Palavras para não romantizar…

Eu acredito na força e no poder das palavras.

Neste texto, não quero desmerecer a intensidade de palavras, apenas acentuar a banalização, seus usos e desusos no cotidiano.

Algumas expressões estão me doendo os ouvidos quando escuto, a depender do contexto.

“Birra”, “sustentabilidade”, “guerreira”, “cristão”, “empreendedorismo”, “resiliência” e até mesmo a expressão “mi-mi-mi” vêm me causando estranheza, entre outras tantas palavras.

A cena pelas ruas até parece “birra”, mas pode ser um jeito que a criança encontrou de dizer que está esgotada, de mau humor, cansada. Birra é uma expressão cujo uso merece considerar mais nuances e inter-relações.

A “sustentabilidade”, descrita nos financiamentos e ações de investimento social de empresas destruidoras do meio ambiente, a que se refere de fato?

Ah, o “empreendedorismo”! Tem seu valor transformador sim. Mas também, além de carregar a equivocada culpa de ser pobre porque quer, de não ter tido formação nem oportunidade, carrega agora a culpa de não ser empreendedor, empreendedora no meio do caos e numa sociedade desigual.

Sempre haverá aquela que mais assusta. Para mim, “guerreira”, “guerreiro”. Podemos estar, sim, diante de uma pessoa que se agigantou de fato e com uma rede de apoiadores diante de sua guerra particular e pessoal. Mas podemos estar diante de alguém, geralmente uma mulher, que está num processo de esgotamento, precisando de ajuda, desdobrando-se até não conseguir mais…

E a tal da “resiliência”? A resistência e a sobrevivência humana ao imponderável e às adversidades podem conter danos evitáveis. Importante sim. Nobre. Mas do que estaríamos exatamente falando? O que deixamos de prevenir?

Sobre o “mi-mi-mi”, nem sei o que dizer. Já disseram, não sei a fonte, e vou repetir aqui: “mi-mi-mi” é a dor do outro e que não dói em mim.

“Cristão”, então, ganhou contornos de banalidade… Impossível se autoproclamar cristão e não comungar valores evangélicos, a sede de justiça social e aliança com os pequenos.

Não são só palavras ao vento.

É preciso escutar e contextualizar.

Para me ajudar a sair dessa reflexão que iniciei e que não tem fim, faço memória às palavras de Paulo Freire: “É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática”.

Eu acredito na força e no poder das palavras.

Maria José Brant (Deka), assistente social, analista de políticas públicas na Prefeitura de Belo Horizonte-MG, mestra em Gestão Social, mosaicista nas horas vagas.

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