Situações como as geradas pelo covid-19 nos obrigam a rever como estamos estruturando nossa relação com nossos cônjuges e como estamos lidando com nós mesmos. Estamos sobrecarregando alguém? Estamos nos deixando sobrecarregados em troca de admiração dos outros ou de baixo conflito dentro de casa? O quanto isso nos entristece, irrita ou nos torna uma pessoa tóxica? Talvez essa palavra seja forte demais, mas, em confinamento ou isolamento, podemos ser fortes contribuintes da toxicidade doméstica.
Assim, depois dessas provocações, convidamos você a rever suas escolhas diante das novas múltiplas e complexas demandas de home office, homeschooling, homecare. Todos juntos e misturados.
Não sabemos ao certo quanto tempo isso vai durar, mas é importante preocuparmos menos com as incertezas para olharmos mais para este momento como uma oportunidade de aprender novas formas de se organizar e viver em conjunto (formas mais justas, conscientes e respeitosas com o tempo e o espaço próprio e do outro). Mesmo antes do covid-19, sabíamos como o coletivo é bem mais poderoso para enfrentar situações complexas.
Saindo da reflexão e indo para a ação: chame todos os que dividem um mesmo espaço e construam juntos, com abertura para as múltiplas visões, o que este momento significa e demanda de cada um e tracem novas expectativas, fruto das necessidades de todos. Essas necessidades serão ao máximo respeitadas desde que não impactem o bem-estar do todo. Nada disso é novidade, certo? Estamos diante de princípios da ética, mas uma das coisas que a pandemia do covid-19 nos mostra e impõe é a força da ética como forma de nos proteger e de superar este momento difícil. Você tem alguma dúvida disso?
Os princípios éticos geram confiança, que é a base de toda equipe. Se tratarmos esse grupo de pessoas que moram juntas como uma equipe, vamos pelo lado do diálogo e aprendemos a cuidar um dos outros de forma que possamos sair da quarentena melhor do que entramos. Mas como dialogar? Primeiro escute, depois pergunte e peça esclarecimento se não entendeu ou se teve dúvidas, e depois traga suas posições e pensamentos conectando com possíveis pontos comuns do pensamento de seu interlocutor.
Atitudes afetuosas para tentar entender e compreender mais do que de acertar ou ganhar (e ganhar o quê?) ajudam muito no processo de uma conversação ou diálogo. Se travar a conversa, persista com emoções positivas, dê passos para trás e se preocupe em entender a lógica e as necessidades escondidas e pouco claras da pessoa com a qual você se relaciona.
Na sequência, construam objetivos e propósitos claros sobre como devemos estar como grupo ao fim de tudo isso. Busquem propósitos que desafiem hábitos antigos e poucos funcionais. Com base nesse propósito, criem e elaborem desafios intermediários e regras de como funcionar. Nessas regras, é importante que se respeite o espaço de som e de silêncio de que todo grupo/equipe precisa. Cuide do tom e da altura da voz, do som, da televisão ou do computador. Sinalize e comunique quando é o seu momento de estar com você e de poder ter seu canto: na varanda, no quintal ou no sofá de sala. Busquem construir em conjunto espaços de respeito.
Disciplina para cumprir os combinados será a chave da confiança, que é a cola das equipes, permitindo que o todo vá adiante e evolua. Como tudo será muito novo, ajustes serão necessários e corriqueiros. Os feedbacks entre as pessoas em busca de se alcançar o propósito coletivo combinado e compartilhado pode ser um momento difícil, mas vital para se chegar aonde se quer.
É inegável dizer que a pandemia gera aflições, incertezas e medo dentro de nós. Ficar isolados da sociedade e com uma rotina diária tão diferente da anterior pode ser desgastante se não fizermos novas escolhas. É importante usar este momento como uma oportunidade de fazer diferente de seu “normal”. É tempo de exercitar novas práticas, decisões e tomar atitudes para mudar o que desgasta ou limita você ou sua família.
Ganhamos o tempo e o espaço (físico ou mental) de que precisávamos para transformar essa ameaça e essa freada obrigatória em uma oportunidade de se resgatar a si mesmo, os seus desejos e anseios não concretizados, agindo em prol de uma reconstrução de escolhas próprias e de quem está próximo de nós. Sairemos mais fortes e mais preparados para enfrentar coletivamente novas mudanças impostas ou graduais.
Aline Souki Amaral de Paula
Mestra em Organizações e Recursos Humanos, pós-graduada em Gestão Estratégica de Recursos Humanos e graduada em Psicologia, professora, coach profissional, master practitioner em PNL e consultora de gestão de pessoas com foco em desenvolvimento e gestão da mudança.
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Gabriela Federman Hoffer
Graduanda em Administração Pública na Escola de Governo Paulo Neves de Carvalho (Fundação João Pinheiro), com previsão de formatura para 2021, estagiária de Aline Souki em trabalhos de desenvolvimento de lideranças e de gestão estratégica de pessoas.