A tarde, hoje, está ensolarada, e eu posso sentir o doce som da natureza… Em um banco da Praça Silva Romero, um casal de idosos me fez lembrar meus avós, em especial minha avó.
Aos meus 6 anos, fizemos uma viagem para Fortaleza. No hotel em que nos hospedamos, havia recreação e, em uma das noites, o tema foi “canibalismo”. O medo e o desespero me fizeram ir ao chão, e minha avó saiu em disparada quando me ouviu chorar, pronta para me socorrer e acalentar-me em seus braços. A sensação de ser protegida era tamanha que não participei mais de nenhuma atividade. Eu queria apenas desfrutar da companhia e da proteção de minha avó, que era uma mulher firme, forte e rígida, mas, internamente, doce e terna.
Hoje, busco em seus olhos a minha avó de outros tempos, mas somente encontro um vazio muito grande. Há dias em que ela não me reconhece. A nossa relação tornou-se distante e triste. É como se eu a tivesse perdido há muito tempo. O que restou de nosso relacionamento são as lembranças passadas, felizes, os dias perdidos que não voltam mais.
Não sei ao certo o que é depressão. Se me pedissem que traduzisse em uma só palavra, eu diria que é um ladrão de vida humana, que nos transforma em nada menos do que seres de olhar distante, apáticos, sem afetividade ou vontade de viver. Algo que nos torna fracos, sem perspectivas, deixando apenas a lembrança de quem fomos um dia.
Essa doença tirou minha avó, com vida, de mim. Sonho com o dia em que ela vai se despertar dessa doença, como se estivesse passando apenas por um pesadelo horrível, e que voltaremos a tê-la conosco, como antes, uma pessoa importante, meu anjo protetor, que fazia o melhor bolo de fubá que eu já comi em toda a minha vida. Por enquanto, ela sequer se lembra da receita.
Isabela Victória de Siqueira Sereno, 9º ano B
Colégio Espírito Santo, São Paulo-SP
Disponível em: <https://amenteemaravilhosa.com.br/cuidado-metaforas-explicar-a-depressao/>. Acesso em: 2 mar. 2018.