O Natal na espiritualidade de Santo Arnaldo Janssen

“E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória, glória que recebe do Pai como filho unigênito, cheio de graça e de verdade” (João 1,14). Esse é um trecho do famoso Prólogo do Evangelho de São João. Sempre que podia, Geraldo Janssen, o pai de Santo Arnaldo, recitava a passagem completa (João 1,1-18) para a família. Certamente, o pequeno Arnaldo e os outros irmãos ouviram-na muitas vezes. O gesto paterno ficou marcado não apenas na memória, mas no coração daquele que, mais tarde, geraria uma das maiores famílias missionárias da Igreja.

A Palavra que se fez carne (isto é, ser humano) e veio morar no meio de nós alicerçou a espiritualidade de Santo Arnaldo. Hoje, já no século XXI, olhando para aquela era, pode-se confirmar que o Fundador estava muito além de seu tempo. Ele já tinha o olhar centrado na espiritualidade trinitária, aspecto que a Igreja recuperou com mais ênfase décadas mais tarde, no Concílio Vaticano II (1962-1965). Interessante observar que o nome da primeira congregação que ele instituiu, a Sociedade do Verbo Divino (1875), recorda justamente o início do Prólogo: “No princípio, era a Palavra [Verbo], e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus” (João 1,1). 

Para celebrar a vinda do Verbo Divino a este mundo, o Natal do Senhor foi festejado com muito carinho por Santo Arnaldo e seus primeiros colaboradores e colaboradoras, entre eles as bem-aventuradas Maria Helena e Josefa. São célebres os ritos que ele cultivava nestes dias especiais, e essa terna herança vale a pena ser conhecida. A seguir, a irmã Maria Inês Aragão, SSpS, apresenta mais sobre esse tesouro espiritual deixado pelo Pai da Família Arnaldina.

140 anos da solene procissão do presépio

Neste ano, na véspera de Natal, completam-se 140 anos que Santo Arnaldo introduziu a solene procissão do presépio antes da Vigília de Natal. De fato, foi em Steyl (Holanda), no dia 24 de dezembro de 1883, que foi estabelecida solenemente essa procissão festiva para promover a devoção ao Verbo Divino e penetrarmos profundamente no mistério da Encarnação. 

Ainda hoje, em algumas de nossas comunidades, cultivamos esse costume, lembrando essa vivência profundamente mística de nosso Fundador que marcou toda sua vida interior. Por meio dela, ele entendeu o sentido do Natal: é Deus-Trindade que, para nos salvar, se encarna e se faz criança. E somente podemos nos identificar com ele e segui-lo se nós também fizermos o mesmo movimento, tornando-nos pequenos, como uma criança. O maior desejo de Santo Arnaldo era que todas as pessoas pudessem reconhecer e partilhar esse mistério. Inflamado pelo amor encarnado de Deus, queria inflamar a todos. 

Conforme o testemunho de vários confrades da geração fundante, era muito comovente ver Santo Arnaldo se inclinar com um amor cheio de ternura sobre a Criança Divina, proclamando “Verbum caro factum est” (“O Verbo se fez carne”). Na Santa Criança, ele adorava a bondade e a benevolência de Deus Uno e Trino que vem até nós, não por causa das coisas boas e justas que realizamos, mas simplesmente por graça e misericórdia, para nos religar e unir novamente a ele. 

Com toda ternura, Arnaldo pegava em seus braços o Menino e falava-lhe em linguagem de criança. Em seguida, proclamava uma oração que ele mesmo havia composto, anunciando alegremente o mistério do Natal, e prosseguia com várias orações de ação de graças, adoração e de petição, sobretudo pelos diversos campos missionários e toda a missão da Igreja. Num dado momento, erguia Jesus-Menino, como Simeão o fez no Templo, e abençoava a comunidade, dando início, logo depois, à solene procissão pelos corredores principais da casa, iluminados com lampiões chineses. E todos caminhavam entoando cânticos até a igreja onde seria celebrada a “Missa do Galo”. 

A imagem desse Menino Jesus foi preservada. Hoje ela se encontra na capela onde outrora foi o quarto de Santo Arnaldo, em Steyl.