Pela primeira vez, os estudantes da Europa estão fazendo uma greve por uma causa ambiental. O movimento tem como lema “#fazpeloclima”. Nesta última semana, milhares de jovens foram às ruas das principais cidades do continente. Querem aliar suas vozes às dos mais de 9 milhões de estudantes que, segundo estimativas, aderiram à convocação mundial “#schoolstrike4climate” e “#fridaysforfuture”. Eles pretendem garantir o direito a uma vida que não esteja ameaçada pelas alterações climáticas e pela inação de muitos governantes. “A solução está nesta geração”, lembram.
Entusiasmados, os jovens pintam as letras em torno de um globo azul desenhado nos cartazes de um metro e meio de largura. “Cuide do planeta como cuida de você” ou “Nós queremos ter uma Terra para habitar” são algumas das palavras de ordem.
“Se as pessoas forem conscientes de que o mundo está precisando de uma ajuda, vão ver que esses movimentos são importantes”, afirma convicto Wilson, um jovem português, do alto de seus 12 anos. “Se as pessoas não abrirem os olhos para esses problemas, não haverá evolução”, reforça a colega Leonor, de 11, enquanto pintam um planeta com um olhar triste diante do que lhe está acontecendo.
Em Portugal, país tão próximo a nós brasileiros, a adesão à greve climática estudantil começou a ganhar forma em janeiro, pela mão de duas estudantes da escola secundária de Palmela, Matilde Alvim e Beatriz Barroso. Elas chegaram a pensar sentar-se, em protesto, na escadaria do parlamento. Pelas redes sociais, sobretudo no Instagram e no WhatsApp, a ideia foi ficando mais consistente. O grupo foi crescendo, e a adesão à greve mundial pelo clima ganhou forma. A coordenação conta agora com cerca de 40 estudantes de vários níveis de ensino, do básico ao universitário, de várias partes daquele país.
Os jovens inspiram-se na adolescente sueca Greta Thunberg, de 16 anos, que iniciou a primeira greve escolar numa sexta-feira de fins de agosto, sozinha, em frente ao parlamento sueco. “Há quem diga que eu devia estar na escola: mas por que devo preparar-me para um futuro que pode não existir?”, questionou Greta, durante uma palestra na TEDx, em Estocolmo, em novembro. No mês seguinte, discursava na Cúpula do Clima da ONU, na Polônia, acusando os líderes mundiais de não serem “Suficientemente maduros para encarar os fatos e deixarem o peso das alterações climáticas para as crianças”.
Em janeiro último, no Fórum Econômico Mundial de Davos, atirou: “Eu não quero que sejam esperançosos, quero que entrem em pânico. Quero que sintam o medo que eu sinto todos os dias e depois quero que ajam”. A mensagem de Greta repete-se em suas intervenções e contagia outros jovens: “Vocês estão roubando nosso o futuro!”. Nestes dias, a adolescente foi nomeada candidata ao Prêmio Nobel da Paz.
Por todo os países europeus têm surgido oficinas para fazer cartazes e atrair mais jovens para a causa. “Admito que tenho sido um colega um pouco chato”, diz Duarte Antão, de 18 anos, estudante de Direito em Coimbra e um dos membros do comitê organizador. Duarte conta que têm sido contatados pelas mais variadas associações e “até por um jardim de infância no Porto, que quer levar 30 crianças à manifestação”. “Há muito por fazer e, segundo os cientistas, temos 12 anos para agir, senão será demasiado tarde”, sublinha o jovem estudante de Coimbra.
“O movimento é descentralizado e incentiva o empoderamento e o ativismo jovem. Queremos chamar a atenção para a urgência na ação”, sublinha Carolina Silva, de 18 anos, estudante de Psicologia também em Coimbra. A seu lado, Matilde Alvim, Rita Vasconcelos, Margarida Marques, Beatriz Barroso e Duarte Antão acenam em confirmação. “Esta greve é só o começo”, sublinham numa declaração conjunta. “Com certeza, os jovens acordaram!”
Os jovens no mundo chamam a atenção para a “urgência da ação”, na qual incluem a aposta nas energias renováveis (sobretudo na solar), o fechamento das centrais termoelétricas e o fim da exploração de combustíveis fósseis.
É preciso reduzir em 55% as emissões de gases de efeito de estufa, como o CO2, até 2030, e em 85% até 2050. Estima-se também que, em meados do século, as emissões que restarem serão compensadas pelas florestas que, vão absorvê-las.
Para os jovens, porém, principalmente da Europa, falar em “metas para 2050 é incoerente com a urgência” e defendem que cabe aos governos priorizar essa questão. Lembram que o degelo dos polos se acentua, que a subida do nível do mar é cada vez mais crescente e que os fenômenos climáticos extremos são sentidos cada vez mais com frequência. Diante dessa realidade, afirmam convictos: “Continuamos decididos, empenhados e atentos, e lutando por ter um ambiente sadio onde possamos ter um futuro”.
“Nós, os jovens, começamos a nos mexer. Nós vamos mudar o destino da humanidade, quer os adultos, os governos, gostem ou não. Unidos vamos elevar a nossa voz até vermos concretizada uma justiça climática. Exigimos que quem toma as decisões do mundo assuma a responsabilidade e resolva a crise climática”, declaram os organizadores da greve. Os jovens estão dando o primeiro grande passo, mas não querem ficar por aí. Eles mostram-se atentos e rebeldes por uma causa de salvação da humanidade.
Irmã Luciana Rzepka, SSpS – Professora universitária, educadora, teóloga, bióloga, palestrante, pós-graduada em Ciências da Religião, mestranda em Teologia Bíblica.