Mudança de paradigmas

Mudança de paradigma é uma expressão de Thomas Kuhn (1962) para dizer que, quando há mudança em um determinado padrão, é necessário reaprender a lidar com a nova realidade, começando do zero. Isto é, aprender a fazer de um jeito novo. Nós estamos vivendo uma mudança de paradigma que foi ocasionada pela pandemia. Como alguém disse, “agora que eu sabia as respostas, mudaram as perguntas!”. Parece ser isso que está acontecendo nesse tempo em que estamos vivendo uma situação inusitada provocada pelo novo coronavírus.

Todos estávamos habituados às lidas de cada dia, numa rotina que nos fazia quase robôs, automáticos. Já acordávamos sabendo o que, como e onde ocupar nosso dia. De repente, veio uma ordem para “ficar em casa”, coisa que poucos estavam acostumados. E esse ficar em casa foi se modificando, com restrições aqui e ali, com a necessidade de se adaptar a novos hábitos, usar máscaras, álcool em gel, ficar longe, entre outras. Ainda estamos nesse compasso, esperando que a situação melhore, que o vírus seja vencido.
As esperanças, porém, vêm e vão. Uma hora a vacina resolve, mas vai demorar; logo depois, não resolve, e angústia vai tomando conta. Somos forçados a aprender a lidar com essa nova realidade, de um jeito ou de outro. Todos fomos atingidos na parte emocional, na parte financeira, na parte de planos, na parte de como será depois…

Descobrimos meios novos de nos comunicar via internet que resolveram vários problemas, desenredamos as lives que nos entretiveram em muitos momentos. Elas se multiplicaram em enxurradas, que foram sensação no início e agora começam a cansar. Vamos descobrindo que, apesar do benefício que isso trouxe, não pode substituir o contato físico. Não conseguimos amar só virtualmente, porque o coração humano não mudou de paradigma, continua pulsando dentro de cada um, em seu ritmo constante, pedindo espaço para viver humanamente.

O que vai resultar dessa experiência de mudança de paradigma ainda não sabemos bem. Temos expectativas ainda não testadas. Todos ainda meio perdidos no meio de tantos desafios.

A mudança de paradigma exige aprendizados novos, não podemos fazer as coisas como sempre as fizemos, porque isso não funciona mais. Como não temos ainda um conjunto de experiência feitas que dê segurança na nova forma de viver, ficamos esperando que algum “Aladdin” diga como funciona a “nova lâmpada” que ilumine nossos caminhos. Essa espera angustiante cria ansiedade e até desequilibra muita gente em seu funcionamento psíquico. Cada um de nós está vivendo ou sobrevivendo nessa situação, porque a força da vida é maior que aquilo que a ameaça.

Faz-se necessário tomar consciência de que isso um dia vai passar e seremos capazes de trilhar os novos caminhos que irão fazer-se aos poucos; aliás, que já estão em andamento. Como está havendo mudança em nosso padrão antigo, então não adianta ficar lamentando o “como era” que não se consegue mais vivê-lo. A saída é ter paciência e, ao mesmo tempo, coragem e confiança de nos adaptarmos ao novo paradigma e permitir que a vida continue ziguezagueando por caminhos novos até que eles se tornem habituais sem precisar angustiar-se tanto diante deles.

Vamos também acreditar em nossa capacidade de resistência e criatividade para sairmos mais fortes, com novos padrões de convivência e solidariedade, tornando-nos mais humanos e menos robôs. As crises, se bem administradas, são sempre oportunidades de crescimento. Elas podem também trazer a bancarrota para muita gente que desanima e se submete, sem reação, ao fracasso.

Novos paradigmas propiciam rumos novos para se trilharem, andando por estradas antes não percorridas, mas que podem levar para mais longe, porque agregam experiências novas. Abracemos as novas oportunidades, mesmo que custem um pouco de ansiedade e exijam um esforço. É o preço que precisamos pagar por novas conquistas.

Pe. Deolino Pedro Baldissera, SDS
Padre salvatoriano há 43 anos, professor e psicólogo pela Universidade Gregoriana de Roma, com mestrado em Psicologia e doutorado em Ciências da Religião. Atualmente é pároco em Videira-SC.