No mundo globalizado, onde fronteiras e identidades se diluem na velocidade do efêmero, o mercado exibe vitrines onde se vendem sonhos, objetivos, sentido para a vida diária e “identidades” prontas.
As crises de sentido surgem com o relativismo gerado pelo mercado plural, pela interpelação constante de um diferente que compele à mudança. Verdades que norteiam e dão significado à vida das pessoas passam a ser constantemente questionadas e, muitas vezes, suplantadas por ideias aparentemente mais lógicas e coerentes, mas que, todavia, por não fazerem parte da história afetiva do indivíduo, o esvazia de suas raízes mais profundas, deixando no lugar a angústia e a solidão.
Torna-se, então, frequente e urgente a busca por espaços de construção subjetiva, que ofereçam certezas que “aplacam” a angústia de se viver num mundo desprovido de parâmetros comuns sólidos. De acordo com Peter Berger, na obra “Os múltiplos altares da modernidade” (Ed. Vozes, 2017), “O fundamentalismo é um esforço para restaurar a certeza ameaçada”. Reacionário ou progressista, traz a promessa de um: “Junte-se a nós, e você terá a certeza que você há muito deseja. Você compreenderá o mundo, saberá quem você é e saberá como viver” (Berger, 2017, p. 34).
O fundamentalismo, no entanto, esconde um sujeito frágil (seja em sua fé, em sua ideologia ou em seus valores humanos e políticos) que vai em busca de uma referência, de uma identidade pessoal, grupal e, ou, institucional, com o desejo de acalmar a consciência, as emoções e de sair do caos da angústia causada pela fragilidade e inconsistência da vida, não percebendo que, ao apegar-se incondicionalmente a uma verdade, seja ela qual for, está lançando as bases para um mundo violento, fragmentado, pobre em esperança, fechado ao diálogo e à construção conjunta, incapaz de ver no outro seu próximo.
Na atual conjuntura, de maneira especial, é preciso que todos estejam atentos para não lançar mão de ideias prontas e fechadas como saída da angústia da crise humanitária em que vivemos, mas busquem coragem para manter mente e coração abertos para a crítica e a autocrítica ante as lições que este tempo carrega. E assim, mais maduros na fé e nos valores humanos, possam contribuir para a construção de uma sociedade mais saudável.
Ir. Juliana de Andrade:
Formada em Ciência das Religiões, estuda Psicologia e é Coordenadora da Animação Vocacional da Província SSpS Brasil Norte