Estamos vivendo um mês de euforia para milhares de brasileiros, devido às expectativas para a festa do carnaval. Para outros milhares, há a expectativa para o início do grande retiro espiritual da Igreja Católica: a Quaresma. Para muitos, o tema deste artigo não seja apropriado para o momento. No entanto, ele é relevante, porque perpassa todas as fases de nossa vida. Até mesmo porque luto não tem a ver somente com a morte física de uma pessoa. Por esse motivo, é importante pensar no assunto antes que ele se torne realidade em nossa vida, pois é quase impossível pensar numa pessoa que não vivenciou tal momento.
Quando pensamos em luto, a primeira memória que temos é a do luto pela perda física de uma pessoa. Imagens antigas nos vêm à mente, principalmente aquela do ritual após a morte de um ente querido: o de vestir-se de preto e respeitar a memória do falecido, nos primeiros dias e até meses. Isso varia de acordo com cada cultura. Embora o ritual faça parte de todo tipo de luto, nem todo luto é igual ou se limita somente à perda física de uma pessoa.
Para a psicanálise, “O luto, de modo geral, é a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a liberdade ou o ideal de alguém, e assim por diante” (Freud, 1915/1917). Com base nessa conceituação psicanalítica, podemos constatar que várias situações que já vivemos tiveram a característica de um luto, sem termos necessariamente vivenciado uma morte física de uma pessoa querida. Outras situações de luto: o término de um relacionamento amoroso, o rompimento de uma amizade, uma separação matrimonial, uma mudança para outro país ou outra cultura. Até mesmo uma transferência de um local de trabalho, uma mudança de faixa etária, uma demissão do emprego, uma aposentadoria, etc., podem ser vividas como um luto.
O luto “saudável” nos ajuda no desenvolvimento humano. Ele deveria ser superado sempre. É o curso normal da vida. Para isso precisa de elementos internos e externos. Por elementos internos, subentende-se nossa bagagem histórica, nossos valores, nossas crenças, nossos projetos de vida, nossa educação familiar e intelectual. Por elementos externos compreende-se a cultura e o ambiente em que vivemos; o meio externo. As amizades, a família e a comunidade social na qual estamos inseridos são essenciais.
Às vezes, com a melhor “das intenções”, podemos atrapalhar o processo de elaboração do luto de uma pessoa querida por nós. Muitas vezes, apressamos o processo, exigindo que a pessoa se apresse a “voltar ao normal”. Frases como “você é uma pessoa jovem, alegre, bonita, tem um bom emprego…” mais atrapalham do ajudam. Isso porque a pessoa se sente mais culpada ainda por estar vivendo esse período. É preciso lembrar que cada um tem seu processo particular.
“Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derrubar e tempo de edificar. Tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de dançar” (Eclesiastes 3,1-4).
Pe. Aparecido Luiz de Souza, SVD
Psicólogo.