O aumento das desigualdades no universo da saúde pública

Quem procura atendimento médico em uma unidade básica de saúde (UBS), conhecida como “posto de saúde”, passa por muitos percalços até chegar à consulta. Geralmente, a fila é grande ou falta o profissional especializado para determinada enfermidade. E quando este existe, levam-se semanas ou meses para chegar o dia do agendamento, o que obriga algumas pessoas a buscarem hospitais particulares. Dependendo da gravidade, a pessoa vai a óbito.

O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado para atender todos da população brasileira, tendo em vista que é um direito estabelecido pela Constituição Federal de 1988, conforme o Capítulo II – Dos Direitos Sociais – Art. 6º: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.

Desde 1994, houve uma estruturação da saúde da família, com equipes multidisciplinares atuando nas UBS e outros atendimentos específicos para a população em geral, como o Disque Saúde, o combate à dengue. A partir de 1998, agentes de saúde passaram a visitar os domicílios, e o Ministério da Saúde começou a fazer campanha de conscientização em relação à prevenção. Em 1999, foi criada a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para fiscalização de medicamentos e alimentos, após denúncias e verificação de casos de produtos vencidos e causadores de problemas sérios na saúde do povo. Na mesma época, surgiram os medicamentos genéricos, com o intuito de baixar o custo. A bioética, que tem preocupação com a saúde pública, passou a alertar sobre certas indústrias alimentícias e farmacêuticas, para proteção e diminuição dos danos à saúde.

A partir de 2001, a Lei 10.216/01 passou a amparar pessoas com doenças mentais. Em 2002, esse direito ampliou-se para as pessoas com deficiências, para o atendimento a indígenas e para a redução da morbimortalidade por acidentes e violências. Em 2003, foi criado o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, conhecido como SAMU.

Muitas campanhas em prol da saúde têm sido feitas como política nacional, por exemplo, sobre o uso abusivo do álcool (2007), a saúde do homem (2009), estudos para a produção de células-troncos, enfrentamento a diversas doenças crônicas não transmissíveis, a regularização do Cartão Nacional de Saúde (2011).

Embora muitos avanços ocorreram na área da saúde, pelo Ministério da Saúde, infelizmente, muita verba foi desviada e outras políticas públicas deixaram de contemplar prioridades para a população. Como vimos durante a pandemia, respiradores, kits necessários para os profissionais da saúde e até vacina foram superfaturados por empresas mercenárias.

As vacinas têm sido grandes aliadas para salvar muitas vidas. A saúde pública tem combatido a diversidade de vírus e suas mutações graças aos cientistas da área epidemiológica e de infecção, que estão constantemente em busca de novas fórmulas para deter os micro-organismos nocivos ao ser humano.

E para a camada da população que tem plano de saúde? Com promessas de resolverem o problema de falta de atendimento nos postos públicos, muitas pessoas fazem plano de saúde, pelos quais pagam uma quantia por mês para terem o direito de serem atendidas com mais rapidez. Todavia os planos buscam cobrar, além das mensalidades, cada exame que tiver de ser feito. As mensalidades aumentam conforme a idade do cliente, o que tem levado muitos a abandonarem o sistema privado e serem atendidos pelo SUS. Essa realidade tem aumentado mais ainda o problema das filas e a demora no agendamento para as especialidades médicas. O que fazer, então?

Como diz a Constituição Federal de 1988, a saúde é para todos os brasileiros, por isso é necessário que todos os postos de saúde tenham mais médicos e enfermeiros. Daí o Programa Mais Médicos, idealizado pelo Ministério da Saúde. O Ministério da Educação deveria incentivar que, no início da carreira, os novos médicos e médicas atendessem as populações menos favorecidas. Infelizmente, encontramos consultórios particulares cobrando 400 ou 500 reais por uns minutos de orientação ou pedidos de exames que, também, serão cobrados à parte.

A população brasileira anda muito doente, pois não tem uma alimentação adequada, muitos já têm a idade avançada, sem falar nas localidades distantes, nas quais não chega profissional especializado, por causa da falta de condições para atendimento. Muitos lugares no Brasil carecem de qualquer assistência médica, ficando por conta das benzedeiras locais o paliativo de cura.

Cuidemos do corpo e da saúde mental diante de tanta desigualdade e falta de cuidado com a população. Temos esperança de que dias melhores virão, mas, para isso, exige-se união de todos em cobrar dos representantes do povo e da Nação (deputados, senadores, vereadores) melhorias no quesito saúde pública.

Maria Terezinha Corrêa
Mestra em Antropologia, especialista em Ensino de Filosofia, graduada em Filosofia e Pedagogia, cursou Teologia pelo Mater Ecclesiae, filiada à ABA, APEOESP, SBPC, Sintran e membro da APROFFIB. Atualmente, é professora de Filosofia na Prefeitura de São José-SC, voluntária na Comissão de Prevenção e Combate à Tortura (ALESC) e na Pastoral da Pessoa Idosa, ligada à Arquidiocese de Florianópolis e, recentemente, da Associação de Voluntários de Combate ao Câncer (AVCC), de Jales-SP.

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