Quando se pergunta a uma criança “o que você vai ser quando ficar grande?”, em geral, ela responde aquilo que o pai ou a mãe faz, ou então aquilo que alguma pessoa significativa ou que ela admira faz. Conforme cresce, porém, vai se deparando com muitas outras possibilidades de escolha. E aí começa uma busca mais consciente por uma definição do que vai ser na vida. É o eu em (como) vocação que se põe perguntas. Na verdade, não se trata apenas de escolher uma profissão, é mais que isso, é descobrir para que se tem vocação. O que dá sentido à vida, o que inclui uma profissão, mas vai além desta.
Para se ter uma profissão, basta aprender um ofício, preparar-se tecnicamente para ele ou pegar o emprego que aparece, e pronto! Levantar-se de manhã, tomar a condução, trabalhar oito, nove horas seguidas, depois voltar para casa e, no fim do mês, receber seu salário, e está resolvida a questão da profissão.
Quanto à vocação, é algo mais complexo, porque ela diz respeito àquilo que dá sentido à vida e se liga ao bem que a pessoa faz aos outros ou à sociedade. Nem todos os que têm uma profissão definida têm uma vocação acertada. Que valor tem para os outros o exercício de sua profissão? Com que espírito ele trabalha? É necessário perceber um bem maior presente no exercício da profissão. É comum ouvir-se queixas de não se sentir realizado no que faz, mas como não há outra escolha profissional, o jeito é conformar-se.
Na vocação, a questão é outra. Trata-se de descobrir o que dá sentido ao que se faz e ao porquê vive. É algo que ultrapassa os limites da profissão. Vivendo a vocação acertada, ela também dá sentido à profissão. Na profissão, depois de vários anos de trabalho, o sujeito se aposenta, deixa o exercício profissional. A vocação dura a vida inteira, só cessa com a morte, porque, na continuidade de sua vida, vê sentido naquilo que faz sem necessariamente ser de sua profissão. Em outras palavras, sente-se motivado por viver um sentido que lhe dá razão de viver.
Por falta de discernimento, ocorrem muitos enganos. Às vezes, o jovem procura apenas pela profissão e, quando a tem, vê que não é nela que encontra sua vocação. Faltou-lhe perceber o detalhe que faz a diferença: se naquela profissão seu eu está em (como) vocação. Explicando melhor: a palavra vocação (vocare, do latim) quer dizer ser chamado. Cada um pode se perguntar: “sou chamado para que nesta vida? Qual a contribuição que eu, como pessoa, posso dar para o bem comum?”.
Vocação implica ouvir (uma voz interior) e responder a ela. Pode-se somente a ouvir e não responder. Na perspectiva cristã, responder à vocação está ligado ao sentido que se dá à vida e o que se faz com ela. Em outras palavras, em que direção vive aquilo que escolheu e faz. Então, vocação e profissão podem andar de mãos dadas.
Toda vocação implica um componente de transcendência. Isto é, encontrar um sentido fora de si, que vá além. A vocação dá à pessoa uma certeza interior de que aquilo que faz, mesmo profissionalmente, tem um sentido maior do que só lhe dar um salário no fim do mês. Mas tem consciência de que sua ação é construtora, é benéfica aos outros. Sua vocação então se reflete em seu empenho, em sua responsabilidade, em sua dedicação, em sua honestidade no que faz.
O eu em vocação é aquele que vive e trabalha dedicado a uma profissão, mas, quando se aposenta desta, continua vivendo sua vocação, porque a vida não perdeu o sentido, mesmo quando cessa de ter um trabalho produtivo. Ninguém se realiza na profissão se não tiver um sentido de vocação. O eu em vocação passa pela profissão, mas não se esgota nela, porque tem uma dimensão que ultrapassa aquilo que suas mãos podem fazer. O eu em vocação tem a ver com aquilo que o coração pede e o lança para além de si mesmo.
Pe. Deolino Pedro Baldissera, SDS
Padre salvatoriano há 43 anos, professor e psicólogo pela Universidade Gregoriana de Roma, com mestrado em Psicologia e doutorado em Ciências da Religião. Atualmente é pároco em Videira-SC.