O amor não está de quarentena. Continua livre para amar, porque ele nasce no e do coração. É ele que nos faz sentir o prazer de viver e servir. A pandemia não o atingiu nem há perigo de que ele seja afetado. O amor é uma atitude de vida que não olha para a condição do corpo; ele pode agir mesmo com o corpo estando doente.
A pandemia aguçou o amor em muita gente. Muitas pessoas se tornaram mais afáveis, mais solidárias, mais compassivas. Descobriram a força do amor mesmo em situação de quarentena.
Quando o amor move as pessoas, elas se transformam e revelam o lado bom da vida e enchem de esperança quando o caos quer dominar. O amor não está acorrentado pela doença, só precisa de um coração aberto e sensível, que se despoja do próprio egoísmo e abre espaço para acolher o outro, seja ele quem for, para desejar-lhe o bem, para fazer-lhe o bem, para encaminhá-lo para o bem.
O amor conforta na hora da dor das perdas que alguém sofreu; o amor consola o coração abatido pelo sofrimento; o amor regenera quando alguém está fraco e abatido; o amor se solidariza quando alguém precisa dele; o amor é capaz de reconstruir as relações perturbadas pelos conflitos; o amor ouve aqueles que se sentiram emudecidos pela exclusão e por não terem espaços no tempo de cada um ocupado com suas coisas e surdos aos lamentos de quem precisa falar; o amor restabelece a paz onde ela foi perdida na agressividade, no ódio que brotou num momento de incompreensão; o amor salva onde alguém se havia perdido; o amor restabelece os laços lá onde eles haviam se desfeito; o amor encoraja lá onde a desesperança havia chegado.
O amor dá um passo a mais com quem pediu para andar apenas um; o amor discerne lá onde a confusão quis tomar conta; o amor revitaliza as forças perdidas num momento de luta; o amor fala quando a voz se cala pelo sofrimento que apareceu; o amor fortalece quando o desânimo quis tomar conta; o amor se torna solícito quando a necessidade do outro se apresenta; o amor não se esgota, ele se renova a cada gesto que faz; o amor fica dentro de casa, solidário com os que ali estão; o amor vai para fora quando alguém bate à porta e pede um pão; o amor atende com gestos de atenção e partilha; o amor vai além da casa, da cidade, do país, ele se torna universal; o amor acompanha sempre o coração generoso; o amor reconstrói os vínculos lá onde eles haviam se rompido; o amor não dá aviso prévio, ele está sempre atento, disponível e permanente; o amor é a força que move o mundo e o mantém de pé; o amor faz reviver a vida lá onde ela estava morrendo.
Por isso resgate o amor que há em você e deixe-o agir livremente, para que ele se torne sua marca registrada neste tempo de pandemia. Viva o amor, e ele o conduzirá à sua fonte original, da qual tudo brotou. Em toda a perfeição da harmonia do universo se manifestou a força criadora.
Ame, porque Deus é amor, e tudo o que saiu dele veio marcado pelo amor. O amor é atitude eterna de Deus que nos amou por primeiro e deixou em nós sua marca, como imagem e semelhança. O amor não está de quarentena!
Pe. Deolino Pedro Baldissera, SDS
Padre salvatoriano há 43 anos, professor e psicólogo pela Universidade Gregoriana de Roma, com mestrado em Psicologia e doutorado em Ciências da Religião. Atualmente é pároco em Videira-SC.