A expressão é da economista e educadora popular Sandra Quintela, uma das organizadoras do Ato. “A construção do Brasil tem que acontecer de baixo para cima. Nós acreditamos que o nosso planalto é a planície, onde está realmente o povo brasileiro, na luta pela sobrevivência e pelo bem-estar.”
Em sua 29ª edição, o Grito dos Excluídos realizou atos em 26 Estados do Brasil, no último dia 7 de setembro. À luz do tema “Você tem fome e sede de quê?”, as manifestações tiveram como centro do debate a questão do acesso à comida e à água.
A violência policial, o assassinato da Ialorixá Bernadete, a privatização da água no Estado de São Paulo, as catástrofes naturais que, nos últimos meses, têm desabrigado milhares no Brasil, a educação pública, a falta e saneamento básico, entre outras questões sociais que afetam a dignidade do povo, foram denunciados durante os atos.
Relatório de março deste ano, baseado nos dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento de 2021, revela que 35 milhões de pessoas não têm água potável, e mais de 100 milhões não contam com rede de esgoto. Ainda, segundo declaração da Organização das Nações Unidas (ONU), publicada em junho deste ano, o Brasil tem 21 milhões de pessoas que não têm o que comer todos os dias, e 70,3 milhões em insegurança alimentar.
A população brasileira também tem fome de educação inclusiva, por ser direito fundamental e, ao mesmo tempo, um dos pilares para o desenvolvimento das pessoas, do ponto de vista social, cultural, político e econômico. Dados do IBGE, referentes a 2021, revelam que, no caso das juventudes de 15 a 17 anos, cerca de 407 mil jovens não concluíram o ensino médio e houve uma redução de 2,1% no índice de matriculados no ensino médio regular.
A razão desse fato é o aumento do número de jovens de 15 a 17 anos frequentes nas etapas anteriores (ensino fundamental regular, EJA do fundamental, ou alfabetização de jovens e adultos). Em 2021, o número de jovens nessa situação subiu de 1,6 milhão em 2020 para 1,9 milhão.
Para a Comissão de Justiça, Paz e Integridade da Criação da CRB (Conferência dos Religiosos e Religiosas do Brasil) de São Paulo, “A educação pública no Brasil está sucateada. Não adianta políticas públicas que forcem as crianças e os jovens a irem para Escola, se não encontrarão lá as condições básicas e dignas para uma educação decente”.
Para Dom Valdeci Santos Mendes, bispo de Brejo-MA e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Grito dos Excluídos é uma oportunidade para alimentar a esperança de um mundo melhor, de uma sociedade mais justa e mais fraterna.
O Grito dos Excluídos
O Grito dos Excluídos tem sua origem nas pastorais sociais da Igreja. É uma iniciativa que remonta ao ano de 1995 e surge na 2ª Semana Social Brasileira da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O objetivo é abrir caminhos para pessoas excluídas e marginalizadas na sociedade brasileira. O evento é, portanto, uma ação eclesial.
A escolha da data 7 de setembro é uma alusão e contraponto ao Grito da Independência por Dom Pedro I, em 7 de setembro de 1822, às margens do riacho do Ipiranga, em São Paulo-SP, e se propõe a questionar os mecanismos de exclusão social que ferem os direitos humanos da maior parte da população.
Rosa M. Martins
Mestra em Jornalismo, Imagem e Entretenimento pela Fundação Cásper Líbero, licenciada em Filosofia pela Universidade Salesiana de Lorena (Unisal), bacharela em Teologia pela Pontifícia Universidade São Boaventura de Roma. É missionária scalabriniana e vive em Santo André-SP. Indicada ao Prêmio Tarso Genro de Jornalismo em 2020, foi vencedora do Prêmio Papa Francisco, categoria mestrado, do Prêmio CNBB de Comunicação com a dissertação “Menores estrangeiros não acompanhados: uma análise da representação no fotojornalismo italiano”, em 2021.