Março começa com a letra M; “M” de “mulheres”, “M” de “meninas” e, por que não, também “M” de “musas” inspiradoras da vida? Já pensou em quantas conquistas as mulheres brasileiras conseguiram ao longo dos últimos séculos?
Você sabia que, em 1879, as mulheres no Brasil ganharam o direito de cursar uma faculdade? Lembrando, contudo, que eram apenas as da classe privilegiada, em tempos ainda de Monarquia. Em 1932, Período Republicano, às brasileiras foi garantido o direito de votar? Graças à reivindicação de um grupo de mulheres no Rio Grande do Norte. Nas décadas entre 1960 a 1980, muitas artistas, cantoras e atrizes revelaram-se no mercado da indústria cultural? Em 2006, criou-se a Lei Maria da Penha para combater a violência doméstica? Em 2010, escolhemos a primeira mulher presidente da República? Em 2015, a Lei de Feminicídio classifica o assassinato de mulheres como crime hediondo?
Quantas mulheres lutaram pela liberdade e, até hoje, buscam pelo direito a uma vida digna, de escolher estudar, de ter uma profissão, de poder constituir sua família na paz? Mulheres de Abaeté, de Itapuã, lembradas no enredo do carnaval deste ano, mulheres quilombolas, indígenas, ribeirinhas, afrodescendentes, mulheres operárias, caminhoneiras, costureiras, cozinheiras, diaristas, domésticas, jogadoras, jornalistas, metalúrgicas, motoristas, professoras, arquitetas, médicas, engenheiras, advogadas, teólogas e tantas outras, enfim, conquistaram o espaço que antes era só masculino.
Desde a Antiguidade, as mulheres ocidentais sofreram preconceitos, principalmente em relação à participação política. Ao longo da História, várias foram caçadas como bruxas, queimadas vivas, como na Inquisição, ou assassinadas por questionar atitudes desumanas e injustiças sociais. Um exemplo foi a francesa Olympie de Gouge, que criou a Declaração Universal da Mulher e da Cidadã (1791), como crítica ao Estatuto do Homem, após a Revolução Francesa. Pouco depois, foi morta (1793).
No século XIX, outras tantas se comprometeram com a vida das mulheres, enfrentando até chefes, intelectuais, autoridades, como Rosa Luxemburgo. Uma fábrica em Nova Iorque, em 1911, sofreu um incêndio, e 130 operárias morreram carbonizadas, marcando, assim, a data do Dia Internacional das Mulheres. Em 1917, 90 mil operárias participaram do movimento “Pão e Paz” na Rússia. Em 1918, na Inglaterra, as mulheres conquistaram o voto e, somente em 1945, a Carta das Nações Unidas reconheceu a igualdade de direitos entre homens e mulheres, garantindo a vida, a liberdade e a segurança.
Na década de 1960, os movimentos feministas possibilitaram avanços internacionais das mulheres de conquistar seu espaço na sociedade, permitindo ver, sentir e cuidar melhor da vida. Simone de Beauvoir, Bertha Lutz, Olga Benário Prestes, entre outras, foram pioneiras em pensar num mundo melhor para todos.
Nossa esperança é que as “meninas-guerreiras” do século XXI continuem com coragem e comprometidas com a vida, não somente pessoal, mas também planetária, a exemplo de Malala, que luta pelo direito das meninas à educação; Gretha, que busca conscientizar mundialmente a preservação do meio ambiente, sem esquecer que muitas deram e dão a vida por um mundo de paz e justiça.
O Dia internacional da Mulher é lembrado em diversas partes do mundo, gerando vida nova a todas que estão a seu redor. No Brasil, sabemos o quanto ainda temos de melhorar: a presença das mulheres na política, o combate ao feminicídio, a violência doméstica, a igualdade salarial entre os gêneros, os direitos das mulheres rurais e domésticas em se aposentar com dignidade e tantos outros projetos.
Elas renunciam a fama, o sucesso, a carreira, a família, mas, com fé, lutam pelos menos favorecidos em orfanatos, em hospitais, atendem moradores de rua, atuam em casas de recuperação, vivem em favor dos indígenas em aldeias, trabalham em campos de refugiados, fazem visitas a presidiários, a idosos e tantos outros.
Temos muitos exemplos como os de Ir. Dorothy Stang, Margarida Alves, Santa Paulina, Santa Teresa de Calcutá, Santa Dulce e tantas anônimas e voluntárias que ao verem a necessidade de humanos e também de animais, sentem empatia e buscam cuidar para o bem.
Mulheres comprometidas geram vida!
Maria Terezinha Corrêa é Mestra em Antropologia pela USP, especialista em Ensino de Filosofia pela UFSCar, graduada em Filosofia pela UFJF e em Pedagogia pela Unitins, sócia da APEOESP, ABA e SBPC. Carioca, trabalhou por 27 anos na Rede Estadual de Ensino Oficial de São Paulo, lecionando Filosofia e Sociologia, atuou entre os ribeirinhos de Humaitá-AM e em serviços voluntários e pastorais em várias comunidades.