No país de Alice…

Este desenho é de uma mineirinha que completou 5 anos em plena quarentena. Alice desenhou e trouxe para dentro da bolha seu universo imaginário e particular.

Seu desenho despretensioso e espontâneo nos mostra, com sensibilidade e ingenuidade, o alcance dessa vivência pandêmica nela e no mundo que a rodeia.

Novamente as crianças nos mostrando o caminho…

Vamos nos proteger, vamos para a bolha, só que não mais uma bolha solitária. Agora estamos diante de uma bolha solidária.

Vamos enxergar o que vier. De braços abertos, na certeza de que, com esperança e alegria, isso um dia vai passar.

Não vamos parar de fazer o que a gente gosta e precisa, vamos aprender fazer de um jeito novo e diferente.

Do lado de fora da bolha, há um rabisco acidental que aparentemente nada é. Com os olhos de Alice, vou enxergar o que vislumbro nesse rabisco exterior:

– a força daqueles que precisam sair porque ocupam posições estratégicas, independente de hierarquias, todos, cada um, fazendo o essencial;

– a fé e a ciência, lado a lado, inspirando-nos, consolando e encontrando saídas;

– a teimosia dos que não se cansam de estender as mãos, de forma solidária, mesmo que agora, mediado por cuidados e equipamentos de proteção;

– um emaranhado de ideias que não cansam de prospectar um futuro diferente, talvez até melhor e com mais integralidade;

– os efeitos de uma globalização sentida na pele;

– a arrogância e ignorância de muitos que insistem em manter velhas perspectivas;

– um contexto inaceitável de injustiça social;

– um esgotamento planetário, entre outras linhas tão cruéis.

Esse rabisco inacabado, que é a realidade do lado de fora, a vida como ela é, deixa no ar uma sensação de ruptura e um traço de continuidade que vamos ter de escrever.

Dica da Alice: Se for sair, use máscara

Que saibamos reinventar a vida no planeta Terra, em nome de Alices, Pedros, Rodriguinhos, Lucas, Valentinas e de tantas crianças que estão aí, acreditando nos adultos que as cercam.

Que saibamos, em nome de nossas crianças, em nome de Miguel e Arthur, que acabaram de nascer, e de Lucca que está por vir, redimensionar nossos projetos de vida, nossas convicções e nossas atitudes.

O que virá vai depender de todos, de cada um.

“Vamos lá fazer o que será!”

P.S.: se puder, fique em casa.
Abril de 2020

Maria José Brant (Deka), assistente social, estudante de Antropologia, analista de políticas públicas no Programa Bolsa Família, mestra em Gestão Social, mosaicista nas horas vagas.

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