Plantando esperança…

Estando em Boane, distrito próximo a Maputo, Moçambique, diariamente saio para dar uma caminhada para me exercitar e conhecer os arredores, observar os costumes, aprender com as pessoas. Num dia desses, vi uma senhora capinando próximo da rua em que passei. Tive vontade de parar e conversar, mas fui adiante. Depois de quase uma hora, voltei, e estava ela lá, na sua lida. Meio instintivamente, vi outras mulheres que vendiam bananas e frutas ali, sentadas à beira do caminho. 

Veio-me a ideia: vou comprar umas bananas e oferecer como “lanche” para a senhora que capinava. Cheguei perto dela com uma sacolinha e, para entabular conversa, disse-lhe, meio brincando, que lhe havia trazido um lanchinho, porque a vi trabalhando e já era próximo do meio-dia. Sorrindo, ela me olhou e aceitou, agradecida. 

Começamos a conversar. Contou-me que ela estava preparando o terreno para ali plantar quiabos e batatas. A terra estava ressecada por falta de chuva já havia alguns meses, desde abril, e estávamos em setembro. Ela me disse, contudo, que logo a chuva viria (em outubro). O sol era escaldante, mas ela não se importava de que não houvesse nenhuma nuvem no céu com promessas de chuva. Sua esperança era de que, no mês seguinte, ela viria e, quando chegasse, seu quiabo e suas batatas iriam florir e dar frutos. Ela iria colhê-los para vendê-los e comprar “um pãozinho”, como disse, símbolo dos alimentos de que precisava. Perguntei onde os venderia. Apontou-me para as senhoras que vendiam frutas ali perto, dando a entender que faria assim também com seus quiabos e batatas.

Mostrou-me, apontando com as mãos sua machamba (roça), indicando que era dali que tirava seu “pão”. Vinha capinando já havia dias, faltava só um pequeno pedaço para concluir e então voltar para sua casa, e esperar pela chuva de outubro. Estava toda suada e falava comigo, parecia feliz, alegre, sorria e olhava sua machamba. Olhares de esperança. Plantadora de esperança, colhedora de frutos do suor de seu rosto. 

Chamou-me atenção aquela senhora encurvada com uma enxada que cavava a terra, tirava a erva daninha e deixava o terreno pronto. A cada enxadada, era como se ela plantasse, antes das sementes, apenas esperança. Talvez sua experiência de outros anos já lhe desse a certeza de que, vindo a chuva, seu quiabo iria crescer e produzir, e ela teria a garantia de seu pão.

Conversei um pouco com ela. Tive vontade de tirar uma foto com o celular. Pedi se poderia. Ela disse que não. Respeitei. Fiquei pensando: tanta gente que gosta de ser fotografada, e ela não. Não perguntei os motivos, pensei que poderia ter se sentido encabulada ou que a fosse interpretar mal por ela estar capinando ou suada. Teria sido para mim uma bela lembrança de uma mulher simples, humilde, que estava plantando esperança. Se ela soubesse o quanto me fez bem falar com ela naquela simplicidade, vendo-a encurvada sobre sua enxada… Disse-me que tinha seis filhos. Não lhe perguntei, mas imagino que, com os quiabos que esperava colher, continuaria alimentando sua família. Ao me despedir, tive vontade de dar-lhe um abraço. Não o fiz, respeitando sua timidez e simplicidade. Agradeceu-me pelas poucas bananas que lhe dei. Mal sabia ela que agradecido estava eu por compartilhar tão bem sua esperança…

Ela continuou preparando sua machamba; eu, o meu caminho. Ela ficou, mas a levei no coração. Plantar esperança num mundo cheio de desesperança. Tomara que, logo que a chuva de outubro vier, irrigue bem, sua machamba lhe dê abundância de quiabos e batatas. 

No próximo ano, em Roma, haverá o Jubileu, e o tema motivador é “Peregrinos da esperança”. Veja só, que coincidência! Essa senhora já faz isso todos os anos, quando prepara a terra de sua machamba! Certamente ela não vai a Roma, mas participará intensamente, porque ela, melhor que ninguém, é um símbolo da esperança. É uma eterna peregrina na esperança. Levo comigo a lembrança da senhora que encontrei em Boane, autêntica plantadora de esperança.

 

Padre Deolino Pedro Baldissera, SDS

 

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