Sob esse lema, a Assembleia-Geral das Nações Unidas elegeu 2025 como o Ano Internacional do Cooperativismo, dando ênfase e, ao mesmo tempo, reconhecendo o impacto significativo que esse modelo de negócios exerce em muitos dos países que fazem parte dessa instituição.
Mas o que é o cooperativismo e como ele começou? E o que torna essa modalidade de associação tão diferenciada para que produza tamanho impacto social ao redor do planeta?
Antes de tudo, é importante reconhecer que a cooperação é um comportamento inerente ao ser humano. A visão da vida em comunidade e do bem comum em primeiro lugar é um sentimento encontrado no âmago de todo ser. A cooperação se contrapõe ao individualismo, é algo natural de nossa espécie. Mas, ao longo do tempo, conforme os agrupamentos humanos se segregaram, a noção do todo foi sendo substituída pela noção do grupo e, de forma crescente, a cooperação cedeu lugar à competição e a todos os modelos econômicos que bem a representam.
Foi justamente em um contexto de exclusão econômica e social que o movimento cooperativista teve seu início. Em 1844, na pequena Rochdale, no interior da Inglaterra, 28 trabalhadores (27 homens e 1 mulher) se uniram para conseguir acesso a alimentos e gêneros de primeira necessidade, até então inacessíveis a eles; estava ali criada a primeira cooperativa de alimentos de que se tem registro.
O modelo de associação criado por aquele pequeno grupo não tardou a se espalhar pelo mundo. No Brasil, o registro de abertura da primeira cooperativa é de 1889 (apenas 45 anos depois de Rochdale), quando foi criada a Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, em Minas Gerais.
Hoje, o Brasil conta com mais de 4 mil cooperativas, distribuídas entre os sete ramos de atuação definidos: agropecuário, consumo, crédito, infraestrutura, saúde, trabalho, produção de bens e serviços, transporte. Se prestarmos atenção à nossa volta, podemos reconhecer, nas comunidades onde vivemos, a presença significativa de inúmeras cooperativas, muitas delas se entrelaçando para ampliar sua ação e impacto.
Baseada em ideais simples e, ao mesmo tempo, profundamente humanos, o cooperativismo tem em seus pilares sete princípios:
- Adesão livre e voluntária, que demonstra a total liberdade associativa em busca do benefício comum a todos os cooperados;
- Gestão democrática, pela qual todos os cooperados são chamados a participar e definir os rumos da cooperativa;
- Participação econômica, uma vez que todos os cooperados têm efetiva participação tanto na capitalização da cooperativa quanto no recebimento da divisão dos resultados;
- Autonomia e independência, não estando a cooperativa subordinada ou mesmo vinculada a nenhuma organização que interfira em suas atividades e determinações;
- Educação, formação e informação, que devem ser difundidas por todos os cooperados, para que se qualifiquem, se informem, se atualizem e estejam preparados para os desafios da vida;
- Intercooperação, percebendo a imensa rede constituída pelas diversas cooperativas presentes nas sete áreas definidas para sua atuação;
- Interesse pela comunidade, ao assumir seu compromisso pelo coletivo, pela sustentabilidade das ações, relações e para com o planeta, ou seja, ao expressar o seu compromisso em prol do bem comum.
A pujança do movimento cooperativista é reconhecida por suas contribuições para a sustentabilidade, para a inclusão social, para a redução da pobreza, para a educação e formação prática para o trabalho, para o fornecimento de recursos financeiros a custos inferiores aos praticados pelo mercado, seja para novos empreendimentos, seja para a aquisição de moradias, veículos e equipamentos, entre diversos outros.
Ao ser escolhido pela ONU como lema de 2025 “Cooperativas constroem um mundo melhor”, o modelo econômico inclusivo, democrático, sustentável e inovador das cooperativas poderá alcançar um novo e importante patamar na história recente da humanidade, neste momento de desafios gigantescos com os quais nossa humanidade se defronta.
Que possamos todos ser elementos de divulgação e valorização das cooperativas em nossos ambientes de trabalho, estudo e relações sociais. O mundo precisa de soluções novas para os novos desafios que enfrenta.
Economista, mestre em Educação Empreendedora e Inovação, professor de Educação Financeira e Empreendedorismo no Colégio Sagrado Coração de Jesus, em Belo Horizonte-MG.