No fim de cada ano, a Igreja celebra a Festa da Sagrada Família, composta por Jesus, Maria e José. É sagrada porque ali mora a predileção de Deus na escolha de seus membros. Maria, por ter sido eleita para ser a mãe de Jesus; José, por ser descendente de Davi; e Jesus, por ser o Filho de Deus. Essa família se reveste do sagrado porque nela tudo fala de Deus e de seu projeto para nos salvar. Nas três pessoas que a compõem, encontramos o lado humano plenamente “humanizado” em todas as suas dimensões biológicas, psíquicas, espirituais.
Essa família viveu na aldeia de Nazaré, como as demais que lá estavam. Exercendo o trabalho do dia a dia, ficou escondida e só apareceu (nos Evangelhos) quando nasceu o Menino em Belém; quando o Menino foi apresentado no Templo oito dias após seu nascimento; quando foram em peregrinação à festa, em Jerusalém. Por trinta anos, viveram no anonimato, como viviam todas as famílias da aldeia, embora um fato fizesse a diferença entre as demais famílias: ali morar o Filho de Deus, e seus pais, José e Maria, terem sido escolhidos para a missão de cuidar do “Menino” até que Ele, aos 30 anos, pudesse iniciar publicamente sua missão de revelar o Reino de Deus entre nós.
A Sagrada Família nos é apresentada como modelo para todas as outras. Em primeiro lugar, porque foi ali vivido, em plenitude, o amor entre seus membros. Não havia brigas nem dissensões, mas se conjugavam a harmonia e o zelo de uns para com os outros. Mantinham suas relações com a parentela conforme a tradição judaica. Viviam seus compromissos religiosos, frequentando a sinagoga em dia de sábado. José exercia sua profissão de carpinteiro, coadjuvado por seu filho aprendiz. Não temos informação se fabricava móveis, casas ou outros afins, mas certamente era desse trabalho que provia o sustento da família.
A Família de Nazaré é modelo para todas, porque viveu o ideal de família humana, unida pelos laços de sangue e por sua particularidade, realizando uma missão especial de visibilizar a salvação de Deus presente no Filho como enviado do Pai. No Filho, mostrou-se o rosto humano de Deus no meio de nós, como o Emanuel.
Cada uma das pessoas que a compunham, viveu a missão que recebera de Deus. José, pai adotivo, zeloso nos cuidados de Jesus e de Maria, trabalhador, justo, humilde, cumpridor das leis, que assumiu a vontade de Deus como sua vontade. Maria, a virgem escolhida sem pecado, gestou durante nove meses a obra do Espírito Santo que se realizava em seu ventre. Prestativa, foi ajudar sua prima Isabel, grávida do precursor João Batista; após o nascimento deste, voltou para sua Nazaré, até que o tempo se completasse. Foi recensear-se com o esposo em Belém e lá deu à luz o Filho de Deus, envolveu-o em panos, amamentou-o, recebeu a visita dos Magos, que confirmaram que aquele menino era “luz para as nações”. De volta para sua aldeia, cuidou com zelo de mãe, guardou e meditou, em seu coração, a obra que Deus realizava em seu Filho. Angustiou-se com o extravio do Menino, quando Jesus ficou entre doutores, em Jerusalém, enquanto ela e José voltavam da peregrinação. José, completados seus dias, morreu como justo; não sabemos quando.
Maria esteve com seu Filho até a morte dele na Cruz. Lá estava ela, de pé, corajosa, sabedora do gesto salvador do Filho. Permaneceu com os discípulos, aguardou a vinda do Espírito Santo prometido, em Pentecostes. Com os apóstolos, iniciou a Igreja de seu Filho. Quando chegou sua hora, foi assunta ao céu com corpo já glorificado. E assim, permanece para nós o exemplo a ser seguido na vida em família.
Família de Nazaré, abençoe nossas famílias!
Pe. Deolino Pedro Baldissera, SDS
Padre salvatoriano há 43 anos, professor e psicólogo pela Universidade Gregoriana de Roma, com mestrado em Psicologia e doutorado em Ciências da Religião. Atualmente é pároco em Videira-SC.S