O Centro de Integração do Migrante (CIM) é um espaço alternativo de formação e orientação para migrantes, localizado no bairro do Brás, na região central da cidade de São Paulo. A obra está a caminho de seu quinto aniversário, em dezembro próximo.
O CIM é uma das frentes de missão das irmãs missionárias servas do Espírito Santo na cidade de São Paulo. Hoje somos três irmãs aqui: irmãs Lucilene Soares, Nadir Pereira e Malgarete Conte.
O CIM realiza sua missão em parceria com outras instituições, como Missão Paz (padres escalabrinianos), Caritas, Veredas (USP), Mary Knoll, Colégio Espírito Santo, Congregação dos Missionários do Verbo Divino (SVD). O centro também conta com a contribuição de muitos outros voluntários e voluntárias que dedicam seu tempo e seus talentos para acolher, servir e ser solidário com nossos irmãos migrantes, diante do quadro de mobilidade em que vivemos na cidade.
As ações realizadas no CIM são diversificadas, buscando atender às necessidades e demandas dos migrantes que aqui chegam. Para crianças, as atividades são diárias: brincadeiras, reforço escolar, inglês, artes, educação física, computação. Para adolescentes e adultos, há atendimentos e suporte com a documentação, plantão psicológico, jurídico, assim como aulas de português, informática, manutenção de computadores, bolos e salgados, empreendedorismo e espanhol.
O CIM também oferece atendimento em geral ao público durante a semana, como o Bazar da Solidariedade. As roupas obtidas em doação são vendidas a preço simbólico para quem mais necessita.
Também o CIM é o lugar do encontro, da acolhida, da partilha do conhecimento cultural. Aqui nos reunimos para celebrar as festas das culturas, dias de festa, e celebrações. Um espaço de vida e alegria.
Com toda essa demanda, e com a participação de muitos migrantes, percebemos a necessidade de um espaço maior para poder atender melhor e com mais condições a cada pessoa que vem até o CIM. Com isso, neste ano, foi adquirido um novo espaço, no mesmo bairro. O local é maior e com mais possibilidades de trabalho e integração com os migrantes. Precisa passar por um processo de restruturação, para já podermos encaminhar os novos trabalhos.
De coração aberto e portas fechadas
Faz mais de dois meses que, por conta da pandemia, tivemos de fechar o atendimento, assim como todas as atividades que realizávamos em conjunto com outros amigos e parceiros do Centro de Integração do Migrante. Hoje socorre muitos migrantes e brasileiros que perderam sua renda por falta de trabalho, e vivem em uma realidade de fome e de necessidades básicas. Impelidas diante dessa nova situação, somos chamadas a realizar algo, mesmo com as portas fechadas.
E assim, com a colaboração generosa de tantos amigos e pessoas de boa-fé, de organizações, Igrejas que realizaram doações com cestas básicas de alimentos, higiene pessoal e limpeza, podemos garantir ao menos o básico para tantos irmãos e irmãs nesta grande cidade de São Paulo.
Temos a oportunidade hoje de ser “ponte” e realizar a “entrega” dessas doações. Com isso, podemos abrir as portas ao menos uma vez por semana e realizar a doação desse material que, com alegria, recebemos.
Por este tempo de pandemia, é assim que realizamos a missão a qual Deus confia a nós, valorizando a solidariedade do povo que oferece com alegria generosa.
“A pandemia mudou a minha vida”
Para os migrantes que frequentam o CIM, a pandemia está somando dificuldades ainda maiores àquelas que normalmente enfrentam. A boliviana Dionísia explica: “Eu me sinto triste porque não sabemos quanto tempo mais vai durar, quando vai terminar. Parece que esta pandemia veio para ficar conosco. Gostaria de sair com minha família, mas não posso”.
Para a menina Annalia Boliva, de 8 anos, e seu pai Abel Boliva, 39, a situação é crítica. Eles são da Venezuela e moram num pequeno quarto alugado no bairro do Belenzinho, em São Paulo-SP. A mensalidade consome dois terços do salário de Abel, que está no Brasil há cerca de 2 anos e meio.
Annalia chegou há 11 meses e conta: “A pandemia mudou a minha vida. Agora estou estudando na minha casa, que é um quartinho pequeno. Eu estudo, assisto à tevê, leio a Bíblia e fico aguardando o meu pai, que vai trabalhar das 5 da madrugada até 5 horas da tarde”.
Antes ela ia para a escola de manhã e, depois, para o Educandário São José, no bairro do Belém. Frequentava as aulas de informática do CIM. Annalia diz que sente saudades das irmãs, do vovô Angel (um dos voluntários que precisou ser hospitalizado por causa do covid-19 e que está se recuperando), dos coleguinhas e dos brinquedos.
Abel relata que não estão fáceis estes três meses de confinamento. “Graças a Deus, continuo trabalhando, mas minha filha, minha companheirinha de 8 anos, não pode mais ir à escola nem ao Centro do Migrante. Está confinada em um quarto onde vivemos só ela e eu, passa 24 horas aqui… Mas estamos vivos, temos saúde e seguimos lutando”, diz.
Antes da pandemia, Abel complementava o salário fazendo bicos à noite e nos fins de semana. Dessa forma, ele conseguia se manter e enviar alguma coisa para ajudar a família na Venezuela. Agora mal consegue pagar as despesas. Ele também sente falta do Centro de Integração do Migrante, que considera um grande apoio e do qual tem prazer em participar.
Irmã Lucilene Ferreira Soares é missionária serva do Espírito Santo, está concluindo o Curso de Teologia e faz parte da equipe do CIM.