
A gastronomia típica também é garantia de público nos festejos. “Nosso pastel e cachorro-quente são bastante famosos. O pessoal não se importa com o frio, e todos vão ao colégio. A gente viu o envolvimento de professores, funcionários, alunos e suas famílias. Todos participaram e se divertiram bastante”, garante Uná.
O porquê das festas juninas
A comunidade escolar do Colégio Sant’Ana, em Ponta Grossa-PR, também celebra as festas juninas com comidas típicas, chapéus de palha e todo o colorido característico nas vestimentas e na decoração. E é de lá que vêm algumas explicações sobre os motivos de essa festividade ser realizada tradicionalmente em junho.
Segundo o professor Antonio César Burnat, as festas juninas descendem, em linha direta, da devoção à deusa Juno, dos romanos, identificada como Hera pelos gregos. “O quarto mês do calendário era dedicado à deusa pagã Juno e, no solstício de verão, eram comuns muitas comemorações em sua homenagem. As celebrações para Juno eram marcantes, não importando que a deusa se desdobrasse em outra tantas. Dizem as pesquisas que nossas festas juninas apresentam os mesmos elementos característicos das comemorações motivadas por Juno: fogueiras, batatas e as alcachofras queimadas, flores recolhidas ao primeiro raio de sol e consultas ao oráculo”, diz o professor.
Antonio observa, porém, que a colonização portuguesa e a devoção cristã católica passaram a exaltar as festas populares, valorizando os produtos locais e estabelecendo ligações entre os festejos e os santos católicos lembrados em junho: “Começou por São João Batista (24 de junho). Mais tarde, foram elevados ao culto junino São Pedro e São Paulo (29 de junho). E, depois, as comemorações juninas a Santo Antônio (13 de junho)”.
Ele explica que, para diferenciar cada um desses santos, ficou estabelecido um formato próprio de fogueira. Para São João Batista, a fogueira é em formato cilíndrico; São Pedro tem o formato triangular; e Santo Antônio ganhou o formato quadrangular. “Vivam nossos santos católicos, vivam as comemorações juninas, viva a alegria do povo que luta, trabalha e se alegra, vivendo sua religiosidade e sua fé de forma pura e singela e, assim, abençoadas pelos santos que doaram sua vida pelo amor a Jesus e ao Evangelho”, vibra o professor.
Marcos Vinícius Merker
Jornalista no Colégio Espírito Santo de Canoas-RS, membro da Equipe de Comunicação das SSpS Brasil.