A imagem das flores nascendo em meio ao asfalto é uma perfeita analogia para nossa missão nestes tempos de incertezas que estamos vivendo. Diante dos desafios contemporâneos, nós, missionárias servas do Espírito Santo, somos chamadas a planejar com a ótica do Reino de Deus, a viver com sentido cada momento do dia, a ter os pés na realidade onde estamos e a não nos perder nas inseguranças. Como afirmava Santo Arnaldo Janssen, “Quando a obra é de Deus, Ele cuidará”.
Como florescer no tempo de incerteza? Essa é uma pergunta fundamental e, se respondida com sinceridade, é capaz de nos mover, dissipando qualquer forma de inércia diante das dificuldades. Vejam a realidade de nossa Província Stella Matutina – Brasil Norte. A média de idade das irmãs é de 79 anos. No entanto, o coração e o espírito missionário continuam nos impulsionando para a missão. Assim, mesmo com a pandemia e todas as situações de vulnerabilidade e fragilidade próprias dos seres humanos, iniciamos três comunidades em lugares onde a vida está gritando pela presença de esperança, compaixão e transformação.
Ouvimos o grito na grande periferia de São Paulo, que nos chamava para estar com as famílias e crianças em área de risco. Por isso, abrimos uma comunidade com três irmãs no Parque São Rafael, Zona Leste da capital. Nessa localidade, florescer significou conhecer paulatinamente os vizinhos e estar com as crianças no Centro Educacional Madre Theresia, dedicando-nos ao cuidado delas e, ao mesmo tempo, tomando todos os cuidados que a pandemia exige. Ir para lá, num primeiro momento, foi um lançar-nos na incerteza, mas agora estamos vendo a vida florescer em tantas situações que fazem parte da vida das irmãs e das famílias de lá.
Outro grito forte veio do Norte do Brasil. Vimos a necessidade de formar uma comunidade para continuar nossa presença junto aos indígenas do Povo Xerente, em Tocantínia-TO, na perspectiva de sermos sinal de esperança e de compaixão. Nossa proposta é, de acordo com as possibilidades, acompanhar as aldeias e oferecer um local onde os indígenas possam sentir segurança e confiança. Também lá, o início da nova comunidade ocorreu durante a pandemia.
Perguntávamos a nós mesmas: de onde vem essa força? E não hesitamos na resposta: vem da paixão pelo Reino de Deus e do desejo de estar justamente com aqueles que precisam de nossa presença de compaixão. Somos chamadas a cuidar daqueles que estão sendo encurvados pela dor do sofrimento. Somos impelidas a buscar caminhos para ajudá-los a se levantar e encontrar a alegria de caminhar com dignidade.
Outro desafio a que buscamos responder foi florescer no Alto do Taquaril, na periferia de Belo Horizonte-MG, acreditando que “o Senhor é nosso pastor, e nada nos faltará” (Salmo 22). Foi esse o chamado que experimentamos ao iniciar a terceira comunidade em meio a pandemia. O bairro Alto do Taquaril clama por mais comunhão, solidariedade, acolhida das famílias, escuta daqueles que se sentem perdidos, dos que não acreditam mais na vida e buscam, nas drogas, a solução para seus problemas. Como ser presença nesse local? Mesmo diante das adversidades para ir ao encontro das pessoas, as irmãs foram buscando caminhos e alternativas para estar junto com elas, comunicando, por sua simples presença, que acreditam nelas e que querem estar entre elas.
Concluindo esta breve partilha das três experiências vividas por nossas irmãs e que pude acompanhar de perto, posso dizer, com convicção, que a tarefa de florescer em tempo de incerteza não é a mais confortável, mas, sem dúvida, é a mais gratificante. Com amor, nós, irmãs, empreendemos nossos esforços para lançar as sementes e, como Santo Arnaldo, nosso fundador, estamos confiantes de que Deus mesmo cuidará para que elas frutifiquem.
Irmã Maria Percila Vieira é a atual coordenadora provincial das missionárias servas do Espírito Santo na Província Brasil Norte e presidente da Escola para Formadores Jesus Mestre. É Pedagoga, Psicopedagoga e formada pelo Instituto de Psicologia da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, Itália.