O centenário de Paulo Freire e o ato de ensinar

“Meu sonho de sociedade ultrapassa os limites do sonhar que aí estão.”
(Paulo Freire)

Você já imaginou um Brasil em que não houvesse analfabetos? Esse era um dos sonhos de Paulo Freire, nosso homenageado. Infelizmente, ainda existem 11 milhões de brasileiros que não sabem ler nem escrever. A maioria de analfabetos em nosso país é de idosos, a partir de 60 anos, representando 26%. Verificando-se os dados regionais, 37% deles estão na Região Nordeste e 25,50% no Norte, conforme o censo de 2010 do IBGE.

Considerando que, em 1930, o Ministério da Educação e da Cultura implantou o Dia da Alfabetização, o ato de ensinar freiriano nos permite refletir nesse centenário a importância da filosofia de Paulo Freire para a Educação e a democracia. Quem nunca ouviu falar no Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização)? Ou no Mova (Movimento de Alfabetização)? E no Método Paulo Freire, que revolucionou o jeito de alfabetizar de modo eficaz e consciente?

O pernambucano Paulo Freire nasceu em 19 de setembro de 1921, no Recife-PE. Ele é um dos principais mentores da Educação brasileira. Formou-se em Direito, mas sua vida foi dedicada ao magistério. A partir daí, passou a pensar em um método acessível aos brasileiros adultos que não tiveram oportunidade de se alfabetizarem.

Em 1963, coordenou um programa que alfabetizou 300 pessoas em aproximadamente um mês. A partir daí, esteve à frente do Plano Nacional de Alfabetização, durante o governo de João Goulart. Com a ditadura militar, algumas de suas obras criaram polêmica, como o livro Pedagogia do oprimido, o que o obrigou ao exílio em outros países.

Com a anistia, voltou para o Brasil e foi secretário municipal de Educação da cidade de São Paulo, entre 1989 e 1991. “Os negros no Brasil nascem proibidos de ser inteligentes”, denunciou.

A filosofia de Paulo Freire contribuiu muito para pensar o ato de ensinar. A Educação, de tendência sociocrítica passou a ser uma exigência para a democracia brasileira. Defendia a Educação como conjunto de forças cujo alvo seria a liberdade individual e a transformação social. Privilegiava a iniciativa do educando, que acreditava experimentar um processo de aprendizado consciente. O educando construiria o conhecimento com base no contexto em que vivia, fundindo aprendizagem e experiência social, com o objetivo da liberdade.

Para Freire, a importância do ato de ler começava pela leitura do mundo em que se vivia. “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, dizia. Após uma conversa com os educandos sobre o que viviam, surgia a temática que se tornava o conteúdo do estudo do dia. Do ver, julgar e agir, surgia o Método Paulo Freire. Ensinar é um ato político. Ser professor é mediar, pesquisar, provocar, estimular a esperança em uma nova realidade social.

Atualmente, é comum ouvir falar em EJA (educação de jovens e adultos), projetos criados para atender cidadãos acima de 15 anos e adultos que queiram ser alfabetizados e continuar seus estudos na educação básica. Como afirmava Freire: “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar, porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é esperar”.

Que a Educação brasileira brilhe como Paulo Freire sempre a sonhou, valorizando a categoria dos professores da educação básica em geral e proporcionando melhorias a esse contexto.

Maria Terezinha Corrêa
Mestra em Antropologia, especialista em Ensino de Filosofia, graduada em Filosofia e Pedagogia, cursou Teologia pelo Mater Ecclesiae, filiada à ABA, APEOESP, SBPC e Aproffib (Associação dos Professores de Filosofia e Filósofos do Brasil), atualmente é professora de Filosofia na Prefeitura de São José-SC, voluntária na Comissão de Prevenção e Combate à Tortura pela ALESC e na Pastoral da Pessoa Idosa, ligada à Arquidiocese de Florianópolis, membro da Diretoria da Aproffib.

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *