O Mês da Bíblia, comemorado em setembro, já é uma tradição na Igreja do Brasil. A iniciativa, surgida na Arquidiocese de Belo Horizonte-MG, em 1971, tem suas raízes no Concílio Vaticano II (1962-1965), que incentivou o acesso de todos os fiéis à Sagrada Escritura. A escolha do mês está ligada à memória litúrgica de São Jerônimo (340-420), celebrada em 30 de setembro.
Presbítero e reconhecido Doutor da Igreja em 1567, Jerônimo amou profundamente a Palavra de Deus. A ele devemos uma vasta obra, com estudos, homilias, cartas, tratados, preces e até contestações de textos questionáveis e de heresias. Um preciosíssimo tesouro de sua obra é a tradução da Bíblia do hebraico e do grego para o latim, a chamada Vulgata. Assim, a Escritura pôde chegar a mais pessoas de todo o mundo.
O santo é considerado um dos mais eruditos Padres da Igreja no Ocidente. Ao elaborar a obra De viris illustribus, uma biografia de 135 autores cristãos, judeus e pagãos, Jerônimo se incluiu na lista. Parece estranho para nossa cabeça de hoje, mas, convenhamos, ele estava certo.
Obviamente, a Palavra está presente na vida da Igreja ao longo de todo o ano. É um mito dizer que os católicos não leem nem meditam a Bíblia. É uma pena, mas essa ideia errônea é assumida até por alguns fiéis mais “distraídos”. Basta lembrar que, se alguém acompanha com assiduidade as celebrações dominicais, em três anos, terá acessado os principais trechos da Bíblia, seja do Antigo, seja do Novo Testamento. Isso também vale para quem medita as leituras propostas para a liturgia de segunda-feira a sábado. Nesse caso, em dois anos, conhecerá as mais importantes passagens das Escrituras.
Profeta Ezequiel
A celebração do Mês da Bíblia tem objetivos importantes: aproximar os fiéis da Palavra de Deus, promovendo uma leitura orante e reflexiva da Palavra, e fomentar o estudo bíblico. É uma oportunidade de fortalecer a fé, a missão evangelizadora e, claro, o conhecimento da Revelação Divina.
A cada ano, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) propõe como tema central um livro. Em 2024, escolheu o do Profeta Ezequiel, com o lema “Porei em vós meu espírito e vivereis” (Ez 37,14). Ezequiel viveu um período dramático na história dos judeus, quando grande parte do povo sofreu o Exílio da Babilônia (586-538 a.C.).
Como todo verdadeiro profeta (vocábulo que pode significar “porta-voz” ou “intérprete”), Ezequiel denuncia as trevas, corrige e dirige ao povo uma mensagem de esperança e renovação. Seu texto é carregado de magníficas construções literárias. Uma das mais famosas é a do vale dos ossos secos para o qual o profeta é levado (Ez 37,1-14). Deus transforma aqueles esqueletos (alegoria da morte e da desesperança) em pessoas, formando um grande exército. É um sinal, para todos os tempos, de que Deus, o autor da vida, sempre tem a última palavra.
Um trecho no capítulo anterior é a promessa de Deus de dar a seu povo um novo coração e um novo espírito, valorizando a atitude de conversão de uma grande comunidade que havia se desviado do caminho (cf. Ez 36,26-27). Uma mensagem muito viva para nossos dias, nos quais continuam a eclodir as mais diversas formas de injustiça e violência contra o ser humano e a natureza.
Recordemos a célebre frase de São Jerônimo: “Ignorar as escrituras é ignorar a Cristo”. Que o Pão da Palavra, no qual Jesus também está presente de forma real, nos alimente o ano inteiro e nos conduza no caminho da justiça, da paz, do amor. Não tenhamos medo de nos aproximar desse tesouro.
Para saber mais
Mês da Bíblia: homenagens além dos aplausos
Nove curiosidades sobre a Bíblia
7 dicas definitivas para criar o hábito de ler a Bíblia
Alessandro Faleiro Marques
Membro das equipes de Comunicação SSpS Brasil e de Espiritualidade da Província SSpS Brasil Norte, diácono na Arquidiocese de Belo Horizonte.