Diante das constantes e vastas mudanças sofridas pela sociedade pós-moderna, abordar o tema da inteligência emocional é de grande urgência e necessidade social. Entre as várias mutações dos hábitos sociais, percebe-se inúmeras pessoas sendo desafiadas a “evoluir” para um lugar de intensa liberalidade em seu ato de ser. Isto é, livres de qualquer amarra ou comprometimento comportamental com o outro, são obedientes à não obediência. Tornaram-se reféns de suas emoções. O que sentem tendem a dar vazão ou recalcar. Mas é sobre o equilíbrio entre essas duas margens do mesmo rio que devemos nos importar.
A disciplina das ações pode ser entendida como uma grave ofensa aos deuses da Modernidade que tecem o dogma do “tudo pode”, promovendo uma grande revolução socioemocional das novas gerações em conflito com as regras das gerações que nos precederam.
Tradicionalmente, a inteligência emocional foi entendida como controle das emoções individuais: raiva, medo, desespero, pânico ou qualquer outro exemplo que tipifique uma euforia. No entanto, a inteligência emocional se detém no trato do comportamento pessoal quando essas tais emoções surgem. Não dá para fugir das emoções. Quando elas vêm, é possível controlar o comportamento diante delas, o que se denomina tecnicamente de autocontrole.
Sentir medo na presença de um animal feroz foi o que possibilitou aos seres humanos, no período da caça, por exemplo, desenvolverem sua inteligência espacial e analítica para sobreviverem nos territórios tão hostis, passando de seres caçados para caçadores. Paralisar-se diante do perigo seria, sem dúvida, o comprometimento mais autodestrutivo da espécie humana. Em brevíssimo tempo, seria extinta pelos outros animais, pelo clima e a fome.
As emoções são reações rápidas ao meio observado, apura as estratégias diante do fato sentido. Ficar chateado por alguma ofensa recebida no trânsito, por exemplo, é natural. No entanto, o que se faz com ela se reserva ao amadurecimento ou não da inteligência emocional.
Ora, se o comportamento do indivíduo diante de suas emoções é a linha divisória entre as brigas, ofensas, intolerâncias e tudo o que desune e a possibilidade de evitá-las, notar-se-á, portanto, que cada ser humano estará na bifurcação de uma escolha fugaz: fazer ou não fazer, falar ou não falar, agir ou não agir.
Aperfeiçor o comportamento é fruto de uma luta interior, intensa e constante. Uma espiritualidade que coloque o indivíduo diante das consequências de suas ações é o poder que a educação tem. Fazer o honroso esforço de perceber-se diante da vida e de todos os seus desafios necessita de uma rigidez psicoemocional constante. Ou seja, unir os afetos à razão e a razão aos afetos torna-se o antídoto à vida excessivamente voltada à aprovação dos outros bem como à preservação da vida indiferente à necessidade dos que precisam. A espiritualidade conduz o indivíduo para dentro de si, podendo encontrar, na intimidade de sua existência, os outros, Deus e toda natureza que o cercam, garantindo a vida. Espiritualidade e autopercepção são sinônimas.
Por outro lado, muitos homens e mulheres tendem a emitir um juízo sobre os seus feitos após os executar. É nesse sentido que toda espiritualidade, baseada no silêncio, na percepção das emoções e no autoconfronto com as consequências que as atitudes individuais trazem bem como em sua interferência coletiva, poderá curar as feridas de uma sociedade cada vez mais doente, quando não pensa nas consequências de suas ações antes de agir. Conversar, instruir, ensinar, educar seriam ferramentas poderosas para instruir o indivíduo na posse de si e refletir sobre seu comportamento. Em síntese, essa espiritualidade do quotidiano pede a homens e mulheres uma atenção generosa aos efeitos de suas ações. Controlando o comportamento, as emoções darão lugar à tão cara paz interior. Sentir todos sentem, porém como sentimos é o que nos diferencia dos outros animais. Perceber o outro é perceber-se; perceber-se é perceber o outro.
Assista ao bate-papo sobre inteligência emocional, publicado no canal da Rede de Educação Missionárias Servas do Espírito Santo, no Youtube.
William John Martins é professor de Ensino Religioso no Colégio Imaculado Coração de Maria, Rio de Janeiro-RJ.