Os gritos do Brasil: do Ipiranga à Floresta Amazônica

Ouçamos o grito da justiça, da igualdade, da solidariedade, da paz pulsando milhões de corações brasileiros. Que sejam ouvidas as vozes de mulheres violentadas, jovens dependentes, crianças desnutridas, pessoas idosas indefesas, dos povos originários, das matas, de todo o território brasileiro.

No poema “Ela, mártir, geme”, criado em 1986, por ocasião de um concurso em um bairro de Santo Amaro (São Paulo-SP), dei voz à Mãe Terra:

Como todo ser vivo

Ela sente… 

Como toda criatura, 

Ela consente que…

A abracem, 

A amem, 

A fecundem, 

a reproduzam, 

Cresçam e vivam. 

Na profundeza do mistério da vida, 

Pois ela está sempre pronta.

Deixa-se “abrir” pelo coração; 

Deixa-se “acariciar” pela mão;

Deixa-se “amassar” pelos pés; 

Deixa-se “dominiar” pela cabeça.

É cercada de tanta atenção 

Que, com o tempo, começa a ambição.

Uns a procuram por causa do pão; 

Outros fogem por causa da exploração.

Seu verde perde o brilho… 

Seu seio racha e sangra, 

Começa o delírio.

Ela geme de dor; 

Banhada, treme, perde a cor.

Parte-se sem querer todo o seu ser. 

Muitos caem no seu grito:

“Sou criatura do Criador! 

Tenho direito ao amor!

Faço parte da natureza; 

Por isso, tenho a certeza

De que mulheres e homens 

Verão surgir uma nova era 

Porque eu sou a TERRA”.

“Ela, mártir, geme” demonstra o grito de nosso território brasileiro que tem passado por várias dores sociais. O grito pode ser de choro de uma criança com fome, o grito pode ser de abandono, o grito pode ser de violência física, o grito pode ser visual, ao percebermos tantas pessoas em situação de vulnerabilidade nas ruas, nas estradas, ao percebermos refugiados em busca de abrigo, o grito de animais machucados, o grito da floresta, das matas estalando pelo fogo, pelas queimadas em consequência de desmatamento, causando mais problemas para as mudanças climáticas. 

Nossos bosques não são os mesmos há muito tempo. Muitos lugares foram substituídos por condomínios fechados, shopping ou mercado tanto rural quanto urbano. Etimologicamente “grito” vem do latim “critare”, “quirito”, que significa chamar, invocar, gritar por socorro, protestar.

Nesse sentido, o grito do Ipiranga, segundo a História do Brasil, dado pelo imperador Dom Pedro I, em 7 de setembro de 1822, foi pela independência do Brasil de Portugal. O Grito dos Excluídos deste ano de 2024 tem como tema: “Vida em primeiro lugar! Todas as formas de vida importam. Mas quem importa?”.

Essa pergunta deve ser respondida por todos nós. Nossa responsabilidade de lançar as sementes nas terras por onde passarmos é uma contribuição. As autoridades devem ouvir, além de ver os problemas. Ainda somos dependentes da corrupção, da desigualdade, da injustiça social, do descaso político com os problemas das minorias étnicas. A discriminação homofóbica, racial, religiosa, xenofóbica, de gênero, enfim, muita violência presente na vida de muitos brasileiros.

Neste ano de eleições, em todos os mais de 5 mil municípios do Brasil, é uma oportunidade para o povo ser responsável para escolher representantes (no caso, vereadoras e vereadores) justos, éticos, conscientes de seu papel para o bem comum. Assim, garantir a democracia brasileira e conquistar nossa independência a cada dia.

Votar conscientemente é dar um grito democrático, para se libertar de amarras que, há séculos, mantêm-se na sociedade brasileira. O grito, por meio do voto consciente e responsável, mostra a força que o povo tem. Por isso, conheça o candidato, de qual partido é, seu histórico pelo povo. Que nosso voto seja um grito de liberdade cívica.

Nosso maior empreendedor, o Criador, fez toda a natureza para a sustentabilidade. Todavia, desde muito tempo, a Terra, principalmente o território brasileiro, está sendo violentado. Os povos originários que a respeitam são sempre atacados por grupos que querem dominar o mercado, invadindo terras indígenas ou quilombolas e espaços públicos. Que este artigo seja uma forma de grito pela nossa pátria, Brasil.

 

Maria Terezinha Corrêa

Mestranda em Filosofia, antropóloga, especialista em Ensino de Filosofia, graduada em Filosofia e Pedagogia, filiada à ABA, Apeoesp, SBPC, Sintram e Aproffib. É agente da Pastoral da Pessoa Idosa e professora de Filosofia na Rede Pública de Ensino da Prefeitura de São José-SC. 

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