Interculturalidade: uma dimensão contemplativa

A contemplação diária do Divino perpassa pelas diferentes expressões culturais, as quais nos conduzem à abertura ao novo, a uma dimensão sinodal.

Quando refletimos sobre a interculturalidade, logo pensamos que esse processo pode resultar em significativos benefícios sócio-histórico-religiosos; ou, pelo contrário, pode deixar marcas negativas, que, muitas vezes, tornam-se questões inconciliáveis.

Ao trabalhar em uma escola de ensino médio, na cidade de Tocantínia-TO, na qual quase 50% dos estudantes eram da etnia Xerente (Akwẽ), percebi que existe uma via de mão dupla na dimensão intercultural. A começar pela comunicação visual, linguística e comportamental. Para esse processo, existe a necessidade de acolhida e abertura de ambas as partes.

Como todo grupo humano, boa parte dos povos indígenas está mergulhada na influência do consumismo, mercantilismo, tecnologia e mudanças drásticas de costumes e valores originários, o que altera significativamente as raízes culturais. Porém, é importante, para quem tem a missão e deseja “con-viver” com outra cultura (neste caso, indígena), dispor-se à prática do respeito, da humildade, da abertura para o aprendizado, livre de preconceitos. Dispor-se à compreensão da humanidade presente em cada uma dessas pessoas-cidadãs-filhas de Deus.

Segundo o professor indígena Valteir Tpêkru Xerente (licenciatura intercultural e mestre em Letras – Ensino de Língua e Literatura), para quem quer se aproximar do indígena, é necessário ter interesse em conviver com esse povo. “É preciso conhecer a cultura por meio de pesquisas, ouvindo as histórias dos antigos, aproximando-se da realidade, convivendo dia a dia. E isso começa pelo aprendizado da língua, que é a identidade de um povo.”

Por mais justo que seja o argumento linguístico, isso nem sempre é possível, por inúmeros motivos: estrutura física, financeira, recursos humanos e tempo, o aprendizado de uma nova língua para se criar laços de interculturalidade. Por isso, contemplar e valorizar, com a alma, os olhos e as mãos, uma nova cultura poderá tornar-se a linguagem que mais aproximará seres de uma única espécie e destino.

Miriam de Souza
Professora de Linguagem e missionária leiga.

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