Florestas, sustentabilidade e outros significados

Em 21 de março, comemora-se o Dia Internacional das Florestas. Para o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, as origens passam por Nebrasca, nos Estados Unidos, que, em 1872, dedicou um dia para o plantio de árvores. O evento foi inspiração para a “festa da árvore” em outros países. Na década de 1970, a festa deu lugar ao Dia da Árvore. Essa data logo foi alterada para o Dia Mundial da Floresta, no intuito de sensibilizar para a preservação de condições de vida na Terra, tendo em vista as gerações futuras. Em 2013, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu 21 de março como o Dia Internacional das Florestas, num esforço alinhado com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Para 2022, o tema de reflexão é “Florestas: consumo e produção sustentáveis”. A relevância da data é ampliada pelas crises humanitária, ecológica, climática, sanitária, entre outras, que ocorrem em escala global e colocam em questão nossa inabilidade de habitar o planeta sem o explorar.

O modo como afetamos as florestas é derivado da produção em larga escala, cuja insustentabilidade é ampliada quando consumimos de maneira irresponsável e inconsciente. Outro problema está relacionado às formas de produção que suprimem a vegetação em nome da eficiência dos processos tecnológicos. Além disso, ao submeter a natureza aos desejos e necessidades da humanidade, também afetamos as florestas e a Terra, especialmente quando extraímos matéria-prima para a construção de habitações, de dispositivos para mobilidade física e digital, de baterias e energia para os equipamentos eletrônicos, entre tantos outros produtos que poderíamos citar.

Até aqui, falamos das condutas que afetam as florestas. Não abordamos ainda sua importância para sustentar a vida do planeta. A teia que entrelaça as florestas com a vida alcança o mar, o ar e a terra: desde as raízes no subsolo, passando pelas copas das árvores que abrigam a vida de várias espécies, até a camada de folhas que formam a serapilheira, contribuindo com a fertilização do solo. Peter Wohlleben, engenheiro florestal e ecologista, discute essas questões com brilhantismo na obra A vida secreta das árvores. A escritora e ambientalista Rachel Carson, em sua robusta obra que inclui Sob o mar-vento, O mar que nos cerca e Primavera silenciosa, aborda, com muita sensibilidade e coragem, a conexão entre todas as formas de vida.

As florestas, com a fotossíntese e a umidade, contribuem para que a atmosfera ofereça condições de vida e que rios aéreos flutuem, de um ponto para o outro, distribuindo chuva e fertilidade. Também são elas que, como uma fortaleza, permitem a vitalidade dos rios.

Mais do que isso, elas são fonte de cura, de espiritualidade e sabedoria. As flores, os frutos e os extratos da floresta alimentam e curam o corpo. O espírito também se beneficia com a temperatura, as formas de luz e sombra desenhadas pelo sol, assim como a chuva suavizada pela vegetação; o som da brisa e do vento, dos pássaros, dos riachos e de nossos passos sobre as folhas constituem experiências sensoriais que afetam nossa alma e permitem entrar em contato conosco e com o meio para estabelecer conexão com o Divino que habita em nós. Por esses significados e pela vida que nelas toma forma, as florestas merecem nossa reverência, atenção e cuidado.

Referências

CARSON, Rachel. O mar que nos cerca. São Paulo: Gaia, 2013.
CARSON, Rachel. Primavera silenciosa. São Paulo: Gaia, 2013.
CARSON, Rachel. Sob o mar-vento. São Paulo: Gaia, 2013.
INSTITUTO DA CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E DAS FLORESTAS. Disponível em: https://www.icnf.pt/. Acesso em: 17 mar. 2022.
WOHLLEBEN, Peter. A vida secreta das árvores: o que sentem e como se comunicam. Rio de Janeiro: Sextante, 2017.

Marli Teresinha Everling
Professora nos cursos de Graduação e Pós-graduação em Design da Universidade da Região de Joinville (Univille), coordenadora do Projeto Ethos – Design e relações de uso em contexto de crise ecológica, colaboradora do Instituto Caranguejo de Educação Ambiental.

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