Junho e as vozes da ecologia e do meio ambiente

O mês de junho vem acompanhado de várias notas para reverenciar e cuidar da nossa casa comum, a Terra. Além de temas como educação ambiental, meio ambiente, ecologia, oceanos, vida no mar, mudanças climáticas como seca e desertificação, é o mês que demarca o início do inverno, com o dia mais curto do ano, demonstrando delicada relação de equilíbrio como Cosmos que afeta a organização de nosso dia a dia, do vestuário e alimentação até nossas horas de sono.

Ao prestigiar o Dia Mundial do Meio Ambiente, dias depois de o Congresso Nacional mutilar o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, a ministra Marina Silva destacou:

Hoje é dia de termos consciência de que nosso tempo para agir está se esgotando e assumirmos definitivamente o que a ciência nos diz: ou respeitamos a natureza, e fazemos dela uma aliada, ou inviabilizaremos nosso futuro. Por tudo isso, faço desta data um convite para nos unirmos numa inadiável missão: a de tratar a natureza da forma correta, num esforço em benefício da nossa e das futuras gerações.

A voz de Marina não ecoa solitária nesse cenário de crise ecológica. À sua convocação somam-se a sabedoria indígena, representada por Ailton Krenak; a tese do cuidado, defendida escritor e teólogo Leonardo Boff; e as orientações da Encíclica do Papa Francisco (2015), Laudato si’: sobre o cuidado da casa comum. Nesse documento, o Papa convoca:

Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental que vivemos e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós. O movimento ecológico mundial já percorreu um longo e rico caminho, tendo gerado numerosas agregações de cidadãos que ajudaram na consciencialização. Infelizmente, muitos esforços na busca de soluções concretas para a crise ambiental acabam, com frequência, frustrados não só pela recusa dos poderosos, mas também pelo desinteresse dos outros. As atitudes que dificultam os caminhos de solução, mesmo entre os crentes, vão da negação do problema à indiferença, à resignação acomodada ou à confiança cega nas soluções técnicas. Precisamos de nova solidariedade universal. Como disseram os bispos da África do Sul, “são necessários os talentos e o envolvimento de todos para reparar o dano causado pelos humanos sobre a criação de Deus”. Todos podemos colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades.

É importante destacar, não só no mês de junho, que a Laudato si’ passa por questões urgentes, como poluição, resíduos e cultura do descarte; clima como bem comum; água; perda da biodiversidade; desigualdade planetária; deterioração da qualidade de vida humana e degradação social. Além disso, o Pontífice chama a atenção para a relação tecnologia, criatividade e poder; a fraqueza das reações; a globalização do paradigma tecnocrático; as consequências decorrentes da crise gerada pelo antropocentrismo moderno.

A Encíclica situa a ecologia como tema central, relacionando-a com questões ambientais, econômicas, sociais, culturais e a vida cotidiana; defende o princípio do bem comum e da justiça intergeracional. O Papa Francisco apresenta orientações para ação fundamentadas no diálogo e na educação. O diálogo é considerado estratégia para desafios ambientais, política internacional, novas políticas nacionais e locais, transparência nos processos decisórios, interação entre política e economia para a plenitude humana, e relação entre religiões e ciências. Educação e espiritualidade ecológicas, por sua vez, devem guiar para outro estilo de vida, para a conversão ecológica, para a aliança entre a humanidade e o ambiente. O Papa finaliza propondo duas orações: a primeira pela nossa Terra, a segunda pela criação, fechando a Encíclica com as palavras:

Deus de amor,
mostrai-nos o nosso lugar neste mundo
como instrumentos do vosso carinho
por todos os seres desta terra,
porque nem um deles sequer
é esquecido por Vós.
Iluminai os donos do poder e do dinheiro
para que não caiam no pecado da indiferença,
amem o bem comum, promovam os fracos,
e cuidem deste mundo que habitamos.
Os pobres e a terra estão bradando:
Senhor, tomai-nos
sob o vosso poder e a vossa luz,
para proteger cada vida,
para preparar um futuro melhor,
para que venha o vosso Reino
de justiça, paz, amor e beleza.
Louvado sejais!
Amém.

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Referências
SILVA, M. Pronunciamento da ministra do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, Marina Silva, em rede de rádio e televisão, por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente, em 5 de junho de 2023. Disponível em: https://www.gov.br/mma/pt-br/assuntos/noticias/nosso-tempo-para-agir-esta-se-esgotando-diz-marina-silva-em-pronunciamento-do-dia-mundial-do-meio-ambiente. Acesso em: 13 jun. 2023.

DICASTÉRIO PARA O SERVIÇO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO INTEGRAL; STOCKHOLM ENVIRONMENTAL INSTITUTE. A nossa casa comum: um guia para cuidar do nosso planeta vivo. Disponível em: https://www.sei.org/wp-content/uploads/2022/11/a-nossa-casa-comum-sei-vatican-20221128.pdf. Acesso em: 14 jun. 2023.

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Marli Teresinha Everling
Professora dos cursos de Graduação e Pós-graduação em Design da Universidade da Região de Joinville (Univille); coordenadora do Projeto Ethos – Design e relações de uso em contexto de crise ecológica; colaboradora do Instituto Caranguejo de Educação Ambiental (caranguejo.org.br); colaboradora do blog SSpS para temas ambientais; colaboradora das redes sociais do design para temas ambientais – Instagram (@designuniville).

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