Nove curiosidades sobre a Bíblia

Em artigo passado, apresentei algumas propostas para celebrar o Mês da
Bíblia. Reforço: reduzir as homenagens à Palavra de Deus, no Mês da Bíblia, a uma
procissão e a palmas é pouco demais. Este é um tempo oportuno de louvar a Deus,
justamente buscando nos aprofundar, de vários modos, no conhecimento da
Sagrada Escritura.


No decorrer dos séculos, sobretudo nas últimas décadas, os estudos bíblicos
têm avançado de modo significativo. Com o apoio de outras ciências, como a
Arqueologia, a Linguística, a História, a Teologia, entre muitas outras, vamos
descobrindo dados que nos ajudam a compreender a trajetória de um povo que,
com sua experiência de Deus, nos deixou uma valiosa herança.
Neste texto, eu gostaria de apresentar nove curiosidades sobre a Sagrada
Escritura. A ideia é fomentar, de um jeito mais leve, o interesse pelo estudo da
Bíblia.


1 Biblioteca
A palavra “Bíblia” vem da língua grega (como muitas outras que usamos no
cristianismo) e tem alma no plural. A tradução seria “biblioteca”, um conjunto de
livros. É uma coletânea cultivada, com muito carinho, por séculos. São vários
autores (de santos a pecadores), contextos e modos de lidar com o Sagrado e o
humano. Ao todo, são 73 livros, sendo 46 no Antigo Testamento (AT) e 27 no Novo
Testamento (NT). Algumas versões têm livros a menos no AT, pois desconsideram os
textos tardios (deuterocanônicos), escritos em grego.

2 Antigo e Novo Testamentos
A palavra “testamento” pode ser entendida como “aliança”, “contrato”. Temos,
portanto, uma Antiga e uma Nova Aliança. Em resumo, é um “acordo” entre Deus e
os homens: “Eu sou seu Deus, e vocês são meu povo”. Hoje se entende que não é
adequado dizer, em vez de Antigo Testamento, “Velho” ou “Primeiro” Testamento;
nem “Segundo” Testamento no lugar de Novo Testamento, pois ambos formam uma
unidade. Para se referir ao AT, alguns teólogos consideram mais preciso usar a
expressão “Escrituras Hebraicas” ou “Bíblia Hebraica”.

3 Quando foi escrita

A maioria dos estudiosos acredita que os textos do AT foram organizados a partir do
século ano VI antes de Cristo, provenientes de antiquíssimas e veneráveis tradições
orais. Sim, existiu “uma bíblia antes da Bíblia”. Talvez o escrito mais antigo seja o
Cântico de Débora, presente no capítulo 5 do Livro dos Juízes. O último livro do AT
a ser compilado foi o da Sabedoria (por volta do ano 50 a.C.). Já os do NT
começaram a ser organizados alguns anos depois da morte e ressurreição de Jesus,
a partir do ano 50.

4 Não é reportagem
A Bíblia não tem o objetivo de ser ata, crônica, reportagem ou manual de ciências
(no sentido moderno do termo). Geralmente ela traz os fatos lidos à luz da fé. A
finalidade é, sob inspiração divina, iluminar os caminhos, catequizar, curar, corrigir,
consolar. Como exemplo, temos dois relatos da Criação (veja os capítulos 1 e 2 de
Gênesis). São formas de celebrar transmitidas por escolas diferentes. Ler a
Escritura ao pé da letra leva ao fundamentalismo e pode provocar tragédias.

5 Cultura, tempo e lugares diferentes
Ao meditarmos sobre as passagens bíblicas, devemos ter em conta que é a
experiência espiritual de um povo proveniente de cultura, tempo e lugares bem
diferentes dos nossos. Por isso é importante o estudo bíblico, a meditação, a
atualização para nossa realidade. Não à toa, algumas passagens soam estranhas e
até engraçadas para nós deste século XXI. Um exemplo é um trecho de Cântico dos
Cânticos (capítulo 1, versículo 9), comparando a amada à égua do cavalo do faraó.
Um elogio e tanto em tempos antigos, mas, no mínimo, deselegante hoje.

6 Ordem dos livros
A ordem dos livros na Bíblia, tanto no AT quanto no NT, nem sempre se refere à
data em que foram escritos. Com toda a certeza, Gênesis, o primeiro da lista, não
é o texto mais antigo. Há critérios distintos de organização, como a narrativa de
um mesmo evento, o tamanho dos textos, o contexto histórico, o propósito
catequético, etc. O Evangelho mais antigo, por exemplo, é o de Marcos, mas, no
NT, ele aparece em segundo lugar, atrás do de Mateus.

7 “Método abacate”
Diferentemente de nossa cultura, nem sempre, a mensagem principal de um
capítulo ou mesmo de um livro bíblico está no fim do texto. Muitas vezes, a
mensagem central está… no centro! É o conhecido “método abacate”. Recordemos
que estamos diante de um modo diferente de ver as coisas.

8 Autoria
É um costume muito antigo dedicar a autoria de grandes obras a um “patrono”, não
exatamente a quem escreveu o texto. Por exemplo: a “lei” é atribuída a Moisés; os
livros sapienciais (palavra que remete à sabedoria) são dedicados a Salomão; os
Salmos e textos poéticos, a Davi. Isso também ocorre no NT, em que há textos cuja
autoria é dedicada a São Paulo ou a outro apóstolo.

9 “Puxão de orelha” no presépio
Quando vemos o presépio, notamos duas figuras curiosas: um boi e um burro. Essa
forma de retratar o nascimento de Jesus foi criada por São Francisco de Assis, em
1223, em Greccio (Itália). Ainda hoje, há quem veja esses animais como a
“aquecerem” o Menino Jesus, que nasceu em condições insalubres, pois “não havia
lugar para eles na hospedaria”, segundo os evangelhos. Na verdade, as duas figuras
remetem-se à profecia de Isaías (capítulo 1, versículo 3): “O boi conhece seu dono,
e o burro, o cocho de seu senhor; mas Israel não conhece, meu povo não
entende!”. De fato, é um grande puxão de orelhas que o Pobrezinho de Assis,
inspirado no profeta, quis dar nos irmãos e irmãs de todos os tempos, que ouvem,
mas ficam indiferentes à Palavra de Deus.

A intenção de colocar algumas dessas curiosidades é despertar para o
riquíssimo tesouro que é a Palavra de Deus. A Bíblia é uma fonte inesgotável de
sabedoria a saciar as pessoas ao longo dos séculos. Cada geração descobre na
Sagrada Escritura uma luz para os desafios e vitórias de cada tempo. O importante
é reconhecer, como ensina a Igreja: o Senhor está presente, de forma real, também
neste pão que sustenta nossa caminhada. Deixemo-nos encantar com o magnífico
mundo da Bíblia!

Alessandro Faleiro Marques

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