Todos conhecem pés de bambu. Os bambus nunca vivem sozinhos. Se você planta uma muda só, logo, logo, ela cria outros rebentos e, aos poucos, forma uma touceira. Nas touceiras, existem hastes de diferentes tamanhos, espessuras, idades, e todas, segundo suas proporções, balançam ao sabor do vento, com leveza ou com grunhidos quando uma toca na outra, mas sempre na direção do céu. Há hastes que crescem, engrossam mais que outras, mas todas encontram seu espaço vital, desfrutam de claridade suficiente para se desenvolver e, conforme crescem, naturalmente vão soltando os revestimentos que envolvem seus gomos.
Com o passar do tempo, aqueles bambus que nasceram primeiro vão secando e dando lugar aos outros que vão nascendo, e assim o bambueiro vai se eternizando. Eles sempre se renovam, o verde está sempre presente, e é bonito olhar os bambus. Embora eles se tornem muitos, todos convivem bem, apesar do vento que causa, de vez em quando, certa choradeira entre eles. Mas, passada a ventania, eles voltam à sua paz e seguem seu ciclo vital.
Há, porém, um segredo que os mantém vivos, e ele se esconde sob suas raízes. Dizem que os bambus, quando nascem espontaneamente, nascem em solos onde há água em suas subjacências. Eles precisam muito dela para viver, e isso é um segredo que eles passam de geração em geração. Longe da água, vivem menos tempo e não ficam tão viçosos. Perto dela, vingam melhor e preservam suas origens, e sempre crescem em direção ao céu, embora olhando para a terra.
Fico imaginando que os bambus, em muitos aspectos, assemelham-se aos humanos. Como eles, nós também não vivemos sós. Aliás, se alguém quiser viver sozinho, logo, logo se estafa, deprime-se, fica triste e adoece. Porque nós, humanos, somos feitos para viver juntos, como famílias, como grupos, como sociedade. Como os bambueiros, precisamos aceitar a convivência entre tamanhos e idades diferentes, e, como eles, também nós sofremos, de vez em quando, atritos e revezes causados pelos contratempos. E, nesse ponto, temos algo a mais a aprender dos bambus.
Entre nós, humanos, temos dificuldade de lidar com os conflitos quando as ventanias da vida fazem balançar o equilíbrio que existia. Os bambus retornam à paz tão logo o vento cessa; nós, humanos, costumamos guardar rancores e falar mal uns dos outros, criando um ambiente em que a paz desaparece. Somos muito ambiciosos, queremos as coisas só para nós e aí criamos individualismo e subjetivismo danados.
É difícil viver sem paz. A vida se torna pesada e fechada, os horizontes ficam estreitos, e cada um, em seu mundinho, fica reclamando de suas insatisfações. Nos bambueiros, é normal que cada um ceda espaço para o outro e perca um pouco de suas proteções. Suas cascas caem à proporção que eles vão ficando maiores e, sem vergonha, mostram seus meses e seus anos, vivendo intensamente seus dias. Nós, humanos, queremos conservar nossas aparências e resistimos em nos desfazer daquilo que não serve mais, perder nossas cascas, nossas proteções infantis e, por isso, nem sempre crescemos para a maturidade como poderíamos, e os horizontes ficam menores.
Os bambus são espertos. Eles nunca se afastam das fontes de água que os saciam. Nós, humanos, às vezes, somos tão autossuficientes que achamos que podemos viver sem a força que sustenta a vida, que não está dentro de nós, mas precisamos acolhê-la para que se torne nossa força interna e nos faça crescer em transcendência, como os bambus que crescem em direção ao céu, alimentados pelo segredo da vida que está em suas raízes. A propósito, qual é o segredo de sua vida? Que tipo de fonte alimenta a sua vida? Se já sabe, não se afaste dela, porque corre o risco da sua própria ruína. Se não a descobriu ainda, investigue. Sem ela, você não tem futuro nem eternidade. Olhe o segredo do bambueiro.
Pe. Deolino Pedro Baldissera, SDS
Padre salvatoriano há 43 anos, professor e psicólogo pela Universidade Gregoriana de Roma, com mestrado em Psicologia e doutorado em Ciências da Religião. Atualmente é pároco em Videira-SC.