A educação está em constante evolução, e o papel da tecnologia no ambiente escolar tem se tornado cada vez mais central para o desenvolvimento de habilidades essenciais no século XXI. No Colégio Stella Matutina, em Juiz de Fora-MG, membro da Rede de Educação Missionárias Servas do Espírito Santo, a iniciativa “Missão Sem Fronteiras” exemplificou essa transformação, conectando o uso da inteligência artificial (IA) e a alfabetização algorítmica a um propósito maior: a formação de cidadãos críticos e conscientes sobre o impacto dos algoritmos no cotidiano de suas vidas.
Durante essa ação educativa, os professores Tiago Reis e Onésima Marques conduziram uma apresentação inspirada no trabalho da educadora midiática Mariana Ochs, sobre letramento algorítmico, intitulada “Making the invisible visible: exploring algorithmic literacy in Brazilian education”, representando o Instituto Palavra Aberta e o EducaMídia na GlobalMILWeek (24 a 31 de outubro). Essa abordagem busca não apenas ensinar sobre tecnologia, mas também levantar questões sobre como os algoritmos moldam nossas interações e decisões diárias, muitas vezes sem que tenhamos plena consciência disso.
IA como ferramenta criativa e reflexiva
Com a orientação dos professores, os alunos utilizaram o Estúdio Mágico do Canva para criar imagens que retratassem as irmãs missionárias servas do Espírito Santo em suas diversas atuações pelo mundo. Essa atividade serviu como um ponto de partida para explorar o potencial da IA no campo visual e artístico, permitindo que os estudantes refletissem sobre o impacto cultural e social da Congregação ao longo de sua história global.
Ao usar a IA para criar essas representações, os alunos aprenderam a dominar uma ferramenta digital e foram convidados a refletir sobre os processos invisíveis por trás de sua criação: os algoritmos que analisam, interpretam e transformam dados em resultados visuais. Essa experiência foi mais do que apenas técnica; foi uma maneira de tornar visível o que, muitas vezes, permanece escondido: a maneira como a IA molda e influencia o que vemos e experimentamos no mundo digital.
“Foi muito interessante como os alunos, além de conhecerem a missão das irmãs missionárias servas do Espírito Santo ao redor do mundo, puderam, por meio da inteligência artificial, explorar outras congregações religiosas, culturas, religiosidades e diversidades. Destaco também a importância de abordar o uso da vestimenta (hábito), um elemento distintivo das servas do Espírito Santo, que têm um carisma missionário e uma espiritualidade trinitária”, comentou irmã Teresita Luján Sotelo, natural da Argentina, com 32 anos de vida consagrada e 35 anos de Congregação.
Reflexão e educação crítica: a IA como mediadora da realidade
Um dos principais questionamentos levantados pela equipe pedagógica e que ecoou entre os alunos foi “Como estamos abordando o vocabulário, os conceitos e os dilemas de uma realidade algorítmica mediada pela IA?”.
Essa pergunta provoca uma reflexão profunda sobre a maneira como a educação precisa evoluir para integrar uma compreensão mais crítica e consciente das tecnologias que nos rodeiam. Em um mundo cada vez mais mediado por algoritmos, os educadores têm o papel crucial de preparar os alunos para compreenderem a lógica dessas ferramentas e os impactos éticos, sociais e culturais, e os vieses que elas trazem.
Na prática, isso significa ir além do ensino técnico das ferramentas digitais. Trata-se de capacitar os estudantes a questionarem como os algoritmos funcionam, como são desenvolvidos e, mais importante, como afetam diferentes aspectos de suas vidas, desde as redes sociais até o mercado de trabalho e as interações sociais. A alfabetização algorítmica é fundamental para que os jovens não sejam apenas consumidores passivos de tecnologia, mas atores conscientes, capazes de criticar e influenciar o desenvolvimento dessas ferramentas.
O futuro da educação: preparando cidadãos para a Era Digital
O projeto Missão Sem Fronteiras no Colégio Stella Matutina demonstra como o uso da IA pode ser um ponto de partida para uma educação mais integrada e crítica. O trabalho orientado pelos professores Tiago e Onésima não só utilizou a tecnologia como meio para expressar a história das missionárias servas do Espírito Santo, mas também abriu espaço para discussões sobre o papel da IA em nosso cotidiano.
“A integração entre a Dimensão Missionária e a Tecnologia Educacional no Colégio Stella Matutina une fé e inovação, contribuindo para uma formação integral. O projeto exemplifica essa abordagem ao utilizar a IA como ferramenta de ensino e reflexão crítica. Os alunos exploram o impacto dos algoritmos em suas vidas, ao mesmo tempo em que conhecem o carisma missionário das irmãs servas do Espírito Santo. Assim, o Colégio forma cidadãos conscientes, preparados para atuar eticamente na Era Digital, unindo conhecimento tecnológico a valores humanitários e espirituais”, declarou Luciana Marzullo, coordenadora da Dimensão Missionária.
O desafio para os educadores hoje é preparar os alunos para um futuro em que a IA, os algoritmos e outras tecnologias digitais terão papéis centrais. Isso implica desenvolver currículos que vão além do uso técnico dessas ferramentas, integrando reflexões éticas, sociais e culturais sobre seu impacto. A educação precisa estar à frente no processo de capacitar jovens para serem não apenas usuários, mas críticos e criadores no mundo digital.
Para saber mais
EducaMídia. Disponível em: https://educamidia.org.br/
Global Media and Information Literacy Week (GlobalMILWeek). Disponível em: https://www.unesco.org/en/weeks/media-information-literacy
Instituto Palavra Aberta. Disponível em: https://www.palavraaberta.org.br/
Tiago Reis
Google innovator, professor de História e coordenador de Tecnologia Educacional no Colégio Stella Matutina, Juiz de Fora-MG.
Onésima Marques
Google trainer, professora de Química e educadora digital no Colégio Stella Matutina.