O GECA (Guerreiras Empoderadas, Cultivando e Aprendendo) está organizado na Comunidade Quilombola Nhunguara, na divisa dos Municípios de Eldorado e Iporanga, no Vale do Ribeira, no sul do Estado de São Paulo. Somos um grupo de mulheres que busca resgatar a história da cultura de nossos ancestrais, como o cultivo da mandioca e a produção de seus derivados, como a farinha. Nosso objetivo é resgatar os conhecimentos de nossos antepassados.
Hoje, porém, temos a maneira de cultivar, produzir seus derivados (farinha, biju, cuscuz, etc.) com menos sacrifício em relação ao tempo de nossos pais. Para isso, temos maquinários que são 90% motorizados. Nosso produto sai com uma qualidade muito boa. Trabalhar o resgate da cultura não é nada fácil, pois nossos jovens, a maioria, têm vergonha do trabalho da roça, que tem sido cansativo, sem uma rentabilidade imediata: após preparar a terra até a colheita, leva-se cerca de um ano e meio… Com isso, buscamos mecanizar todo o trabalho cansativo e facilitar o que é necessário e importante.
Produzimos farinha de mandioca de forma totalmente mecanizada, de modo rápido e com qualidade. Isso era antigamente muito trabalhoso e cansativo, e levava horas, dias de trabalho.
Criamos o grupo, buscando resgatar e fortalecer nossa cultura quilombola, nos valores, nos ideais, no fazer em continuidade com nossos ancestrais, resgatando seus conhecimentos e saberes, no plantar a mandioca, o feijão, o milho, etc., no fazer a farinha, o cuscuz, o biju, etc., no fazer coivaras (cultura de plantio rotativo), no fazer mutirões, no viver coletivo comunitário. Também criamos o grupo para enfrentar as dificuldades e os efeitos da pandemia de covid-19 em nossos territórios.
Como principal objetivo, queremos o fortalecimento identitário de nossos quilombolas e, com isso, fortalecer-nos na luta pela regularização fundiária de nosso território, no combate à violência no campo e aos racismos ambiental e institucional. Também visamos ao fortalecimento de nossas lideranças e ao incentivo da formação de novas lideranças, com nossos jovens e crianças, ao empoderamento de mulheres de nossa comunidade e no combate ao machismo. E, assim, sempre fortalecer nossos ideais de resgate da cultura de nossos antepassados, de seus valores e fazeres, numa visão de abertura para novas técnicas e tecnologias que se somem aos conhecimentos e técnicas de nossos antepassados, bem como atuar para a garantia da segurança alimentar e do combate à fome.
O GECA está crescendo, e estamos confiantes, fazendo de tudo para que o projeto continue. É lindo ver as pessoas felizes e saindo com seu quilinho de farinha quentinha.
Neusa Vieira Pereira Mori
Comunidade Quilombola Nhunguara.