Fim de ano ou começo de outro?

O dia 31 de dezembro marca mais um ano que termina com outro começando. As portas se fecham para um e se abrem para o começo de outro. Faz séculos que essa dinâmica se repete, desde que o mundo é mundo! Ninguém sabe a contagem exata. É o tempo contínuo que “passa” e que “começa”, segundo nossas convenções. São ciclos do vai e vem dos dias e das noites, nas rotações e translações da Terra ao redor de si mesma e do Sol. Assim é a natureza, e nós não temos como mudá-la. Nesses ciclos é que a vida de cada um aparece e desaparece.

A partir do ano em que se nasce, vai-se iniciando a contagem, um ano, dois anos… “n” anos. Sabemos o ano do nascimento, mas o do fim de nosso ciclo, não. A ânsia pela vida corre com o tempo em que se vai vivendo. Se tudo correr bem, conseguiremos passar por todas as fases: infância, juventude, adulta e idosa… Esse é o caminho da vida. Nem todos conseguem percorrê-lo todo, alguns morrem antes. Os que chegam ao último vivem com mais ansiedade a expectativa de mais um fim de ano e começo de outro. Como tudo pode acontecer, nesse entretempo, tem-se de conviver com certa dúvida até chegar ao fim do próximo, para ter certeza.

Nesse percurso, acontecem tantas coisas! Vivenciam-se tantas experiências! Relacionamentos se estabelecem com tantas pessoas. Dormem-se tantas noites e se acordam tantas manhãs; trabalham-se tantos dias e se caminham tantos passos; têm-se tantas visões e ilusões; comem-se tantas comidas e se ouvem tantos barulhos; toca-se em tantos objetos; saboreiam-se tantas frutas e se bebe tanta água. Sentem-se tantas angústias e se depara com tanta necessidade de fazer silêncio para ouvir os próprios clamores.

Alegra-se com tantos fatos e acontecimentos bons; sonha-se com tantos ideais e se realizam tantos projetos. Curtem-se tantas frustrações (às vezes, depressão) e se experimentam tantos sentimentos que se cruzam e se misturam na cabeça, deixando-a, às vezes, confusa. Ocupa-se a mente com tantas fantasias que deixam esta e o coração distraídos por algum tempo, sem funcionar objetivamente; fica-se impaciente diante da solitude. 

Fazem-se tantas rezas, atendendo às necessidades do espírito e, mesmo assim, cometem-se tantos pecados que precisam de perdão, carregam-se tantas culpas aguardando remissão; confronta-se com tantos conflitos que abalam o psíquico e tiram a paz interior; pedem-se tantos “me desculpe” e se dizem tantos “muito obrigado”. Respiram-se tantos ares poluídos; elimina-se tanto suor. Vestem-se tantas roupas e se gastam tantos sapatos. Mexe-se em tantas miudezas e se guardam tantas tranqueiras inúteis; produz-se tanto lixo e se cheiram tantos odores. 

Examinam-se tantos pensamentos e se experimentam tantas emoções. Angustia-se com tantas preocupações e se convive com tantas tensões. Tomam-se tantos remédios e se espera tanto pela saúde. Choram-se tantas lágrimas e se cantam tantas canções; ri-se com tanto prazer.

Leem-se tantas leituras; consomem-se tantas horas ao celular e se fazem tantas poses para selfies; assiste-se a tantas novelas na tevê e se escutam tantas músicas no rádio. Entretém-se com tantos TikTok. Pagam-se tantas contas com tantos pix; fazem-se tantas pesquisas e se conhecem tantas novas descobertas. Depara-se com tantas mudanças e transformações e se fica confuso com tantas informações. Embaraça-se tanto a capacidade de discernir e se cai na indiferença diante de tantos alaridos. 

E assim se convive com tantas situações e pessoas, boas e más (…), e não se para de contar tantos fins de anos e esperas por um novo chegar… São tantas contas que se fazem, de somas e subtrações, de multiplicações e divisões, e algumas equações. Vivendo tudo isso, vai-se escrevendo a história de cada um, com seus tantos “fins de ano e começos de outros”. Assim vai transcorrendo a vida.

Para cada começo novo, um desejo que seja um ano feliz, próspero e “novo” (inédito). É a esperança que nos obriga a pensar assim; caso contrário, a vida se desconecta antes do tempo. Estamos por finalizar mais um ano e começar outro, mais um que se acrescenta aos já vividos e mais próximo do último a se viver. 

Oxalá, ao terminar nosso ciclo por aqui, sigamos para outros tempos nos quais não há mais contagem, porque se entra num mistério que envolve o eterno, em que os anos não existem mais. Lá, quiçá, estão tantos que fizeram parte de nossa vida por aqui e foram-se antes, esperando por nossa companhia novamente.

Que todos tenhamos mais um ano novo para viver e experimentar tudo aquilo que a vida nos reservar para estes dias que se seguirão… Até o próximo fim de ano!

Como em todos os anos passados e mantendo nossa a sã tradição, desejo a todos um “Feliz e próspero ano novo”! Com as bençãos do Deus Eterno que guarda seus mistérios e surpresas para nos revelar quando chegarmos lá. Nossa fé professada crê em sua bondade e misericórdia, com a expectativa de viver a eternidade sem males, sem dias e sem fins de ano. Um tempo sem tempo, porque eterno!

Enquanto não chega esse último dia, continuaremos orbitando com a Terra entre planetas, no ritmo de seus ciclos siderais, contados por nós, em séculos, em anos, em dias…

Padre Deolino Pedro Baldissera,

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