“Voltando-se para eles e vendo que o estavam seguindo, Jesus perguntou: o que estais buscando?”
Nem todas as perguntas são iguais. Às vezes surge uma pergunta, algo nos interessa e logo queremos saber; basta uma simples busca rápida para saciar nossa curiosidade; poucas curiosidades permanecem em nossa mente, pois logo são satisfeitas com muitas informações que não tem nenhuma ressonância em nossas vidas.
Tal pergunta superficial revela um perigo: pelo fato de serem respondidas em questão de segundos, nossos desejos mais profundos se acostumam a se mover nessa velocidade.
É preciso situar-nos diante de outro tipo de perguntas, as mais decisivas e essenciais, aquelas que não podem ser respondidas com um “click” e nos movem a uma tomada de decisão. São perguntas que exigem tempo, um ritmo diferente e têm a ver com o núcleo escondido do interior de nossas vidas: que quero fazer de minha vida? Que estou buscando? Por que há algo que sempre me remorde por dentro, dizendo que eu poderia investir mais e melhor na minha missão? Que desejos me mobilizam, dando calor e sabor à minha vida?
Estas perguntas são mais difíceis de serem respondidas. Às vezes, ficam ali, em um rincão de nossa vida, mas enquanto permanecem vivas, são como umas brasas que voltam a se acender cada vez que a vida as sopra. Tais perguntas nos fazem mais humanos e são tão importantes como o ar que respiramos.
Por isso, continuamente deveríamos nos perguntar: sinto vivas em mim as perguntas radicais?
É neste nível que se situa a pergunta de Jesus aos dois discípulos de João. O Mestre propõe a pergunta fundamental, “e vós, o que estais buscando?”; uma pergunta que exige deles um exame sério, que tomem consciência do que pretendem, que explicitem as reais motivações da busca por Ele.
A pergunta de Jesus é desafiadora, e não simples curiosidade e inquietação, e se dirige a todos nós. Cada um tem de dar sua resposta. Ela exige uma tomada de posição, um ato de fé. Por isso, o processo da busca dos dois discípulos se amplia, despertando nos outros igual movimento de busca; um encontro não termina em Quem encontra: a partilha da descoberta faz brotar uma “reação em cadeia”.
Porque buscam, os dois discípulos movem os outros à busca.
“O Evangelho é um itinerário para abrir com profundidade a interioridade humana” (R. Belloso), e nele vemos como Jesus provoca nas pessoas o retorno ao interior; sua pedagogia é a da pergunta que desvela e move a pessoa a entrar no interior de si mesma para encontrar-se com a fonte que mana e corre.
Quando os discípulos de João descobrem a Jesus, este, em vez de dar uma explicação ou uma exortação, lhes dirige uma pergunta que os remete ao centro de seu coração, àquilo que os move: “que buscais?”.
O evangelho de João apresenta diferentes perguntas: no diálogo com a samaritana e com Nicodemos, o Mestre os conduz ao profundo deles mesmos; com Maria Madalena, Ele se aproxima como desconhecido e faz a mesma pergunta dirigida aos primeiros discípulos: “Mulher, que buscas?”; com Simão Pedro, após a ressurreição, por três vezes lhe pergunta sobre o amor.
Podemos então afirmar que a busca de Deus e o encontro com Ele, a partir de Sua iniciativa, coincidem com a busca e o encontro de nós mesmos, de modo que buscar a Deus é buscar-nos a nós mesmos, na nossa própria interioridade, onde o Senhor nos habita e nos move.
Encantam-nos as pessoas que têm mais perguntas que respostas. Aquelas que se apresentam com muitas respostas e poucas perguntas nos provocam tédio, nos cansam e acabam provocando afastamento. São encontradas em todos os lugares: nas igrejas, nos partidos políticos, no trabalho, nos meios de comunicação, nas redes sociais… Felizmente, também encontramos, em todos os lugares, muitas pessoas que têm mais perguntas que respostas. Embora tenham visões e crenças diferentes, nos sentimos em profunda comunhão com elas; com suas perguntas, elas nos provocam, nos enriquecem, mobilizam nossos melhores recursos e ativam a criatividade; essas pessoas nos ajudam a buscar, nos fazem perguntas novas que nos movem a sair de nós mesmos. Com elas podemos ver a realidade de maneira diferente, sob outra perspectiva. Suas perguntas despertam em nós outras perguntas e assim nossa vida entra em outro movimento. As perguntas movimentam, as respostas paralisam.
