Neste tempo de quarentena ou de distanciamento social, aproveitemos para refletirmos sobre a vida social, além da pessoal e familiar. Este quinto mês do ano, conhecido por “maio”, conforme calendário juliano e gregoriano, significa “tempo de flores e alegrias; primavera” (Dicionário Novo Aurélio). Como assim? No Hemisfério Sul, estamos em plena estação do outono! No mesmo dicionário diz que outono é “tempo de cair as flores, as folhas; decadência”.
O que há então em comum entre os hemisférios Norte e Sul em relação ao mês de maio? O calendário litúrgico. Maio é tempo pascal, de alegrar-se com o Ressuscitado, de preparar-se para Pentecostes, de devoção a Maria, mãe de Jesus e dos cristãos católicos, de homenagear as “Marias” mães, que dão a vida e buscam o pão como trabalhadoras junto com os trabalhadores.
As “Marias” aqui representam todas aquelas que se identificam com as mulheres que anunciam a vida, geram a vida, cuidam da vida, propagam a vida. Marias mães, benzedeiras, bombeiras, carcereiras, cabeleireiras, confeiteiras, costureiras, cozinheiras, enfermeiras, engenheiras, pedreiras, rendeiras; Marias agricultoras, cantoras, cuidadoras, evangelizadoras, inventoras, pastoras, professoras; Marias cientistas, diaristas, jornalistas, recepcionistas; Marias domésticas, médicas, profissionais ou do lar, todas são essenciais. Marias afro-indígenas, ciganas, brasileiras e estrangeiras.
Muitas autônomas, heroínas invisíveis, mesmo em tempos de pandemia, lutando não só contra o covid-19, mas contra as desigualdades sociais, sendo solidárias, samaritanas nas ruas, nas comunidades, nos hospitais. Muitas “Marias” fazendo máscaras, refeições, montando kits de higienização, procurando estar presente mesmo em “isolamento”, buscando um jeito de “estar presente”.
Há muitas Marias que vão com as outras. Mas há outras que vão com Maria de Nazaré. Modelo de mulher orante (Lc 1,46-56; At 1,14), de mãe forte, serena e companheira (Lc 8,1-3), de disposição, de generosidade (Lc 1,39-45), de atenção e de solidariedade (Jo 2,1-5), de discípula fiel e perseverante nos cuidados com aqueles que lhe foram dados como filhos, na pessoa do apóstolo João (Lc 8,1-3; Jo 19,25-27), de anúncio, de esperança para uma vida nova (Lc 23,49; 24,9-11). Há muitas Marias de Deus, Marias da caridade, Marias que estão a caminho do túmulo, mas, ao encontrar Jesus, voltam para as veredas do anúncio da vida.
Precisamos, neste tempo de pandemia, ser como Maria que, por várias vezes, apareceu aos mais humildes, anunciando a verdadeira alegria (em Fátima, em Lourdes, em Aparecida e tantos lugares). Ao cuidarmos uns dos outros, sejamos esperança, como os profissionais da saúde do corpo; sejamos trabalhadores da saúde espiritual, para nos mantermos psiquicamente saudáveis.
Mesmo com a casa de porta fechada, abramos a “porta” do nosso coração, buscando, como os primeiros cristãos, os quais, mesmo fechados no Cenáculo, mantinham-se unidos em oração e nos cuidados uns para com os outros. Façamos nossa parte, que o Espírito do Senhor vem nos iluminar. Sejamos serenos como Maria, que passou pela dor vivenciando o amor, trabalhando em silêncio e harmonia com os trabalhadores do bem, sendo a serva do Espírito Santo, presente nos lugares mais necessitados.
Atualmente os trabalhadores andam angustiados pelas incertezas que sondam a vida da sociedade. É nessa hora que nossa contribuição deve transformar-se em ação, em benefícios para com o próximo. Unidos, construiremos juntos um mundo melhor, onde o Amor Maio(r) florescerá, e assim, possamos alegrar nossas vidas, não como os ímpios o fazem em meio à ganância e à corrupção, mas voltados para a vida de fé e de comunhão fraterna.
Que Maria nos socorra em meio a essa pandemia e socorra as Marias que cuidam dos Joões e demais irmãos trabalhadores nessa travessia. Que o Espírito Santo ilumine os cientistas para, mais uma vez, trazer-nos a cura que nos assegure a volta do convívio social em harmonia.
Maria Terezinha Corrêa
Mestra em Antropologia, especialista em Ensino de Filosofia, graduada em Filosofia e Pedagogia, Teologia pelo Mater Ecclesiae, filiada à ABA, APEOESP e SBPC; professora de Filosofia, membro da Comissão de Prevenção à Tortura (ALESC), voluntária na Pastoral da Pessoa Idosa pertencente à Arquidiocese de Florianópolis.