A gratuidade na vida cristã tem como fonte primeira o amor. É uma resposta de amor. Podemos dizer que a gratuidade é uma extensão de nossa intimidade com Deus. Ela nos leva a amar e a servir ao próximo, sem nada exigir, sem nada barganhar.
A gratuidade é própria de quem ama. Ela nasce da relação de amor entre a criatura e o Criador. Deus é o amor (cf. 1Jo 4,16), e o amor de Deus em nós se alarga para podermos amar a nós mesmos e ao outro. “Nós amamos porque Deus nos amou primeiro” (1Jo 4,19). Deus é a fonte primeira de amor.
O cristão é chamado a viver a gratuidade no amor de Deus. Quando a pessoa se sente amada e acolhida por Deus, brota nela o desejo de que outras pessoas também experimentem o amor de Deus. A alegria de ser amada leva a pessoa a viver na gratuidade. “Se Deus nos amou, devemos nós também amar-nos uns aos outros. Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós…” (1Jo 4,12).
O caminho da gratuidade na vida cristã somente é possível se nos abrirmos à graça de Deus, deixando que sua infinita misericórdia opere em nós; nos transforme e possa nos moldar, segundo os ensinamentos de Jesus Cristo. O amor é a medida do cristão.
É o amor de Deus Uno e Trino que gera em nós a gratuidade no servir e doar. Conforme progredimos em nossa fé, percebemos que tudo é de Deus. Tudo é graça, tudo é amor. Nada nos pertence. Deus nos oferece a salvação e tudo o mais, gratuitamente, num gesto profundo e concreto de amor.
É preciso abrir-se para que a graça de Deus encontre espaço em nós. É preciso silenciar, esvaziar-se de si mesmo, para deixar que Deus preencha nosso coração. Quem se sente amado é capaz de viver a gratuidade na vida diária.
A gratuidade na vida cristã é um constante lançar-se nas mãos de Deus. É uma experiência única e pessoal do amor trinitário de Deus, pela pessoa humana. A experiência do amor de Deus em nossa vida nos leva a viver a experiência da gratuidade e do serviço na vida das outras pessoas.
A exemplo de Jesus Cristo, somos chamados, chamadas a inclinar nosso coração sobre o irmão e a irmã, num gesto de acolhida, humildade e solidariedade. Ele nos deu o exemplo:
Depois que lhes lavou os pés, retomou o seu manto, voltou à mesa e lhes disse: “Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois eu o sou. Se, portanto, eu, o Mestre e o Senhor, vos lavei os pés, também deveis lavar-vos os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como eu fiz, também vós o façais” (Jo 13,12-15).
Jesus nos pergunta: “Compreendeis o que eu fiz?”. Compreendemos a profundidade e a largura do gesto de Jesus? Antes de se entregar a seus algozes, Ele deseja estar com os seus, Ele deseja ensiná-los a amar.
A gratuidade é alicerçada no amor de Deus por nós. Um amor levado até as últimas consequências por Jesus Cristo: entregue na Cruz, livre e gratuitamente, para nos salvar. Ele viveu a gratuidade do amor do Pai no dia a dia. Curou os enfermos, libertou os cativos, resgatou os abandonados; acolheu os pecadores, os órfãos, as mulheres e as crianças. Ele amou como ninguém nunca havia amado.
A gratuidade é a realidade de quem ama e é amado por Deus Uno e Trino. “Eu sou a videira, e vós, os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto; porque, sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5).
É permanecendo em Cristo que somos capazes de compreender a largura e a profundidade do amor de Deus por nós. É permanecendo em Cristo que somos capazes de viver a verdadeira gratuidade cristã, baseada no amor e no serviço.
“De graça recebestes, de graça deveis dar” (Mt 10,8).
Cláudia Maria Rocha
Formação Humana e Religiosa, engenheira civil e de segurança do trabalho.