Alguém já afirmou que as perguntas têm uma força que não encontramos nas respostas. Só o fato de nos perguntar ou ouvir alguém que nos pergunta pulsa em nós uma força, uma curiosidade que não se apaga com uma simples resposta. Perguntar-se na vida é o que nos mantém em busca. Como são nossas perguntas?
Deveríamos agradecer por tantas perguntas que nos foram feitas. Em um diálogo, as perguntas são a ponte entre as vozes, a confluência de corações, a faísca de luz partilhada. Todas e cada uma delas nos fizeram crescer, mesmo aquela mais trivial. Porque cada pergunta vem carregada de matizes: umas de carinho, outras de atenção ou de interesse, e inclusive, algumas de desafio. Umas foram respondidas, outras ainda não soubemos respondê-las, talvez nunca saibamos respondê-las…
Quantas perguntas deixamos de fazer com frequência! A pergunta verdadeira tem sempre o aroma da humildade: é o reconhecimento de nossa ignorância e o da capacidade de nosso irmão para nos ajudar. A pergunta é uma frase não concluída, um verso que busca palavras de outro para dar cumprimento à sua beleza e à sua mensagem. A pergunta tem a cor do respeito infinito pela liberdade do outro.
Jesus se revelou como um homem das perguntas mobilizadoras. Há uma infinidade de vezes que Jesus se aproxima das pessoas e as interroga. Desde o “que buscais?” inicial em João, à tríplice interpelação a Pedro – “tu me amas?” -, ou o apelo ao cego – “que queres que eu te faça? -, ou a delicadeza com o cego na piscina de Betesda – “queres ficar curado?”.
Aquele que é Verdade, Caminho e Vida também revela sua identidade através de perguntas que despertam o melhor que há em cada pessoa.
Não é fácil responder à pergunta simples, direta, fundamental, a partir do interior de uma cultura “fechada” como a nossa, que se revela como “cultura da superficialidade”, onde a preocupação está centrada só com as aparências, com a vaidade e o prestígio… Que é o que buscamos exatamente?
Para alguns, a vida é um grande supermercado e o único que lhes interessa é adquirir coisas com os quais poder consolar um pouco sua existência. Outros buscam escapar da enfermidade, da solidão, da tristeza, dos conflitos e do medo. Mas, escapar para onde? Para quem?
Outros já não buscam mais; o que querem é que lhes deixem sozinhos: esquecer os outros e ser esquecidos por todos. Não se preocupam com ninguém e que ninguém se preocupe com eles.
A maioria busca simplesmente cobrir suas necessidades diárias e continuar lutando por ver realizados seus pequenos desejos. Mas, mesmo que todos eles se realizem, ficaria seu coração insatisfeito. Não apaziguaria sua sede de consolo, libertação, felicidade plena…
As verdadeiras perguntas estão empapadas de ternura e delicadeza. É impossível o diálogo sem perguntas; é impossível que uma criança fale com sua mãe ou pai sem perguntas, nem um amigo com outro amigo, nem um esposo com sua esposa. Não é possível o amor sem perguntas. Não é possível a oração sem perguntas. Chegará o “Dia do Senhor”, o dia da Grande Resposta. Mas, até lá, as perguntas farão parte de nosso viver, farão emergir o mais verdadeiro de nosso ser, darão sabor e calor ao nosso peregrinar.
Vive agora as perguntas. Talvez assim, pouco a pouco, sem te dar conta, possas algum dia viver as respostas” (Rainer Maria Rilke).
Texto bíblico: Jo 1,35-42
Na oração: ter os olhos centrados em Jesus, deixando-se impactar pelo Seu modo de viver, Sua paixão pelo Reino, Sua missão, Suas perguntas…
– O que você busca ao fixar os olhos em Jesus? O que sente ao perceber os olhos de Jesus fixos em você?
– Que consequências tem para sua vida o modo de ser, de viver e de fazer do próprio Jesus?
– Quais são seus sonhos? Que esperanças você carrega no coração?
– A que você se anima a gastar sua vida? Que medos o(a) paralisam?
Padre Adroaldo Palaoro, SJ
Diretor do Centro de Espiritualidade Inaciana (CEI).