Pentecostes: o Espírito nos leva a servir

Neste domingo, 23 de maio, a Igreja celebra a grande solenidade de Pentecostes. É quando os cristãos comemoram a vinda do Espírito Santo sobre os discípulos de Jesus. Festejamos o “sopro”, a “respiração”, a “brisa”, o “vento” criador de Deus a vivificar a Igreja.

A liturgia nessa data é riquíssima, com uma celebração própria para a vigília (sábado) e outra para o domingo. As comunidades cristãs orientais, sobretudo, são muito esmeradas quando se trata do Espírito Santo. Quanto à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, o tesouro místico, litúrgico e teológico dessas tradições é incalculável. Nós, cristãos ocidentais, temos muito a aprender com esses nossos irmãos e irmãs, mas isso não quer dizer que, deste lado do mundo, também não existam riquezas.

Estive meditando um pouco sobre o nome que Santo Arnaldo Janssen deu ao primeiro ramo feminino de sua obra evangelizadora: a Congregação das Missionárias Servas do Espírito Santo. Dias atrás, numa formação para os futuros diáconos permanentes da Arquidiocese de Belo Horizonte-MG, tratei sobre o tema “espiritualidade”. Em um resumo bem agudo, destaquei que esse dom é, de fato, vivido na prática; caso contrário, vira espiritualismo.

Uma “pessoa espiritualizada” preocupa-se (e procura agir) diante de uma floresta que arde, água e ar poluídos, com o fato de haver pessoas sem um teto, sem uma terra, sem emprego, sem acesso à saúde, à educação, à segurança. Afinal, “Todas as vezes que fizestes isso a um destes mínimos que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mateus 25,40b).

Nessa linha, o servir à Criação, algo essencial para os seguidores de Jesus, é impressionante o horizonte que o Fundador da Família Arnaldina propõe para suas filhas espirituais: irmãs evangelizadoras e servas do Espírito Criador, do Espírito Consolador, do Espírito da Vida.

Para Santo Arnaldo, a maior e constante adoração ao Senhor passaria pelo anúncio de Jesus, a Boa Notícia, e pelo serviço principalmente aos mais fragilizados, pois cada ser traz a essência do sagrado, o Espírito que Deus nos soprou nas narinas (cf. Gênesis 2,7). Em síntese: ser serva, servo do Espírito Santo é estar à disposição do próximo, e esse propósito vale para todos os batizados e batizadas, de qualquer tempo e lugar.

Viver na espiritualidade de Deus é servir, e bem. Ser discípulas-missionárias, discípulos-missionários, servindo ao Espírito Santo, é, para mim, uma indicação muitíssimo inspirada de ter o coração na Trindade e os pés bem no chão.

Não é muito fácil falar sobre essa Brisa Santa. Creio que Deus nos faz mesmo é um convite à experiência de nos deixar levar por esse subversivo “vento que sopra aonde quer” (João 3,8a). Assim, ouso aqui partilhar uma breve oração, vinda do que sinto (e não penso) sobre o Espírito Criador. Permita-se inspirar por aquele que renova a face da Terra e componha a sua prece também.

Se temos o dia, Senhor, por vosso Espírito, temos o calor e o Sol.
Se temos a noite, por vosso Espírito, Senhor, temos a luz a nos guiar na escuridão.
Se temos a chuva, por vosso Espírito, a terra é ventre fecundo.
Se temos a semente, por vosso Espírito, temos a árvore e os abundantes frutos.
Se temos os livros, por vosso Espírito, temos o mais profundo instrutor.
Se temos inteligência, por vosso Espírito, Senhor, recebemos o dom da preciosa sabedoria.
Se temos forças, por vosso Espírito, nosso ânimo é inspirado para o bem.
Se temos o cansaço, por vosso Espírito, temos o conforto do repouso e da serenidade.
Se temos o presente da água, por vosso Espírito, temos o mergulho em Cristo.
Se temos a vida, por vosso Espírito, nós a temos em abundância.
Se temos fé, por vosso Espírito temos a chama da verdadeira piedade.
Se temos as liturgias, por vosso Espírito, celebramos o Mistério e o divino abraço.
Se temos a morte e as cruzes, por vosso Espírito, temos a ressurreição e a vida.
Se temos o Espírito, temos a fé, a esperança, o amor.
Vinde, ó divina Brisa!
Vinde, ó Vento de santa rebeldia!
Vinde, ó Sopro de vida!
Vinde, ó Espírito Santo! Amém.

Alessandro Faleiro Marques
Diácono permanente na Arquidiocese de Belo Horizonte, professor, editor de textos para as irmãs missionárias servas do Espírito Santo.

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