Idosos: compromisso missionário

No dia 1º de outubro, recordamos temas importantes. Esse foi o Dia do Idoso, marcando a data em que, em 2003, passou a vigorar o Estatuto do Idoso no Brasil e, na liturgia, a memória da Padroeira das Missões, Santa Teresinha do Menino Jesus.

Por estarmos ainda nos dias em que se destacam as missões, devemos lembrar que esta não se restringe somente ao décimo mês do ano. Por isso, pensar em missões ad gentes é importante, mas temos de nos preocupar também com uma camada da sociedade que tem enfrentado uma situação muito constrangedora de humilhação social e de “etarismo”: a da pessoa idosa.

O que é “etarismo”? Segundo a Sociedade de Geriatria e Gerontologia, “É o preconceito contra os idosos, referente à saúde, à capacidade e empenho, idade, fragilidade”. Principalmente neste tempo de pandemia, temos ouvido, muitas vezes, estereótipos como “não conseguem fazer nada”, “não contribuem com a sociedade”, “são o ônus para a economia”. Chegou-se mesmo a dizer na mídia que, se necessitasse optar por salvar a vida de alguém que estivesse no hospital com covid-19, que fosse privilegiado o mais novo. Além disso, os planos de saúde cobram mensalidades altíssimas quanto mais avançada a idade da pessoa.

Outro dia, uma senhora de 92 anos, queixando-se para um funcionário de determinado banco, disse que morriam mais jovens do que idosos. Ela questionou, então, o porquê de os mais velhos não poderem financiar um apartamento (no caso, quando ela tinha 80 anos).

Esse preconceito deixa indignadas e constrangidas muitas pessoas idosas, ainda lúcidas de suas faculdades mentais. Logo, para combater o etarismo, precisamos informar às famílias e aos próprios idosos sobre seus direitos, erradicando, assim, a humilhação social que muitos têm passado. E o que é humilhação social?

De acordo com o psicólogo José Moura Gonçalves Filho, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, humilhação social “é um sentimento de desigualdade; consiste numa angústia causada por um impacto traumático que se sofre quando alguém o despreza”. Podemos, portanto, considerar uma tortura invisível, quando é psicológica, pela maneira de se falar com a pessoa idosa.

A situação da pessoa idosa no Brasil

Somos 211 milhões de habitantes no País. Destes, temos 28 milhões de pessoas idosas, o que representa 13% da população, conforme dados de 2020 publicados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em 2031, há uma previsão de 43 milhões. A maioria é de baixa renda e tem baixa escolaridade. Os tipos de idosos são variados: urbanos, rurais, aposentados, profissionais, desempregados, os que estão em situação de rua.

De acordo com a antropóloga Guita G. Debert (Unicamp), a categoria idoso é uma “construção social”. Discutida por diversos autores, essa construção retrata o papel do idoso na sociedade antes e depois da Revolução Industrial, na cultura ocidental e nas sociedades milenares, o que varia de um contexto para outro.

Alguns filósofos, no entanto, podem auxiliar com suas reflexões. Por exemplo, Cícero (século I a.C.), filósofo romano, escreve sobre a velhice com otimismo e coragem, aconselhando a refutar quatro aspectos indesejados que costumam rondar o imaginário dos anciãos: 1) o impedimento das atividades; 2) debilitação do corpo; 3) afastamento dos prazeres; e 4) que está à beira da morte.

Outro filósofo, Sêneca (65 d. C.), chama a atenção para a brevidade da vida. Ele recomenda empregar o tempo da melhor maneira, na prática do bem e das virtudes, pois é a única coisa que levamos desta vida.

Com as mudanças culturais no século XX, a filósofa francesa Simone de Beauvoir, ao dedicar-se sobre o assunto, divide em dois momentos a questão: a visão de fora, da sociedade; e a visão de dentro, do próprio idoso. A vida através dos olhos dos idosos, seja pobre ou rico, apresenta seus sentimentos como jovens. Por isso, valorizar os sonhos de bisavós, avós, tias, tios e demais pessoas de idade avançada é uma forma de ter respeito.

O fato de uma pessoa idosa morar ou querer viver sozinha em sua casa ou apartamento não quer dizer que ela é abandonada. Devemos diferenciar o idoso abandonado do idoso independente e daquele que é solitário. Para isso, é importante a presença da Pastoral da Pessoa Idosa (PPI), que tem como objetivo ouvir e levar a Palavra de Deus ao outro por meio de uma visita a esses nossos irmãos e irmãs que nem sempre têm os seus para conversar ou ligar um pouco.

Seja voluntário na Pastoral da Pessoa Idosa. Em sua paróquia ou diocese, procure saber como se inscrever. Esse compromisso missionário deixará felizes muitas pessoas idosas. É mais um serviço da Igreja às famílias que carecem da presença do Estado para orientá-las em suas necessidades.

Maria Terezinha Corrêa
Mestra em Antropologia (USP), especialista em Ensino de Filosofia (UFSCar), graduada em Filosofia (UFJF) e Pedagogia (Unitins), Teologia pelo Mater Ecclesiae, filiada à ABA, APEOESP e SBPC, atualmente professora de Filosofia na Prefeitura de São José-SC, membro da Comissão de Prevenção e Combate à tortura pela ALESC, voluntária na Pastoral da Pessoa Idosa pertencente à Arquidiocese de Florianópolis.

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