O Dia do Amigo e a amizade social

“Coração de estudante / Há que se cuidar da vida / Há que se cuidar do mundo / Tomar conta da amizade.” A música “Coração de estudante”, de Milton Nascimento e Wagner Tiso, foi muito cantada em formaturas nas décadas de 1980 e 1990. Até hoje, encontra-se como uma das mais escolhidas. Ela chama a atenção para a importância de cultivar a amizade.

Durante nossa infância, criamos laços afetivos com pessoas que se tornam tão amigas que, mesmo com as mudanças na vida, elas permanecem como alicerces de nossa história pessoal.

Ser amiga ou amigo de uma pessoa é manifestar-lhe o quanto é importante em sua vida. Lembrar-se do dia do aniversário de uma pessoa amiga que está distante, fazer uma visita surpresa, comemorar cantando os “Parabéns”, levar um presente, cortar um bolo com outro amigo ou amiga, perguntar como está sua saúde, sua vida. Enfim, importar-se com o outro é sinal de reconhecimento.

Aristóteles, filósofo grego da Antiguidade (IV a.C.) afirmou: “Um amigo se faz rapidamente, já a amizade é um fruto que amadurece lentamente”. Por isso, celebrar o Dia do Amigo é uma forma de comemorar o quanto o outro faz parte de nossa vida. Porém, conforme amadurecemos, percebemos como são importantes as mudanças na caminhada de cada um. 

Quantos de nossos amigos ou amigas não se tornaram padrinhos ou madrinhas de casamento, compadres ou comadres, trabalham na mesma empresa, são companhias de caminhadas ou de viagens, além de conselheiros e conselheiras nos momentos de alguma decisão? Nesse sentido, alimentar a amizade exige termos um olhar para a história do outro, que, também, alimenta-nos com sua manifestação de amor, mesmo que a distância nos impeça de nos ver.

A música “Amizade sincera”, de Renato Teixeira, diz: “A amizade sincera é um santo remédio, / é um abrigo seguro / É natural da amizade / o abraço, o aperto de mão, o sorriso / Por isso, se for preciso, / Conte comigo, amigo, disponha / Lembre-se sempre que, mesmo modesta, / Minha casa será sempre sua, / amigo.”

Quantas pessoas, amigas dos amigos, passaram a fazer parte de nosso círculo de amizade, não é mesmo? E, assim, a família humana vai aumentando. Nesse sentido, podemos dizer que a amizade não é egoísta. Então, por que nossa sociedade, considerada hospitaleira, tem sofrido tanta agressividade?

Embora os brasileiros estejam sobressaltados com tanta violência, a esperança está na amizade social, como propôs a Campanha da Fraternidade deste ano de 2024. Pelos gestos de solidariedade constatados em situações difíceis é que se descobrem novas amizades. Os movimentos sociais e organizações comunitárias têm demonstrado preocupação e luta pela vida de inúmeras pessoas em dificuldades, seja no Norte ou no Sul, no Nordeste, no Sudeste ou no Centro-Oeste; acolhendo refugiados que chegam ao Brasil ou voluntários brasileiros que vão trabalhar com e pelos necessitados em terras estrangeiras. A amizade é altruísta!

A amizade social, portanto, explicada pelo Papa Francisco, “ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço”, propõe uma “fraternidade aberta a todos”, em que se busca a dignidade humana. Cuidar que todas e todos não sofram com a fome, a homofobia, o racismo, a xenofobia, discriminação religiosa e tantas outras. Façamos como Francisco de Assis, que tratava todos os seres da natureza como irmãs e irmãos. 

Maria Terezinha Corrêa

Mestra em Antropologia, especialista e mestranda em Ensino de Filosofia, graduada em Pedagogia, filiada à ABA, Apeoesp, Sintram e SBPC, leciona na Prefeitura de São José-SC, membro da Comissão de Prevenção e Combate à Tortura (ALESC), líder da Pastoral da Pessoa Idosa.

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