Acredito que todos nós já ouvimos falar sobre as principais histórias bíblicas e seus personagens na vida de Jesus. Maria Madalena esteve à frente de seu tempo e não era uma prostituta. Se ela não era prostituta, quem era de fato Maria Madalena? E o que sabemos dela? Para responder a essas perguntas e falar sobre essa mulher, vamos colocar dois pontos importantes: a proximidade com Jesus entre os apóstolos e sua busca no episódio da ressurreição do Senhor.
Analisemos primeiramente o próprio nome. Maria é Míriam, o qual é um substantivo composto de duas raízes, uma egípcia (myr), que significa “a amada”, e (yam), uma abreviação de Yavhé, ou Deus. Assim, Maria significa “amada de Deus”. Seu “sobrenome”, Mágdala, vem do nome da cidade onde ela nasceu, ligado a substantivo hebraico (migdal), que significa “torre”. Então, Maria Madalena é “a mulher da torre”, é aquela que guarda os ensinamentos de Cristo. No mundo antigo, a torre era o lugar que mais se sobressaía nas cidades, e Maria Madalena também foi aquela que se distinguia diante dos apóstolos. Seu papel na história do cristianismo está nos quatro Evangelhos e no Evangelho de Maria Madalena. Ela foi a mulher que tanto amou, mas, com o tempo, foi menosprezada por causa da aversão à liderança feminina na vida da Igreja.
A Igreja Ocidental desenvolveu algumas tradições nas quais Maria Madalena foi identificada com a mulher pecadora que está em Lucas (7,36-50). No entanto, não há qualquer indício histórico que dê suporte a essa ideia. Na verdade, as evidências dos Evangelhos canônicos demonstram argumentos contra tal identificação. As interpretações apresentadas ilegitimamente a colocaram num processo de “fusão” de atributos inverídicos que culminaram por macular suas virtudes, e essas fraquezas não estariam relacionadas com liderança ou mesmo com a questão de profetizar.
Nos Evangelhos, encontramos muitas mulheres que seguiam Jesus desde a Galileia, e uma delas é Maria de Mágdala ou Maria Madalena. Nos quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), Maria Madalena foi mencionada três vezes. Na primeira (Lucas 8,1-3), relata-se que ela fazia parte do grupo de mulheres que seguiam Jesus e o serviam, isto é, supriam as necessidades de seu grupo e o assistiam financeiramente no curso de sua missão. Assim, Lucas enumera Maria Madalena como a primeira mulher que acompanhou Jesus em seu caminho. Lucas também afirma que dela saíram sete demônios (Lucas 8,2), dos quais Jesus a libertara. Se refletirmos mais profundamente o contexto, ela se livrou de seu desapego interior, do distanciamento de si mesma; ela saía de si para encontrar sua verdadeira força de amar. Assim Maria Madalena se tornou capaz de amar com base naquilo que se encontrava dentro de si. Ela amava Jesus com sua recém-desperta força de amar.
Na segunda vez, no Evangelho de João, encontramos Maria de Mágdala junto com Maria, mãe de Jesus e com outra Maria, dita de Cléofas, aos pés da Cruz (João 19,25). Esse dado foi citado também em Mateus (27,55ss), que mostra como Maria Madalena acompanhou Jesus desde seu caminho da Galileia até a crucificação no Gólgota. Em seguida, em João, nós a encontramos de novo, no túmulo de Cristo, na manhã da ressurreição, aonde ela fora para completar o embalsamamento de Jesus com aromas. Ela descobriu a tumba vazia, como está nos textos dos evangelistas: Mateus (28,1), Marcos (16,1ss) e Lucas (24,1), que mostra sua procura por Cristo crucificado.
João descreve Maria Madalena como a primeira mulher que se levantou pela manhã, foi até o túmulo e viu Cristo ressuscitado. E ela se tornou a Apostola Apostolorum (“Apóstola dos Apóstolos”), nas palavras de Santo Agostinho. João escreve uma cena em que Maria se dirige ao túmulo e encontra o Ressuscitado, como uma história do encontro de amor. Com isso, percebermos que Maria Madalena vivencia uma transformação de seu amor em Jesus ressuscitado. E ela é a apóstola de Jesus e líder entre os apóstolos quando da ressurreição de Cristo. Ela é mulher que esteve à frente de seu tempo e a liderança na primeira hora do cristianismo.
Por fim, das menções dos quatro evangelistas, conseguimos ver e refletir a busca da proximidade de Maria Madalena com seu Mestre desde a Galileia até a ressurreição. A proximidade que vem de seu interior, que se leva num encontro e quer abrir-se e mostrar seu ser, quem ela é. A proximidade que leva a uma libertação interior de sua dor profunda dos sete demônios. A proximidade que a leva ao encontro com o Cristo ressuscitado e a ser testemunha da ressurreição do Mestre. Assim, Maria Madalena, a santa, celebrada em 22 de julho, apresenta-nos a proximidade de amor com Jesus e nos leva à busca do encontro com Nosso Senhor ressuscitado.
E “eu”? Como está minha busca para aproximar-me de Deus em minha vida hoje? Qual atitude de Maria Madalena presente nos Evangelhos preciso levar para minha busca do meu Senhor?
Irmã Maria Adelina Naat, SSpS
Juniorista na Congregação das Irmãs Missionárias das Servas do Espírito Santo, estudante de Teologia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).