Festejos populares em tempos de pandemia nas escolas

Mesmo em meio à pandemia e às necessidades de isolamento e manutenção de protocolos, as escolas da Rede de Educação Missionárias Servas do Espírito Santo não pouparam esforços para realizar as tradicionais festas juninas. Seja de modo virtual ou presencial, com obediência a rígidos protocolos, não deixaram de oferecer a crianças e jovens essas vivências tão importantes da cultura popular brasileira.

A prática dos festejos populares juninos está alinhada à competência três da BNCC, a Base Nacional Comum Curricular: “Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural”. Mas, qual é a importância dessa competência? Por que participar e conhecer as manifestações culturais e locais se faz tão necessário? Em tempos pandêmicos, nos quais a angústia e a incerteza predominam, qual a importância de se manter esses festejos, mesmo que de forma reinventada e auxiliada pelas tecnologias da informação e da comunicação?

Primeiramente, vamos relembrar as origens dos festejos juninos, que vêm de festas pagãs das antigas civilizações, ligadas aos ciclos da natureza, às estações do ano, sobretudo nos períodos de plantio e de colheita. No século XVI, as festas “joaninas” foram trazidas pelos portugueses durante o período de colonização, em referência a São João. Com o correr dos anos, passaram a ser chamadas de festas juninas, por ocorrerem durante o mês de junho. É tradição em todo o País, principalmente no Nordeste. Atualmente, são consideradas festividades mais populares que religiosas, associadas a símbolos típicos de zonas rurais.

Buscando explicação em estudiosos que pesquisaram a cultura, a educação e o desenvolvimento, podemos extrair alguns importantes significados para o trabalho com a diversidade cultural e sua vivência no ambiente escolar.

Pierre Bordieu (citado por SILVA, s.d.) afirma que “a cultura é o conteúdo substancial da educação, sua fonte e sua justificação última […] uma não pode ser pensada sem a outra”, portanto atividades que tragam não somente a cultura erudita para dentro da escola, mas a multiculturalidade presente em nossa sociedade revelam o potencial de uma educação mais democrática e inclusiva.

Reuvem Feuerstein, professor e psicólogo israelense, influenciado por Vygotsky, que criou a teoria da experiência da aprendizagem mediada, afirmava que o ser humano é dotado de estruturas mentais que lhe garantem a capacidade de aprender, porém a falta da apropriação de sua própria cultura (privação cultural) afetará negativamente suas capacidades cognitivas.

Elvira Souza Lima, pesquisadora em desenvolvimento humano, tem realizado encontros virtuais nos quais ressalta o papel da arte e da cultura como antídoto aos danos emocionais gerados pela pandemia, as restrições e perdas impostas por ela.

Nasci e cresci em um bairro pequeno de Belo Horizonte, com características de cidade de interior. Minha infância e adolescência foram marcadas por quermesses e festas de rua, incluindo as juninas, às quais tínhamos acesso com muita liberdade e segurança. Hoje, nossas crianças e jovens quase não têm acesso a esses eventos e manifestações populares fora da escola. A cidade já não oferece tantas oportunidades.

Acentua-se o papel da escola como agente de mediação cultural, valorizando a enorme diversidade presente em nosso País, humanizando e formando cidadãos preparados para viver em sociedade e serem agentes de transformação, que contribuem para uma cultura de paz, respeito e valorização da diversidade.

Ana Amélia Rigotto Fernandes
Diretora educacional do Colégio Sagrado Coração de Jesus, em Belo Horizonte-MG.







Referências
SILVA, Jididias Rodrigues da. A importância da cultura no processo de aprendizagem. Brasil Escola, São Paulo, s.d. Disponível em: Brasil Escola. Acesso em: 4 jul. 2021.

SOUZA, Natalício de. A mediação da aprendizagem segundo Reuven Feuerstein. Revista Brasileira de Educação Básica, Belo Horizonte, v. 4, n. 14, 2009. Disponível em: Revista Brasileira de Educação Básica. Acesso em: 4 jul. 2021.

VEIGA, Edison. Festa junina: a origem da celebração pagã que virou religiosa e ‘caipira’ no Brasil. BBC News Brasil, 18 jun. 2021. Disponível em: BBC News. Acesso em: 4 jul. 2021.

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