Irmã Theresia Messner nos propõe viver a fraternidade e a amizade social

A Campanha da Fraternidade deste ano nos convoca a vivermos esta Palavra: “Vós sois todos irmãos e irmãs!” (cf. Mt 23,8). De fato, nossa fé nos recorda que todos temos a mesma dignidade, a mesma natureza e origem, e a mesma vocação e destino, pois “Todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28). 

Desde o início, a geração fundante de nossas congregações fez a experiência de ser uma comunidade missionária intercultural. A Casa Missionária foi fundada inicialmente por Santo Arnaldo Janssen para ser um seminário para preparar missionários de língua alemã para as missões estrangeiras. Devido à perseguição religiosa do “Kulturkampf”, promovida por Bismark, ele teve de fundá-la em Steyl, no território holandês. 

Entre os primeiros candidatos, havia alemães, austríacos, luxemburgueses e holandeses, sendo que, entre os alemães, havia muitos dialetos regionais, e eles tinham dificuldade de entender e se fazerem entender. 

Escreveu uma vez Ir. Theresia Messner (1868-1940), a primeira superiora-geral da Congregação das Missionárias Servas do Espírito Santo, referindo-se ao tempo de sua chegada em Steyl, proveniente do Tirol austríaco: 

Tudo era estranho e novo: as planícies, o clima úmido, as pessoas, o idioma, os costumes, até a comida, enfim, todo o estilo de vida. Tive muitas dificuldades com o idioma. Cada região de língua alemã tem seu dialeto próprio, e isso tornava a comunicação incompreensível.

Um momento duro e de tensões nas comunidades missionárias foi durante a Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918. Era um conflito inédito na época, de dimensões mundiais, com vários países envolvidos, e isso atingia a todos os missionários.

Em setembro de 1917, Ir. Theresia escrevia às nossas irmãs

Queridas irmãs, pertencemos a uma congregação missionária, com irmãs de diferentes países. Se nosso coração sangra por nossos seres queridos e nosso país pelo grande sofrimento que está causando esta guerra, devemos, por outro lado, cuidar de nosso trato com as pessoas e as irmãs de outras nacionalidades, para não ofender sua sensibilidade nacional com comentários pouco caritativos, juízos ou críticas duras.

Em dezembro de 1918, terminada a guerra, retomou o assunto e acrescentou: 

Mas agora, queridas irmãs, o que não devemos fazer? Devemos evitar absolutamente de julgar os inimigos de nosso próprio país e de nos pronunciar sobre o bem e o mal. Esse é assunto de Deus. Sobretudo devemos cuidar de não expressar frieza e falta de caridade em relação a irmãs de outras nacionalidades. Longe de nós permitirmos recriminações mútuas sobre atitudes ou comportamentos incorretos de uma nação para com a outra. Quer sejamos alemães, holandesas, austríacas, britânicas, russas ou americanas, somos todas filhas da grande família de Deus e irmãs da mesma Congregação, unidas por laços de amor.

 

Convite ao diálogo

Um dos desdobramentos da Campanha da Fraternidade deste ano é promover a cultura da paz, que se expressa no respeito, no diálogo e na amizade social. Vivemos hoje numa sociedade dividida. Somos diferentes, mas nós nos dividimos, erguemos muros entre nós e erigimos o diferente como inimigo, para justificarmos sua eliminação de nossa vida. O Papa Francisco não se cansa de convidar-nos ao diálogo e a não ter medo de caminhar juntos, aprendendo e valorizando nossas diferenças.

A palavra “paz” era muito importante para nossa Ir. Theresia. Desde sua infância, foi uma pessoa pacífica; era simples e serena. Ela acreditava que a paz era um dom de Deus que devemos irradiar entre nós. Viver numa atitude de paz, interna e externamente, converteu-se em uma forma de vida para ela, e assim animava as irmãs a desenvolverem essa atitude em todas as circunstâncias: 

Todos podemos praticar o amor, manter a paz e espalhar alegria em nosso redor. Podemos praticar o amor mediante a bondade e a gentileza. Um olhar compassivo, uma palavra amável, um estímulo amoroso, um pequeno ato de amor, tudo isso irradia muito amor. 

Mais adiante, escreveu: 

A paz interior caminha com a prática da virtude e a luta constante contra as más inclinações. Isso requer muita coragem, oração intensa, vontade firme e luta ardente […]. Renunciemos a tudo o que não seja de Deus e de seu amor.

A Família Arnaldina não apenas se constituiu em comunidades interculturais desde os seus primórdios como também foi chamada a se integrar em novos países, com culturas totalmente diferentes. Irmã Theresia insistia com as irmãs enviadas em missão que elas respeitassem as pessoas como eram e não procurassem mudar seu jeito de ser. Escreveu uma vez: 

Se desejamos nos tornar irmãs missionárias, temos de nos adaptar aos usos e costumes dos povos estrangeiros. No Japão ou nos Estados Unidos, as coisas não podem ser como aqui. Uma pessoa que não entende isso demonstra que não ama as pessoas.

Estamos no Mês Missionário. Neste ano, o tema é “Com a força do Espírito, testemunhas do Cristo” e o lema “Ide, convidai a todos para o banquete!” (Mt 22,9). Quem nos dá a força e a inspiração para testemunhar o Cristo é o Espírito Santo. É nessa força do Espírito que, nós, missionárias servas do Espírito Santo, queremos renovar nosso compromisso missionário no próximo Domingo das Missões (dia 20 de outubro), buscando acolher o diferente e promovendo uma cultura de paz, como nos propõe nossa querida Ir. Theresia Messner. Queremos, assim, também nos aproximar do banquete que nos une a todos, como seguidores de Cristo e filhos do mesmo Pai. Somos todos irmãos e irmãs! 

 

Irmã Maria Inês Aragão, SSpS

Membro da Equipe de Espiritualidade SSpS, Província Stella Matutina (Brasil Norte).

 

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