Mulher: gênero, biologia, trabalho e construção cultural

Você se lembra da música de Benito Di Paula?

“Agora, chegou a vez, vou cantar / Mulher brasileira em primeiro lugar / […] Norte a sul / Do meu Brasil / Caminha sambando/ Quem não viu / Mulher de verdade / Sim, senhor / Mulher brasileira é feita de amor.”

Refletindo sobre o Dia Internacional da Mulher, podemos perceber que a música sempre exaltou a mulher em prosa e verso, entretanto vemos muitas batalhando no trabalho, criando os filhos, dedicando-se à família, sem falar naquelas que arrumam tempo para estudar e dedicar-se à solidariedade. Temos cientistas de renome, exemplos de várias “guerreiras”. Mas como o Brasil é o quinto país em feminicídio?

Infelizmente, nas sociedades humanas, ainda existe uma mentalidade de que mulher deve somente servir ao homem, seja o pai ou o marido, cuidar das tarefas domésticas e das crianças. Trabalhar fora de casa, dirigir um carro ou uma empresa é coisa para homem.

O péssimo exemplo de um deputado do Estado de São Paulo, que foi à Ucrânia recentemente, em tempo de guerra, com uma proposta “humanitária”. Postou em uma de suas redes um comentário, afirmando que “as ucranianas são fáceis porque são pobres”, comparando a fila de refugiadas com a fila de baladas no Brasil. Um médico turista, em um dos países do Oriente Médio, também fez comentários maldosos a uma comerciante. Uns meses antes, durante a Copa do Mundo, na Rússia, um advogado foi advertido por mexer com jovens do local.

Esses fatos demonstram como a mente machista ainda está fortemente presente no sexo oposto. A cada minuto, temos notícias de violência doméstica, tanto física e psicológica quanto patrimonial. Quase sempre, não há aceitação do término de um relacionamento, significando que o outro é visto como propriedade privada, rejeitando a ideia de liberdade das mulheres e suas conquistas.

A pensadora francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) fez muitos estudos sobre a condição da mulher na sociedade. Em sua obra O segundo sexo (1949), afirmou que “ninguém nasce mulher, mas se torna mulher”. Conforme a mulher conquista seu espaço, cresce seu reconhecimento. Nesse sentido, a questão do ser mulher não é biológica, mas cultural ao longo da história de um povo.

A questão de gênero (masculino/feminino) é vivida por homens e mulheres, independentemente da visão biológica, mas em determinada época e lugar. O corpo é construído culturalmente. Assim, o corpo da mulher, em nossa sociedade, foi “coisificado”, ou seja, passou a ser visto como uma mercadoria, uma “coisa”, basta observar as propagandas.

Neste século XXI, muitas mulheres têm ocupado diversos espaços, mas ainda precisamos de mulheres ocupando os espaços políticos, como as câmaras municipais e o Congresso, o cenário científico-acadêmico, etc.

Procuremos educar as gerações com sabedoria e nos despertar para a importância de sermos tratadas como seres humanos e não como coisa mercadológica. Há muito trabalho a ser realizado. Aproveitemos a Campanha da Fraternidade, que reflete sobre não condenarmos a mulher, atirando pedras, como faziam os fariseus, mas dando oportunidades, gerando vida.

Mulheres, uni-vos!

Maria Terezinha Corrêa
Mestra em Antropologia, especialista em Ensino de Filosofia, graduada em Filosofia e Pedagogia, cursou Teologia, filiada à ABA, APEOESP e SBPC. Atualmente, professora de Filosofia na Prefeitura de São José-SC, membro da Comissão de Prevenção e Combate à Tortura, pela ALESC, voluntária na Pastoral da Pessoa Idosa, ligada à Arquidiocese de Florianópolis.

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